FICÇÃO CIENTÍFICA

Fundação: uma jornada épica em sete livros

Asimov é um dos grandes mestres da ficção científica por ter criado um universo complexo que envolve não apenas a ciência, mas todos os aspectos humanos que levaram a humanidade a sua expanção pelo universo.

Paulo Bocca Nunes

O universo da ‘Fundação’, de Isaac Asimov, é uma das mais importantes obras da ficção científica e tem encantado leitores desde a publicação do primeiro livro, em 1951. Conhecida como a Série da Fundação, o conjunto da obra é composto por sete livros que se passam em um futuro distante, onde a humanidade se espalhou por toda a galáxia e um poderoso Império Galáctico se encontra em um estado de declínio. Neste artigo, falaremos sobre cada uma das obras que compõem o universo da ‘Fundação’, bem como os personagens marcantes e a importância da obra no contexto da ficção científica.

OS LIVROS DA SÉRIE FUNDAÇÃO

Os livros que fazem parte do Universo, ou a Série, da Fundação estão relacionados de duas formas. Primeiro, pelo ano de publicação. Todos eles podem ser lidos de forma independente. Anos depois da publicação da primeira trilogia, entre 1951 e 1953, Asimov publicou livros com narrativas de eventos anteriores ao primeiro livro, Fundação, e depois do terceiro, Segunda Fundação. A segunda listagem relaciona os livros dentro de uma cronologia narrativa.

1. Fundação (1951)

Primeiro livro da trilogia original, e é ambientado em um futuro distante, onde a humanidade se espalhou por toda a galáxia e está em um estado de declínio. O protagonismo da obra pode ser dividido entre Hari Seldon, um matemático que desenvolveu uma ciência chamada “psico-história”, que permite prever o futuro em grande escala. Ele idealizou a Fundação, uma instituição formada por um grupo de cientistas que trabalham para preservar o conhecimento humano e evitar a queda da civilização. O outro protagonista é a própria Fundação, mesmo que nos cinco capítulos do livro tenham personagens importantes, eles não se repetem em todos os capítulos. Além do mais, esses personagens estão a serviço do objetivo maior, que é manter e consolidar a Fundação dentro do projeto Seldon.

2. Fundação e Império (1952)

Segundo livro da trilogia original e se passa alguns anos depois do primeiro livro. O livro é dividido em duas partes: na primeira parte, o General Bel Riose lidera um ataque à Fundação em nome do Império Galáctico; na segunda parte, entra em cena o personagem Mula, ou Mulo, segundo algumas traduções. Ele é um mutante com poderes psíquicos que ameaça a Fundação.

3. Segunda Fundação (1953)

Terceiro e último livro da trilogia original. Neste livro, a Fundação enfrenta sua maior ameaça quando o Mulo, ou o Mula, retorna com mais poder do que nunca. A história desenvolve o confronto entre a Fundação e o Mula, bem como trata da descoberta da Segunda Fundação, um grupo secreto de psico-historiadores que controlam os acontecimentos da galáxia.

4. Limites da Fundação (1982)

Primeiro livro que dá início à série da Fundação, foi escrito mais de 30 anos depois da trilogia original. O livro se passa 500 anos após os eventos de “Segunda Fundação” e a história gira em torno de dois personagens. Um dele é Golan Trevize, um conselheiro de Terminus, que foi exilado por acreditar na existência da Segunda Fundação. O outro é um cientista chamado Janov Pelorat, obcecado pela existência do lendário planeta Terra e pela sua busca. Há a descoberta de um grupo de mentálicos poderosos que agem pela galáxia.

5. Fundação e Terra (1986)

A história se passa logo após os eventos de “Limites da Fundação“. A história segue os personagens Trevize e Pelorat na busca pelo planeta Terra. Eles fazem uma importante descoberta de segredos antigos que podem mudar a história da humanidade, quando encontram um robô altamente evoluído.

6. Prelúdio à Fundação (1988)

Primeiro livro da prequela, que se passa antes da trilogia original. A história apresenta Hari Seldon e sua descoberta da psico-história, bem como de sua luta para preservar seus conhecimentos em um universo que está à beira do colapso.

7. Origens da Fundação (1993)

Sétimo e último livro da série. Foi publicado após a morte de Asimov. O livro é composto por cinco contos que se passam antes dos eventos de “Prelúdio à Fundação“, explorando a história e o surgimento da Fundação.

Se o leitor mais exigente preferir ler toda a série da Fundação de forma cronológica, deverá ler na seguinte ordem de livros:

  1. Origens da Fundação.
  2. Prelúdio à Fundação.
  3. Fundação
  4. Fundação e Império
  5. Segunda Fundação
  6. Limites da Fundação
  7. Fundação e Terra

PERSONAGENS MARCANTES

Os personagens mais importantes do universo da Fundação incluem Hari Seldon, o criador da psico-história e fundador da Fundação; Salvor Hardin, o primeiro prefeito da Fundação e responsável por sua defesa; Hober Mallow, um comerciante que ajuda a expandir a influência da Fundação; e Golan Trevize, um protagonista da segunda trilogia que lidera a busca pela Terra.

No entanto, um dos personagens mais intrigantes do universo da Fundação é Demerzel. Ele é o Conselheiro de Cleon I, o último imperador da galáxia antes da ascensão da Fundação. Demerzel é um personagem enigmático e misterioso, com ligações tanto com a Fundação quanto com o Império Galáctico. Mais tarde na série, é revelado que Demerzel é na verdade o robô R. Daneel Olivaw, um personagem central de outras obras de Asimov, como a série dos “Robôs”.

Asimov escreveu várias outras obras que estão relacionadas ao universo da Fundação. Além da série dos “Robôs”, que apresenta personagens como o detetive Elijah Baley e o robô R. Daneel Olivaw, Asimov também escreveu a série “Império”, que se passa no mesmo universo da Fundação. A série “Império” é ambientada antes dos eventos da Fundação e explora a ascensão e queda do Império Galáctico.

A importância da série da Fundação na ficção científica é difícil de superestimar. Asimov criou um universo vasto e complexo, repleto de personagens e conceitos fascinantes. A série também apresentou ideias inovadoras sobre a psicologia em massa e a previsão de eventos históricos, bem como sobre a natureza da civilização e o papel da ciência e da tecnologia na sociedade.

Além disso, a série da Fundação inspirou inúmeros autores e obras de ficção científica, incluindo a franquia “Star Wars” e a série “Duna”, de Frank Herbert. A Fundação também influenciou várias gerações de cientistas e filósofos, que se inspiraram em seus conceitos e ideias para explorar temas como a teoria do caos e a inteligência artificial.

A RELIGIÃO NO UNIVERSO DA FUNDAÇÃO

Na obra “Fundação” de Isaac Asimov, a religião é retratada como uma força poderosa e influente na sociedade galáctica. Embora a história seja ambientada em um futuro distante, onde a ciência e a tecnologia têm um papel predominante, Asimov reconhece o impacto duradouro da religião na humanidade.

Ao longo da trama, Asimov apresenta várias formas de religião e crença, destacando sua importância como um elemento central da vida das pessoas. Através de personagens e grupos distintos, o autor explora as implicações sociais, políticas e psicológicas da religião.

Uma das principais formas de religião retratada em “Fundação” é a religião do Império Galáctico, que possui rituais e crenças próprias. A religião imperial é utilizada como uma ferramenta de controle, com os governantes manipulando as crenças das massas para fortalecer seu poder e legitimidade. Essa representação destaca o poder da religião como um meio de influenciar e controlar a população.

Além disso, Asimov explora a ascensão de uma nova religião na Fundação. Essa religião possui cargos hierárquicos e é usada para controlar os planetas próximos de Terminus, onde está sediada a Fundação. 

À medida que a Fundação cresce em poder e influência, uma figura messiânica chamada O Mulo se ergue como uma ameaça ao seu domínio. O Mulo é adorado por muitos seguidores fanáticos, que acreditam em sua missão divina de transformar a galáxia. Essa representação da religião como uma força que pode mobilizar as massas e criar fervor religioso mostra como a crença pode moldar as ações e o destino das pessoas.

No entanto, Asimov também aborda a religião de forma crítica. Ele questiona a validade das crenças religiosas, apresentando-as como construções humanas baseadas em mitos e tradições. Em “Fundação”, as religiões são muitas vezes usadas como ferramentas de manipulação e controle, levando os personagens a questionar sua verdadeira natureza e propósito.

Assim, a religião na obra “Fundação” desempenha um papel importante na sociedade retratada por Asimov, tanto como uma força poderosa que molda as crenças e ações das pessoas, quanto como uma ferramenta de controle e manipulação. O autor oferece uma visão complexa e multifacetada da religião, explorando suas implicações sociais e políticas, ao mesmo tempo em que questiona sua validade e origem humana.

Embora a ciência e a tecnologia sejam os pilares centrais da trama de “Fundação”, Asimov reconhece a importância duradoura da religião como uma parte intrínseca da experiência humana. Essa abordagem faz com que a obra seja uma reflexão interessante sobre a interação entre fé, poder e sociedade, convidando os leitores a questionar suas próprias crenças e a considerar as implicações das religiões no mundo real.

O MITO DA TERRA NA FUNDAÇÃO

Ao longo de toda a obra, um fato marcou esse universo de Fundação. Como tudo se passa milhares de anos no futuro, toda a galáxia está povoada pelos humanos. No entanto, o planeta de origem foi totalmente esquecido ou considerado uma lenda ou um mito de criação bastante improvável. 

Nas obras que pertencem ao universo do Império galáctico, a Terra ainda é conhecida, porém bastante desprezada por ser um planeta inferior e radioativo. Isso só será retomado nos últimos livros de toda a série dos sete livros da Fundação. 

Asimov trouxe esse aspecto bastante complexo. Assim como nós atualmente encontramos vestígios de civilizações antigas e tomamos conhecimento de alguns aspectos de sua cultura, também afirmamos que suas narrativas são mitológicas ou fazem parte de lendas antigas. Portanto, Asimov apresenta uma especulação bastante plausível: a de que um dia, nós da Terra, podemos vir a ser apenas uma história fantasiosa. Nem mesmo uma lembrança.

Por outro lado, Asimov prenuncia um planeta vivendo um pós apocalipse e um sistema distópico devido a um colapso nuclear de âmbito global. Esse aspecto é muito usado na literatura de ficção científica atual, bem como em filmes do gênero.

Na literatura, Asimov foi o escritor que mais tratou a energia atômica como uma forma de usar a ciência de forma correta, bem como o seu mau uso se estiver em mãos erradas. Asimov acompanhou toda a evolução dos estudos da energia atômica e usou de sua formação acadêmica e de seu conhecimento científico para escrever histórias em que a energia atômica era usada para fins científicos. 

As espaçonaves tinham propulsão à base de energia atômica. Porém nas suas obras, essa mesma energia foi a causadora da destruição do planeta. Por esse motivo, Asimov pode ser considerado como um dos precursores do gênero pós apocalíptico causado por uma guerra nuclear, como muitos escritores e roteiristas já se baseiam para criar as suas obras.

CONCLUSÃO

O universo da Fundação é uma obra-prima da ficção científica, que combina ciência, filosofia e narrativa em um todo coerente e fascinante. Asimov criou uma obra que ainda é relevante e inspiradora até hoje, e que continuará a influenciar as gerações futuras. Se você ainda não leu a série da Fundação, não perca a oportunidade de mergulhar em um dos maiores clássicos da ficção científica de todos os tempos.

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.