O narrador de ‘A Guerra dos Mundos’
A obra do britânico H. G. Wells impactou o meio literário não apenas pelo tema como também pela forma de narrar a história através de um narrador que participa dos eventos da história.
Paulo Bocca Nunes
A Guerra dos Mundos é uma obra icônica de ficção científica escrita por H.G. Wells e publicada pela primeira vez em 1898. A história segue a invasão da Terra por seres extraterrestres, os marcianos, e a luta da humanidade pela sobrevivência. Embora a narrativa seja uma das principais características que tornam este livro inesquecível, o papel do narrador é igualmente importante. Neste artigo, vamos examinar o papel do narrador na obra A Guerra dos Mundos.
O narrador da história é um personagem não nomeado que desempenha o papel de observador e repórter dos eventos que se desenrolam diante de seus olhos. Ele é um escritor e filósofo que vive na Inglaterra vitoriana, e sua personalidade e perspectiva se refletem em sua narrativa. O narrador é um homem culto e curioso, e seu conhecimento é uma das principais ferramentas que ele usa para tentar entender o que está acontecendo ao seu redor.
Desde o início, o narrador é claro sobre seu ceticismo em relação a avistamentos de objetos voadores não identificados que foram relatados na época. Ele acredita que a vida extraterrestre é improvável e, portanto, considera esses avistamentos como simplesmente fenômenos naturais ou ilusões coletivas. No entanto, quando a invasão começa, ele rapidamente percebe a gravidade da situação e sua perspectiva muda drasticamente.
O narrador é o principal meio pelo qual o leitor aprende sobre a invasão marciana e os eventos que se desenrolam. Ele descreve as máquinas tripuladas pelos marcianos e a forma como elas funcionam, além de relatar os horrores que testemunha. O narrador também é responsável por transmitir informações importantes sobre a resistência humana e a estratégia que é usada para tentar derrotar os invasores.
Um aspecto interessante da narrativa é que o narrador é capaz de usar seu conhecimento e perspicácia para interpretar o que está acontecendo de maneiras que outros personagens não podem. Por exemplo, ele percebe rapidamente que os marcianos não estão interessados em estabelecer uma comunicação com a humanidade e que seu objetivo é a destruição completa. Ele também é capaz de antecipar as ações dos marcianos e as consequências de suas ações, como quando prevê que os invasores tentarão tomar a cidade de Londres.
Outra característica importante do narrador é sua humanidade. Ele não é um herói de ação, mas um homem comum que é forçado a enfrentar situações extraordinárias. Ele é capaz de sentir medo, horror e tristeza diante da destruição que testemunha e das mortes que ocorrem ao seu redor. Essa humanidade o torna um personagem com o qual o leitor pode se identificar e é uma das razões pelas quais a narrativa é tão impactante.
No entanto, o narrador não é apenas um personagem. Ele é um escritor e, portanto, é capaz de refletir sobre os eventos que está testemunhando e analisá-los de uma perspectiva mais ampla. Ele percebe que a invasão marciana é um evento histórico significativo e que mudará a maneira como a humanidade pensa sobre seu lugar no universo. Ele também observa como os humanos são capazes de se unir e trabalhar juntos em tempos de crise e como a guerra pode levar à inovação e ao progresso.
Além disso, o narrador questiona a natureza da vida e do universo. Ele se pergunta se há outras formas de vida inteligente no universo e se a humanidade está sozinha ou se estamos conectados a outras formas de vida. Ele também reflete sobre a natureza da guerra e da violência, questionando se a destruição e a morte são inevitáveis em qualquer conflito.
O papel do narrador em A Guerra dos Mundos é fundamental para a compreensão e apreciação da história. Ele fornece informações cruciais sobre a invasão marciana e os eventos que se desenrolam, ao mesmo tempo em que reflete sobre as implicações mais amplas do conflito. Sua humanidade e perspectiva são o que tornam a história tão impactante e duradoura.
Além disso, o narrador tem um papel importante na construção da atmosfera e do tom da história. Sua narrativa é rica em detalhes e cria uma sensação de tensão e medo à medida que os eventos se desenrolam. A forma como ele descreve as máquinas marcianas e seus efeitos é particularmente eficaz em criar uma sensação de terror e horror. A linguagem utilizada pelo narrador é cuidadosamente escolhida para criar imagens vívidas e evocativas na mente do leitor.
Por fim, o narrador também desempenha um papel importante na crítica social e política presente na história. Wells era um socialista e suas opiniões políticas são refletidas na narrativa. O narrador descreve a desigualdade social que existe na Inglaterra vitoriana e como isso afeta a capacidade da humanidade de resistir à invasão marciana. Ele também observa como as forças militares são usadas para tentar derrotar os invasores e como isso leva à destruição em larga escala. A crítica social presente na história é uma das razões pelas quais ela continua sendo relevante até hoje.
Em conclusão, o narrador de A Guerra dos Mundos é um personagem fundamental na história. Ele fornece informações cruciais, reflete sobre as implicações mais amplas do conflito e é responsável por criar a atmosfera e o tom da narrativa. Sua humanidade e perspectiva o tornam um personagem com o qual o leitor pode se identificar e são uma das razões pelas quais a história é tão impactante e duradoura. O papel do narrador em A Guerra dos Mundos é um exemplo do poder da narração eficaz na ficção científica e na literatura em geral.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.