A Liga Extraordinária: Uma Jornada ao Gênero Steampunk
Desde sua primeira publicação em 1999, “A Liga Extraordinária” tornou-se um dos quadrinhos mais icônicos do gênero steampunk. Escrito por Alan Moore e ilustrado por Kevin O’neil, a série é uma homenagem à literatura vitoriana e um desafio aos convencionalismos dos quadrinhos de super-heróis. Neste artigo, discutiremos a premissa da série, seus personagens principais e o legado que deixou no mundo dos quadrinhos.
Paulo Bocca Nunes
O Steampunk é um gênero literário que surgiu na década de 1980 e se consolidou na década de 1990, sendo caracterizado por um cenário alternativo de ficção científica que se passa em um mundo em que a tecnologia a vapor é predominante. É um subgênero do cyberpunk, que se desenvolveu a partir da ficção científica distópica do final do século XX.
O Steampunk é marcado por um forte estilo visual, que incorpora elementos do século XIX, da moda vitoriana, design mecânico e tecnologia a vapor. A maioria das histórias que esse tipo de ficção científica explora está ambientado no século XIX, na era vitoriana, período britânico do governo da Rainha Vitória (1837-1901), quando o vapor era o principal meio de produção. Foi esse avanço tecnológico, para a época, que permitiu criações incríveis, como robôs a vapor, diligências turbinadas e até mesmo voadoras, além de cientistas “loucos”.
A PREMISSA
A Liga Extraordinária é uma equipe de personagens da literatura vitoriana, que se unem para enfrentar ameaças sobrenaturais. O líder da equipe é Allan Quatermain, um caçador de marfim de origem britânica que ganhou fama ao explorar a África. Outros membros incluem Mina Harker, de “Drácula”; o Capitão Nemo, de “Vinte Mil Léguas Submarinas”; o Homem Invisível, de H.G. Wells; o Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson; e o famoso robô humanoide, o Sr. Hyde. O grupo é recrutado pelo misterioso “M”, que age como um espião do governo britânico.
Ao longo da série, a equipe enfrenta uma série de vilões notórios, incluindo o Professor Moriarty, Fu Manchu e até mesmo o próprio Drácula. Moore e O’neil foram habilidosos ao tecer esses personagens em um enredo coeso que não apenas homenageia a literatura vitoriana, mas também a leva a novos territórios emocionantes.
OS PERSONAGENS PRINCIPAIS
Allan Quatermain é o líder da equipe e um personagem icônico da literatura de aventura. Moore retrata-o como um herói cansado que perdeu sua paixão pela aventura. Ainda assim, ele é o membro mais experiente e, muitas vezes, o responsável por manter a equipe unida.
Mina Harker é a única personagem feminina da equipe e um ponto de vista interessante na série. Ela é uma vampira que luta contra sua sede de sangue e suas memórias do tempo em que foi uma das esposas do Drácula. Mina é uma líder natural e uma personagem forte, que muitas vezes é subestimada pelos membros masculinos da equipe.
O Capitão Nemo é um personagem fascinante por si só, mas sua versão em “A Liga Extraordinária” é particularmente interessante. Moore o retrata como um pirata socialista que busca vingança contra o império britânico. O Capitão Nemo é um líder de equipe forte, mas também um personagem solitário e atormentado.
O Homem Invisível é um personagem misterioso que tem um passado sombrio. Ele é um personagem instável que muitas vezes age por conta própria e pode ser tanto um aliado quanto um inimigo da equipe.
O Dr. Jekyll e Mr. Hyde são dois personagens em um só. O Dr. Jekyll é um cientista brilhante que criou uma poção que o transforma em Mr. Hyde, um ser humano brutal e violento. Ele é um personagem complexo, que luta com seus próprios demônios internos e representa o lado sombrio da humanidade.
O Sr. Hyde é um robô humanoide que foi criado pelo governo britânico para ser um soldado perfeito. No entanto, ele desenvolveu uma personalidade própria e se tornou um dos membros mais leais da equipe. Ele é um personagem divertido e excêntrico, que fornece um alívio cômico para a série.
O LEGADO
“A Liga Extraordinária” teve um grande impacto na cultura pop desde sua publicação. A série foi adaptada para um filme em 2003, estrelado por Sean Connery como Allan Quatermain. Embora o filme tenha recebido críticas mistas, a série em quadrinhos ainda é considerada uma das melhores histórias do gênero steampunk.
Além disso, “A Liga Extraordinária” inspirou uma série de quadrinhos spin-off e prequelas. Estes incluem “Liga Extraordinária: Dossiê Negro”, que explora os personagens secundários da série original, e “Liga Extraordinária: O Século”, que segue a equipe ao longo do século XX. Estes quadrinhos expandem ainda mais o mundo da série original e permitem que os leitores mergulhem mais fundo na literatura vitoriana.
No entanto, o legado de “A Liga Extraordinária” vai além das adaptações e spin-offs. A série inspirou uma nova geração de escritores e artistas a explorar o gênero steampunk e a literatura vitoriana. A influência de Moore e O’neil pode ser vista em obras como “Máquinas Infernais” de Philip Reeve e “Leviathan” de Scott Westerfeld.
Além disso, a série é uma crítica aos convencionalismos dos quadrinhos de super-heróis. Em vez de seguir a fórmula tradicional de vilões e heróis, “A Liga Extraordinária” apresenta personagens complexos e muitas vezes falhos. A série também desafia a ideia de que os quadrinhos são apenas para crianças, abordando temas adultos como violência, sexualidade e poder.
CONCLUSÃO
“A Liga Extraordinária” é uma série de quadrinhos icônica que continua a inspirar e desafiar os leitores até hoje. Alan Moore e Kevin O’neil criaram uma ode à literatura vitoriana e um desafio aos convencionalismos dos quadrinhos de super-heróis. A série apresenta personagens complexos e temas adultos, enquanto leva os leitores a um mundo de aventura e fantasia. Se você ainda não leu “A Liga Extraordinária”, é hora de corrigir isso e se deliciar com esta obra-prima do gênero steampunk.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.