7 Obras Revolucionárias da Ficção Científica
O gênero ficção científica teve o seu reconhecimento popular na literatura nas revistas pulp fiction da década de 1920. Desde então muitas histórias foram parar em livros, no cinema e em séries de TV. Outras foram direto para as telonas e se juntaram àquelas que já estavam consagradas e fazendo parte da cultura pop.
Paulo Bocca Nunes
A ficção científica é um gênero literário que tem a capacidade de nos transportar para mundos imaginários e apresentar ideias revolucionárias que podem mudar a forma como vemos o mundo e a nós mesmos. Neste artigo, vamos explorar cinco obras que são consideradas revolucionárias no mundo da ficção científica e vamos comentar o que as levou a esse nível.
FRANKENSTEIN OU O NOVO PROMETEU, DE MARY SHELLEY
Frankenstein, de Mary Shelley, é considerado um marco na história da ficção científica. Publicado em 1818, esse romance gótico conta a história do jovem cientista Victor Frankenstein, que cria uma criatura monstruosa através da combinação de partes de corpos humanos mortos. Ao trazer à vida sua criação, Frankenstein se vê preso em uma espiral de eventos terríveis que o levam a questionar a si mesmo e à própria natureza da vida.
Uma das principais razões pelas quais Frankenstein é considerado uma obra revolucionária na ficção científica é porque Shelley foi uma das primeiras a usar a ciência para questionar a natureza humana. Em vez de se concentrar nas possibilidades tecnológicas futuras, ela explorou o que poderia acontecer se a ciência se desviasse dos valores humanos e éticos. Isso foi retomado nas obras seguintes desta lista e de outros autores.
Além disso, Shelley deu à sua criatura uma voz e uma personalidade distintas, permitindo que ela expressasse suas próprias ideias e sentimentos. Isso desafiou a noção de que a inteligência e a humanidade eram exclusividade dos seres humanos, abrindo caminho para a exploração de temas como a inteligência artificial e a vida sintética.
Frankenstein também é uma obra que coloca em questão a moralidade e a responsabilidade do cientista. Através da história de Victor Frankenstein, Shelley questiona a ética da criação de vida artificial e a responsabilidade dos cientistas em relação às suas criações. Isso torna a obra relevante até hoje, já que continuamos a lidar com questões éticas relacionadas à tecnologia e à ciência. Principalmente, depois dos primeiros experimentos de clonagem de seres vivos no final da década de 1990.
Shelley criou uma obra que explora temas complexos e universais, como a solidão, a busca pela identidade e a relação entre criador e criatura. O livro é tão relevante hoje quanto quando foi escrito, e sua influência pode ser vista em muitas obras da ficção científica moderna.
Seu legado duradouro é um testemunho do poder da ficção científica para desafiar nossas suposições e ampliar nossa compreensão do mundo. Tanto é a sua força na cultura pop, que desde a publicação do livro foram criadas várias adaptações para o cinema em que a criatura é o seu personagem principal. Também tiveram muitas outras obras nas mais diversas mídias que foram inspiradas no romance, inclusive desenho animado.
São tantas adaptações do livro que ficaria muito extenso falar aqui. Para saber mais, leia o nosso artigo Frankenstein: as faces do terror gótico, que está disponível aqui no site. Para ler o artigo clique AQUI.
20 MIL LÉGUAS SUBMARINAS, DE JÚLIO VERNE
Um dos grandes clássicos da ficção científica, de Júlio Verne, publicado pela primeira vez em 1870. A história acompanha o Capitão Nemo e sua tripulação a bordo do submarino Nautilus enquanto eles exploram o fundo do mar em busca de aventura e conhecimento. O livro é uma das primeiras obras a apresentar a ideia de um submarino como meio de transporte que é movido por um tipo de energia, que alguns analistas de literatura dizem ser a energia atômica. A obra também faz uma crítica à sociedade da época, com temas como a exploração dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente.
A obra de Júlio Verne foi revolucionária por sua visão futurista e por suas descrições científicas precisas. As viagens feitas pelo Nautilus e as explicações de Nemo aos seus passageiros eram extensas e tornavam a narrativa um pouco lenta. No entanto, Verne era conhecido por sua pesquisa meticulosa e suas obras eram baseadas em ciência real e tecnologia disponível na época. O romance 20 Mil Léguas Submarinas influenciou muitas outras obras de ficção científica que seguiram, especialmente na área de exploração submarina.
Há uma adaptação de 1916 do tempo do cinema mudo, preto e branco, com legendas em inglês e português sobrepostas. A clássica história de Júlio Verne em sua primeira versão filmada. Interessante por ser a primeira vez que cenas filmadas embaixo d’água foram exibidas no cinema. Os efeitos, é claro, são muito limitados, no entanto, isso é bastante compreensível para a realidade da época e ainda hoje agrega valor à obra.
Se você quiser assistir a esse filme, ele está disponível no Youtube e você pode acessá-lo clicando AQUI. Também há outro filme, de 1954, que segue bastante próximo do livro. Está disponível na plataforma da Disney+.
A GUERRA DOS MUNDOS, DE H.G. WELLS
Publicado em 1898, A Guerra dos Mundos, ed H. G. Wells, é um clássico da ficção científica que fala dos acontecimentos de uma invasão de seres marcianos na Inglaterra vitoriana. A história é contada por um narrador que é testemunha dos fatos, enquanto ele luta para sobreviver aos ataques dos marcianos, que possuem tecnologia avançada para a época e parecem invencíveis. O livro é conhecido por sua narrativa de suspense e tensão e por apresentar a ideia de vida extraterrestre de forma realista.
A Guerra dos Mundos foi uma obra revolucionária por sua abordagem científica e realista à ideia de vida alienígena, mas também por sua crítica social. H.G. Wells usou a história para abordar questões como o imperialismo britânico e as consequências da colonização de outros povos. A obra influenciou muitas outras obras de ficção científica que seguiram, especialmente na área de invasões alienígenas e encontros extraterrestres.
Há um extenso artigo nesse site, em que trato das várias adaptações da obra de H. G. Wells. Você pode ler o artigo clicando AQUI.
Se você quiser assistir ao filme de 1953, ele está disponível para alugar ou comprar na Amazon Prime, Apple TV ou na loja da Microsoft. Mas, se você quiser, pode procurar por outros sites que irá encontrar. O filme de 2005 também está disponível para alugar na Prime Vídeo, Apple TV, Microsoft Store e Google Play Movies.
FUNDAÇÃO, DE ISAAC ASIMOV
Fundação é o primeiro livro de uma série de três, escrita por Isaac Asimov. Inicialmente foi publicada em forma de contos nas revistas pulp fiction entre 1942 e 1944 para ser publicada em livro em 1951. Nos dois anos seguintes surgiram outros dois livros que completaram a primeira trilogia. Seguiram-se outros livros que narram os acontecimentos que antecedem a obra Fundação e outros que narram acontecimentos depois do terceiro livro da trilogia.
A história se passa em um futuro distante, onde um matemático chamado Hari Seldon prevê a queda do Império Galáctico e trabalha para salvar a humanidade da anarquia e do caos que se seguirão. A série é conhecida por suas ideias sobre a psicologia humana, a teoria dos sistemas e por sua abordagem complexa e profunda sobre a história da humanidade.
A série apresenta a ideia de que a história pode ser prevista e controlada por meio de leis matemáticas com base no número de pessoas e suas reações nas mudanças econômicas, políticas e econômicas. Isso pode parecer fantástico, mas também tem uma base na realidade, pois a teoria dos sistemas é uma disciplina científica bem estabelecida.
Além disso, a série aborda questões profundas sobre a natureza humana e como as pessoas respondem a eventos históricos, como a mudança social e política. Asimov apresenta a ideia de que, embora a história possa ser prevista, as ações individuais ainda podem ter um impacto significativo no resultado final. Fundação influenciou muitas outras obras de ficção científica que se seguiram, especialmente na área de ficção científica política.
Em 2021, a Apple TV produziu uma série baseada na obra de Asimov. Chama-se Foundation e em 2023 entrará na sua segunda temporada. A série fez muitas mudanças em relação ao livro, mas a essência da obra está presente.
2001 UMA ODISSEIA NO ESPAÇO, DE ARTHUR C. CLARKE
Uma das obras mais aclamadas e cultuadas do cinema e da ficção científica, 2001 Uma Odisseia no Espaço, escrito por Arthur C. Clarke em 1968, foi lançado primeiro em filme e depois em livro. A história foi baseada parcialmente no conto de Clarke “The Sentinel”. O livro, publicado depois do lançamento do filme, foi escrito quase simultaneamente com o próprio filme.
O filme é dividido em quatro partes:
1. A aurora do homem, seres primitivos que iniciam a sua jornada evolutiva encontram um monolito negro.
2. A base Lunar em que astronautas encontram um monolito negro que emite um forte sinal de rádio.
3. Missão Júpiter: dois astronautas e mais outros três em hibernação criogênica embarcam na nave Discovery One rumo ao planeta Júpiter. Durante a viagem, os dois astronautas entram em conflito com o supercomputador HAL 2000.
4. Júpiter e além no infinito: próximo de Júpiter o astronauta Bawman é o único sobrevivente da Discovery One e encontra outro monolito negro.
Entre os temas presentes no filme estão a evolução humana, o existencialismo, a tecnologia, a inteligência artificial e a vida extraterrestre. O filme é lembrado pela estética, realismo científico, pioneirismo em efeitos especiais, inovou em fotografia, movimentos de câmera. A trilha musical é memorável e foi usada de forma magistral. A valsa Danúbio Azul, de Johann Strauss II, foi usada na sequência em aparecem satélites e naves como se fossem bailarinos. O poema sinfônico Also sprach Zarathustra é usado nas sequências de evolução humana, como se combinasse um estado filosófico do ser humano em estágio inicial.
Além desses aspectos, o filme também aborda questões sobre a inteligência artificial. A partir de certo momento, os astronautas passam a desconfiar do computador HAL 2000 e decidem desligá-lo, mas a Inteligência Artificial se nega e resiste a isso, colocando a missão em risco.
No final, o filme traz uma série de sequências que levam o espectador a refletir sobre a natureza e origem não apenas do homem, mas da própria criação do Universo. A obra se constitui, portanto, em complexo jogo filosófico da existência humana e de seus ciclos de nascimento, vida e retorno.
SÉRIE “STAR TREK”
Star Trek é uma série de televisão criada por Gene Roddenberry que estreou em 1966. A série se passa no futuro, em um mundo onde a humanidade superou as diferenças raciais e culturais e se uniu para explorar o universo. A tripulação da nave USS Enterprise viaja por diferentes planetas e encontra novas formas de vida, enquanto lida com questões sociais e políticas. A série é conhecida por sua visão otimista do futuro e por sua abordagem humanista.
Star Trek é uma obra revolucionária também por sua abordagem progressista e inclusiva. A série apresentou personagens que eram mulheres, pessoas multirraciais e membros da comunidade LGBTQ+, em uma época em que a representação na mídia era escassa. Além disso, a série abordou temas importantes, como racismo, sexismo e conflitos políticos, em um contexto de ficção científica, o que permitiu que o público refletisse sobre esses assuntos de forma mais ampla.
A série também influenciou muitas outras obras de ficção científica que se seguiram, especialmente na área de ficção científica televisiva. A série gerou várias sequências e filmes, bem como uma legião de fãs dedicados em todo o mundo.
Várias plataformas estão disponibilizando tanto as séries antigas quanto as novas, os filmes originais e os derivados. Até o começo de 2023, podemos citar a Netflix, a Paramount, a Prime Vídeo e o Telecine.
FRANQUIA “STAR WARS”
A franquia Star Wars foi criada por George Lucas e estreou em 1977, com o filme Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança. A saga se passa em uma galáxia distante, onde uma guerra entre a Aliança Rebelde e o Império Galáctico é travada. A história segue personagens como Luke Skywalker, Leia Organa e Han Solo, enquanto eles lutam contra o tirânico Darth Vader e tentam salvar a galáxia da tirania.
Star Wars é uma obra revolucionária por sua abordagem ao gênero de ficção científica. O universo criado por Lucas é rico em detalhes e inclui uma ampla variedade de planetas, espécies alienígenas e tecnologia avançada. Além disso, a saga é conhecida por suas mensagens inspiradoras sobre a coragem, o heroísmo e a luta do bem contra o mal.
A franquia influenciou muitas outras obras de ficção científica que se seguiram, especialmente no cinema e gerou várias sequências e prequelas, bem como uma vasta gama de livros, quadrinhos, jogos e brinquedos. Também teve um impacto significativo na cultura popular, tornando-se um fenômeno global e um ícone da ficção científica.
Uma das maiores contribuições de Star Wars para a ficção científica foi sua abordagem ao mito do herói. Lucas baseou a história em mitos e lendas antigas, como a jornada do herói de Joseph Campbell. Isso tornou a saga atraente para um público amplo, pois a história ressoou com ideias universais sobre o bem contra o mal e a luta pelo poder.
Além disso, Star Wars apresentou inovações revolucionárias significativas em efeitos visuais e sonoros, que se tornaram uma marca registrada da franquia. A trilha sonora de John Williams se tornou icônica, assim como os designs dos personagens e das naves espaciais.
A plataforma da Disney+ disponibiliza todos os filmes da franqiua Star Wars, tanto os filmes originais quanto as prequelas e os filmes e séries derivadas.
CONCLUSÃO
Cada uma dessas obras teve o seu tempo, mas todas elas possuem os elementos para seguirem inseridas na cultura pop. Podemos observar pelos exemplos de Verne e Wells que tiveram suas obras publicadas no século XIX e até hoje são cultuadas e lidas.
Além do mais, cada uma delas tem um aspecto importante: cada uma delas, juntas, são a própria história da ficção científica. Os romances de Shelley, Verne e Wells acompanham os passos da tecnologia que evoluiu ao longo do século XIX. Asimov fez parte da geração científica que acompanhou o surgimento da energia atômica e foi uma das vozes mais inquietas que alertavam sobre o uso correto dos avanços científicos. Algo que os escritores do século XIX debatiam, sem ainda conhecer a energia atômica.
Nessa lista que apresentamos, 2001 Uma Odisseia no Espaço parece estar quase no meio como se fosse um marco em termos de produção, roteiro e abordagens de temas importantes que estão relacionados ao desenvolvimento científico. Tão importante quanto isso, foram as abordagens filosóficas apresentadas em forma de imagens, algo que trouxe mais impacto dos que se fossem palavras em um longo texto explicativo.
Por sua vez, Star Trek foi a única obra produzida em série que evoluiu com o tempo e à medida em que os avanços tecnológicos também evoluíam. E sobre esse ponto de vista, ainda se atualiza a cada série ou filmes produzidos. Enquanto isso, Star Wars já nasceu basicamente pronta. Tudo o que veio de filmes e séries de ficção científica após a obra de George Lucas foi por influência direta. Tudo passou a ser possível depois de Star Wars.
Cada uma dessas obras apresentou inovações significativas em termos de narrativa, personagens, temas e efeitos visuais e sonoros. Além disso, influenciaram outras obras de ficção científica que se seguiram, inspirando novos autores e cineastas a criar histórias fascinantes e envolventes.
Assista ao vídeo sobre esse mesmo artigo, que está no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, acione as notificações, curta o vídeo e deixe o seu comentário.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.