LITERATURA MITOLÓGICA

A Ilíada: uma guerra de deuses e heróis

Uma das obras mais icônicas da história e adaptada em várias mídias. Uma história que coloca deuses e guerreiros gregos lado a lado. Aqui faremos uma análise da obra e das adaptações para cinema e séries de TV.

Por Paulo Bocca Nunes

Durante séculos, Troia se constituiu em um mito imortalizado em versos épicos e um mistério representado pela dúvida de sua existência. A famosa cidade cantada pelos antigos aedos gregos e imortalizada pelos versos escritos por Homero (tão misterioso quanto a própria cidade) parecia ser apenas um produto da imaginação de um povo sedento por um passado heroico e glorioso. A cidade, que deu nome a uma das maiores obras literárias da História da humanidade, teimava em se esconder debaixo de poeira e pedras em algum ponto da Turquia até que foi finalmente descoberta.

Mas, isso significa dizer que a guerra realmente aconteceu? Os versos de Homero podem servir como prova de um fato histórico? E se a guerra aconteceu, teria sido o mesmo motivo cantado na Ilíada?

São perguntas que ainda não há respostas definitivas. No entanto, a história na sua forma mítica de uma guerra que envolveu os maiores guerreiros, heróis e deuses gregos ainda fascina os leitores passados tantos séculos. Isso por si só já justifica o interesse em criar representações artísticas nas mais diversas linguagens da obra literária de Homero.

Neste artigo iremos abordar a obra literária, o esforço praticado para encontrar as ruínas da possível cidadela de Troia, alguns breves aspectos históricos e as adaptações criadas a partir de A Ilíada, especialmente para o cinema e TV. Vamos observar se essas adaptações seguiram ou não o texto original e quais foram as suas “liberdades poéticas”.

A cidade famosa pelos versos que atravessaram os séculos até nós, sempre foi recebida como um mito, pois não se tinha nenhum documento com valor histórico que comprovasse a sua existência. A guerra seria considerada, da mesma forma, um mito como a própria causa a ela atribuída. Em termos de historiografia, não se podia conceber uma causa, como a do poema, um fator relevante que mobilizasse todo um povo contra uma cidade considerada fortemente protegida por altos muros, conforme as atribuições do próprio poeta.

Por conta dessa descrença, não se buscou empreender esforços para comprovar a existência de Troia. A arqueologia, a ciência que estuda os monumentos e sítios antigos, teve os seus primeiros interesses na Idade Média, no entanto, o objetivo era o de estudar as ruínas sagradas da Terra Santa levada avante pelos Cavaleiros Templários. No período do renascimento (séculos XV e XVI) foram feitos estudos sobre a arquitetura grega antiga com o objetivo de reproduzir e revalorizar a cultura clássica. Não se pensava em ir em busca de uma cidade que era vista e entendida como algo ficcional.

No entanto, o arqueólogo alemão, Heinrich Schliemann (1822-1890), defensor da realidade histórica dos topônimos que são mencionados nos poemas de Homero, interessou-se em fazer buscas para encontrar a localização de Troia. Heinrich era filho de um pastor protestante alemão e desde criança sempre foi fascinado pelas obras de Homero e tinha convicção fé de que Troia existira de fato. Determinado em encontrar a cidade mítica, nos anos de 1870 ele escavou o sítio arqueológico de Hisarlik até encontrar as ruínas de várias cidades construídas uma sobre as outras, sendo elas atribuídas à Troia. Uma dessas foi nomeada de Troia VII e identificada como sendo a Troia Homérica.

A história de Troia remonta aos velhos mitos gregos, partindo de Dardano, filho de Electra e Zeus. Dardano fundou uma cidade que levou seu nome, Dardânia. Com sua morte, o reino passou a seu neto, Tros. A partir daí toda a região passou a ser chamada de Trôade. Ilo, o filho de Tros, por sua vez fundou a cidade de Ílion, a qual Homero se refere e dá nome ao seu poema épico. A posteridade conheceu essa mesma cidade pelo nome de Troia. Segundo os pesquisadores do assunto, o problema do nome pode ser explicado por a cidade ser conhecida por Ílion, e daí se explica o uso por Homero, e Troia referir-se a toda a região. Isso, no entanto, não é unanimidade no meio acadêmico.

Devido ao seu ponto estratégico, Troia era conhecida por seus ricos ganhos do comércio portuário com o leste e o oeste, pois de um lado estava o Mar Egeu e de outro havia o Estreito de Dardanelos que dava passagem para o Mar Negro e daí havia o acesso ao leste. Por conta dessa localização, Troia tinha o comércio de vários produtos, produção de ferro e suas maciças muralhas garantiam a defesa da cidade muito rica.

Ainda segundo os mitos, Poseidon e Apolo construíram as muralhas e fortificações ao redor de Troia para Laomedonte, filho mais jovem de Ilo. O rei de Troia, na época da guerra narrada por Homero, foi Príamo, filho de Laomedonte. Na época em que Príamo foi rei, Troia alcançou o seu apogeu e declínio devido à guerra.

Nada se sabe sobre sua existência, nem se existiu de fato, onde nasceu, por onde perambulou para cantar seus poemas nem mesmo onde morreu. Enquanto os gregos antigos acreditavam em um indivíduo histórico, os estudiosos que se debruçaram sobre as suas obras são muito céticos quanto a esse assunto. Para alguns desses estudiosos, Homero se constitui não em um aedo ou bardo, mas sim em uma representação cultural detentora da memória e de todo o saber antigo e cultural do povo grego da Antiguidade.

Para os historiadores antigos, como é o caso de Heródoto, Homero viveu por volta de 850 a.C., mas outros já afirmam que ele viveu em época mais próxima da guerra de Troia. Também se conjectura que ele nasceu em Esmirna, na atual Turquia, ou em alguma ilha do mar Egeu.

As teorias sobre seus poemas épicos (A Ilíada e A Odisseia) se sustentam em três vertentes. A primeira diz que os dois poemas são de autoria de Homero; a segunda, que somente a Ilíada é composição sua; a terceira diz que as duas são de sua autoria, mas de “tamanhos” menores, ou seja, ao longo do tempo foram sendo acrescentadas outras partes tanto da guerra quanto do retorno de Odisseu aos poemas originais de Homero. Independente de qualquer uma dessas afirmações (ou mesmo as negações), o fato é que as duas obras compõem uma das fortes bases da cultura ocidental.

Dois aspectos importantes são abordados no poema. Inicialmente, nos primeiros versos o poeta invoca a musa para inspirá-lo a narrar sobre a ira de Aquiles. Esse é o tema principal do poema, no entanto, o pano de fundo é a guerra de Troia, o que leva ao segundo aspecto.

O poema narra os últimos 51 dias durante o nono de luta que durou dez anos. Portanto, o poema não trata de toda a guerra, mas apenas de um evento específico dentro de um delimitado espaço de tempo.

Necessário falarmos sobre os antecedentes desse conflito. A guerra entre os gregos e os troianos foi causada, como se sabe, pela atitude de Páris, filho do rei Príamo, de Troia. Ao fazer uma visita diplomática em Esparta, o jovem príncipe apaixonou-se pela esposa de Menelau, Helena, considerada a mulher mais linda de toda a Grécia, a sequestrou e a levou para Troia. Menelau, sentindo-se ofendido e muito irado, foi ao encontro de seu irmão, Agamenon, rei de Micenas, e invocou o juramento dos antigos pretendentes de Helena de protegê-la quando ela estivesse em perigo eminente. Assim, Agamenon convocou maiores reis e heróis da Grécia e partiu com um forte exército em direção a Troia.

Os gregos antigos acreditavam que a guerra de Tróia era um fato histórico. Se fizermos os cálculos identificaremos como tendo o corrido no período micênico, durante as invasões dóricas, por volta de 1200 a.C.. Um fato curioso é que há na Ilíada descrições de armas e técnicas de diversos períodos, do micênico ao século VIII a.C., o que indicaria ser esse o século de composição da epopeia.

A guerra durou dez anos, mas durante o nono ano, ocorreu o fato que causou a desmesurada ira de Aquiles causada pela afronta de Agamênon. Na divisão de despojos de guerra, Agamenon toma para si, Criseida, filha de Crisis, sacerdote do templo de Apolo. Enquantoisso, coube a Aquilies a bela jovem, Briseis. Crisis pede a sua de volta, mas Agamenon nega. Então o sacerdote pede a Apolo que faça justiça. Dessa forma, segundo a mitologia, Apolo espalhou entre o exército aqueu uma peste que causou muitas mortes. Agamenon se viu forçado a devolver Criseida e apacentar Apolo. Como compensação, Agamenon tomou Briseis de Aquiles, fato que despertou toda a sua fúria.

Aquiles se recusa a combater, o que enfraquece as forças gregas, promove grandes perdas nas batalhas e os troianos passam a ter vantagem na guerra. Não adiantou a interseção de Odisseu e Ajax para convencer Aquiles de voltar à luta. Então, o melhor amigo de Aquiles, Pátroclo, decide comandar um destacamento em uma batalha, mas é morto por Heitor, o filho mais velho de Priamo. Assim, enfurecido pela perda, Aquiles desafia Heitor e o mata.

A obra relata mais detalhes com base nesses eventos. Mostra principalmente a intervenção dos deuses que se dividem para apoiar ora os troianos ora os gregos. O que se observa ao longo da narrativa é a intervenção constante dos deuses durante todo o conflito. De um lado apoiando os gregos (Hera, Atena, Poseidon, Hefesto e Tétis, mãe de Aquiles) e os troianos (Apolo, Afrodite, Ares, Ártemis e Leto). Esse conflito também se estendeu entre os próprios deuses fazendo com que Zeus também assuma um dos lados.

O mundo homérico se divide nas suas duas obras conhecidas. Enquanto na Odisseia há paz, na Ilíada há guerra. De qualquer forma, os deuses são plenamente atuantes e decisivos para os destinos dos homens. Percebe-se neles as mesmas paixões que movem as ações humanas.

Além disso, cada deus olímpico possui a sua personalidade própria e segue os seus princípios independentes das decisões do deus supremo, Zeus. Muitas vezes as relações entre deuses e homens se movem em uma esfera muito aquém de outras mitologias. Por vezes há uma relação muito íntima ao ponto de serem produzidos filhos a partir de um deus ou uma deusa e algum mortal. Dessa forma, as relações ficam ainda mais próximas, ao ponto de esses filhos serem os preferidos de uns, mas, por outro lado, se a divindade tiver algum problema com outra, certamente o filho, ou a filha, terá problemas e seu destino será traçado com um fim trágico.

Como exemplo, o caso de Aquiles, filho da nereida Tétis e de Peleu, rei dos mirmidões é bastante claro. De acordo com a mitologia, quando Aquiles nasceu Tétis tentou fazê-lo imortal. Para isso, mergulhou-o no rio Estige, segurando-o pelo pé, mas deixou o calcanhar de fora. Assim, o ponto vulnerável de Aquiles passou a ser o seu calcanhar. Antes de partir para a guerra, sua mãe o alertou: se ficasse no seu lar, viveria muitos anos, mas seria esquecido; se fosse à guerra, morreria, mas seria lembrado eternamente.

Na epopeia, ao dividirem os saques das cidades próximas de Troia, Agamenon fica com a filha do sacerdote do templo de Apolo. Esse fato desencadeou a ira do deus que espalhou uma peste entre o exército grego, matando muito guerreiros. Somente a devolução da filha do sacerdote poderia terminar com a praga. No poema observamos o temor pelos deuses e isso foi o suficiente para o rei micênico devolver a garota.

Os deuses não têm apenas possuem poderes, como podem fazer muitas proezas com eles. Transmutarem-se em animais, envelhecer ou fazer com algum mortal se transforme em outra pessoa ou então inspirar alguma ideia, um desejo ou reação repentina para algum propósito. Ainda no canto I da Ilíada, Atena desce do céu para ficar visível apenas para Aquiles e contê-lo em sua fúria.

Pela leitura do poema, os deuses são quase fundamentais, pois sem eles não haveria como os humanos seguirem as suas vidas ou tomarem decisões. Por outro lado, aqueles que ousassem desafiar ou imprecar um deus olímpico receberia o castigo que lhe cabia.

AS ADAPTAÇÕES DA ILÍADA OU DA GUERRA DE TROIA

As adaptações que descreveremos abaixo abordam a Ilíada de Homero ou a guerra de Troia de uma forma mais ampla e não tratando especificamente sobre os eventos da Ilíada. Um exemplo é a adaptação de 1954 (Ulisses) que mostra alguns eventos da guerra e o descrevemos em outro artigo. Traremos o que for mais específico ao tema deste artigo.

Filme alemão, mudo, preto e branco. O filme busca abranger os eventos anteriores da guerra desde o momento que Paris é pastor, o que está de acordo com a mitologia. Depois segue com os principais eventos desde a ida de Páris à Esparta, onde se encontra com Helena, até a tomada de Troia com o recurso do cavalo de madeira e o reencontro de Menelau com Helena. O filme tem mais de três e meia de duração e tem um estilo muito “teatrão”. Está disponível no Youtube com legendas em alemão ao estilo do cinema mudo e você pode acessar AQUI.

Produção EUA e Itália, com direção de Robert Wise, esse filme traz algumas mudanças em relação à história de Homero. Páris viaja para Esparta para conseguir um tratado de paz entre as duas cidades-estado. Seu navio é forçado a voltar para Troia em meio a uma tempestade que o lança ao mar e nas costas de Esparta, ele é encontrado por Helena, a rainha, por quem se apaixona. Páris é levado ao palácio real onde encontra o marido de Helena, o rei Menelau, Agamenon, Odisseu, Aquiles e muitos outros líderes gregos discutindo como fazer a guerra com Troia. Menelau vê que Helena e Paris estão apaixonados e, fingindo amizade ao rei troiano, planeja a sua morte. Avisado por Helena, Páris foge de volta a Troia levando-a consigo. Os gregos se unem e cercam Troia com seus exércitos, exigindo Helena em troca da paz. No entanto, o que os gregos querem são as riquezas que estão escondidos na cidadela. A vitória acaba sendo grega através da famosa armadilha do Cavalo de Troia. Quando tentam fugir, Helena e Paris são cercados por Menelau que é enfrentado em duelo por Páris, que vence o combate, mas é esfaqueado pelas costas à traição. Helena é forçada a voltar a Esparte com Menelau, mas sabendo dentro de si que algum dia se reunirá a ele.

Filme de produção ítalo-franco-iugoslavo. O filme começa com Aquiles arrastando o corpo de Heitor, depois de matá-lo em duelo. A história segue mostrando uma disputa entre Eneas e Paris. Príamo indaga de Páris onde está o corpo de Heitor e o rei vai ao acampamento dos gregos para buscar seu corpo. Eneias o acompanha e participa de uma competição pelas armas e armadura de Heitor. Ele vence a disputa contra o guerreiro Ajax. O filme segue com os conflitos internos entre os guerreiros gregos e os troianos. Os gregos constroem o cavalo de madeira. Cassandra avisa que o cavalo que os troianos trazem para dentro das muralhas será a desgraça de todos. Os gregos saem de dentro do cavalo, queimam e destroem Troia. A história termina com a fuga dos troianos sobreviventes liderados por Eneias. O filme em espanhol com legendas em português está disponível no Youtube e você pode assistir AQUI.

Há um filme que busca dar uma continuidade: A lenda de Eneias, sendo a mesma produção e atores. A história trata da ida de Eneias para a Itália com seu povo. Pode ser assistido, em espanhol e sem legendas AQUI.

Filme italiano dirigido por Marino Girolami. O filme busca ser o mais fiel possível ao texto de Homero, principalmente pelo conflito entre Aquiles e Agamenon. Há uma grande diferença que talvez torne um pouco fraco o filme. Diferente do livro, três soldados vão até a muralha de Troia. Dois carregam bandeiras brancas. Um deles chama por Heitor e traz o desafio de Aquiles para um duelo. Aquiles mata Heitor, o amarra numa biga e arrasta seu corpo em frente à muralha da cidadela. O filme termina tal como o livro, mas a cena final com Aquiles traz uma fotografia exuberante. O filme, em italiano e sem legendas, está disponível no Youtube e pode ser assistido AQUI. Se quiser assistir em grego, assista AQUI.

O filme se concentra mais na vida de Helena do que a guerra e todos os seus eventos que estão narrados no poema de Homero. A primeira parte trata da vida de uma Helena mais jovem antes de ir à Troia. São poucos os eventos conhecidos e relacionados com a guerra de Troia, mas ainda assim se destacam, especialmente os que envolvem Aquiles e o cavalo de madeira. Em formato de filme, está disponível no Youtube, com dublagem em português, e você assistira AQUI.

Produção dirigida por Wolfgang Petersen. Páris faz uma visita diplomática a Menelau, se apaixona por Helena e, aproveitando a ausência do marido, leva sua esposa para Troia. Menelau invoca o juramento dos pretendentes a seu irmão, Agamenon. O rei de Micenas convoca os principais reis e heróis da Grécia para formarem um forte exército e partirem para Troia. O filme mostra os eventos mais importantes, como a fúria de Aquiles, o seu afastamento da luta, a morte de Pátroclo, o duelo entre Aquiles e Heitor, o cavalo de madeiro e o destino de Aquiles. O filme não é fiel ao texto de Homero, principalmente pelo tempo de duração da guerra, mas traz os eventos mais importantes sobre a história que se conhece. O filme está disponível em plataformas de streaming.

Produção norte-americana e inglesa para uma plataforma de streaming em formato de minissérie com 8 episódios com cerca de 1 hora de duração cada um. Todo o seriado conta a história do cerco de 10 anos da cidade de Troia. O seriado busca apresentar toda a história que envolve a guerra e seus antecedentes, recontando a ascensão e a queda da cidade Troia sob o ponto de vista da família real até o ponto em que a cidade é cercada e atacada como consequência do envolvimento entre o príncipe Páris e Helena. O seriado está indicado como 1ª temporada nas plataformas de streaming e até o momento em que este artigo foi escrito não há indicação de uma segunda temporada.

A grandiosidade da obra de Homero, envolvendo os universos dos deuses e dos homens, se confundindo até mesmo no campo de batalha, faz com que as adaptações sejam bastante limitadas. Aquelas que trazem de alguma forma algum dos deuses olímpicos não se destacam muito e não apresentam a grandiosidade que é narrada por Homero.

Nem mesmo se percebe, no pouco que surgem, a importância fundamental que os deuses têm em diversas passagens do poema, em que alguns se posicionam favoráveis a um ou a outro lado. As assembleias que eles promovem entre si foi algo refutado.

Uma concepção que pareceu muito interessante foi o filme de 2004, trazendo o ator Brad Pitt como Aquiles. Nesse, os deuses são apenas citados e nunca aparecem. Na sua estreia, em 2004, o que se esperou foi exatamente o contrário. De certa forma, a crítica apontou esse detalhe como algo negativo e quase fundamental para as críticas não serem muito boas.

No entanto, o fato de os deuses não aparecerem, favoreceu o desenvolvimento dos personagens. Enquanto que na obra homérica os deuses influenciavam as decisões e vitórias ou derrotas tanto para um lado quanto para outro, na produção de 2004 eram as decisões que cada personagem tomava que movia os acontecimentos para frente. Principalmente no caso de Aquiles, já que a Ilíada fala sobre a sua ira. Por esse motivo, o filme termina de forma épica, e creio que muito mais forte, mesmo que seja diferente do livro.

Também é preciso destacar que, ao que me parece, ainda não se sabe muito bem como produzir um filme desse tipo mesmo havendo tantos avanços técnicos de CGI ou de uso de chroma-key para resolver o problema de amplos espaços, de cenários grandiosos ou de quantidade grande de figurantes. Fato totalmente resolvido com outras adaptações de literatura de fantasia, como foi o caso de Game of Thrones. Creio ser esse aspecto mais delicado nas adaptações das obras de Homero, tanto A Ilíada quanto A Odisseia.

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.