A Influência de Moby Dick na Cultura Pop
Moby Dick é uma obra-prima da literatura americana ao longo da narrativa envolvente, vai se desvendando alguns temas universais. Não é à toa que a história de uma baleia branca tenha entrado para a cultura pop de várias formas.
Paulo Bocca Nunes
O romance “Moby Dick”, publicado em 1851 pelo escritor norte-americano Herman Melville, é uma obra que se tornou um clássico da literatura mundial e uma das mais importantes da cultura pop. A história do capitão Ahab e sua tripulação em busca da baleia branca Moby Dick é uma epopeia literária que envolve aventura, tragédia, obsessão, filosofia e mitologia.
A trama se passa no século XIX, período em que a caça às baleias era uma atividade econômica importante nos Estados Unidos e em outros países. O capitão Ahab, comandante do navio baleeiro Pequod, é obcecado por capturar Moby Dick, uma baleia branca que arrancou sua perna em uma batalha anterior. A busca pelo animal se transforma em uma jornada épica pelos mares, com a tripulação enfrentando tempestades, tubarões, piratas e outras dificuldades.
“Moby Dick” não é apenas um romance de aventura, mas uma obra que aborda temas complexos e universais. A obsessão de Ahab pela baleia branca é uma metáfora para a busca humana pelo sentido da vida e pela compreensão do universo. Ahab representa a vontade humana de controlar a natureza e de desafiar os mistérios do mundo, mesmo que isso signifique a própria destruição.
Além disso, o romance de Melville é um mergulho profundo na mitologia e na cultura marítima. O autor explora os mitos e lendas dos marinheiros, como a lenda da baleia branca e a história do profeta Jonas, que foi engolido por um grande peixe. Melville também descreve minuciosamente a vida a bordo de um navio baleeiro, com suas hierarquias, costumes, superstições e rituais.
A linguagem de “Moby Dick” é outro aspecto marcante da obra. Melville utiliza um estilo poético e rebuscado, com metáforas, alusões e digressões que transformam a narrativa em um verdadeiro poema em prosa. O autor também faz uso de diferentes vozes narrativas, como a voz do narrador Ishmael, a voz do próprio Ahab e até mesmo a voz da baleia branca.
A importância de “Moby Dick” para a literatura e a cultura pop é inegável. A obra influenciou diversos escritores e artistas ao longo dos anos, desde o poeta Walt Whitman até o cineasta Orson Welles. O romance também é citado em diversas outras obras literárias e cinematográficas, como “O Grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald, e “O Poderoso Chefão”, de Mario Puzo.
Um dos aspectos mais interessantes da influência de “Moby Dick” na cultura pop é o uso da figura da baleia branca em diferentes contextos. A baleia branca se tornou um símbolo poderoso na cultura popular, representando a ideia de um desafio inalcançável, um inimigo invencível ou uma obsessão que consome a alma. A figura de Moby Dick aparece em filmes, séries, músicas e até mesmo em produtos comerciais, como logotipos de empresas e marcas.
Um exemplo de obra que utiliza a figura da baleia branca como símbolo é o filme “Star Trek II: A Ira de Khan” (1982), em que a nave estelar USS Enterprise enfrenta um dispositivo de destruição criado pelo vilão Khan. O dispositivo é batizado de “Baleia Branca” em referência à Moby Dick e sua história de desafio impossível.
Outro exemplo é a série de televisão “Lost” (2004-2010), em que o personagem John Locke utiliza a história de Moby Dick para explicar sua busca pela ilha misteriosa em que os personagens estão presos. Locke diz que a ilha é sua baleia branca, um desafio que ele precisa superar para encontrar seu propósito na vida.
A figura de Moby Dick também aparece em músicas de diferentes gêneros. O cantor e compositor britânico Sting lançou em 1991 o álbum “The Soul Cages”, inspirado pela história do romance de Melville. A faixa-título do álbum fala sobre a morte do pai de Sting, que era um marinheiro, e utiliza metáforas da história de Moby Dick para falar sobre a busca pelo sentido da vida.
O rock progressivo também fez uso da figura da baleia branca em suas composições. A banda britânica Genesis lançou em 1974 a música “The Grand Parade of Lifeless Packaging”, que inclui uma referência a Moby Dick na letra. Já a banda americana Mastodon lançou em 2004 o álbum “Leviathan”, inteiramente inspirado pela história de Moby Dick.
Uma das obras musicais mais conhecidas da banda britânica, Lez Zepellin, é a instrumental “Moby Dick”, também conhecida como “Over the Top“. A música foi lançada em seu segundo álbum de estúdio Led Zeppelin II, em 1969. O nome da canção foi inspirado no romance de Melville. O solo de bateria do músico John Bonham é o ponto alto da música.
Além disso, a figura de Moby Dick também é utilizada em produtos comerciais e marcas. A empresa de refrigerantes Coca-Cola lançou em 1993 uma campanha publicitária chamada “Always Coca-Cola”, que incluía um comercial em que um urso polar tenta capturar uma garrafa de Coca-Cola em um bloco de gelo. O comercial faz referência à história de Moby Dick e utiliza a imagem da baleia branca como símbolo do desafio a ser superado.
ADAPTAÇÕES PARA CINEMA E TV
A obra de Melville influenciou diversas adaptações para o cinema e a TV. A primeira adaptação é de 1926, The Sea Beast, cinema mudo, preto e branco. A direção é de Millard Webb. A história busca seguir o mais próximo do livro. Mesmo com as limitações técnicas da época do cinema mudo, o filme de pouco mais de duas horas apresentou bom desenvolvimento, ação e aventura. As tomadas de câmera e as sequências no confronto final entre Ahab e Moby Dick surpreendem pelas limitações da época, mas são eficientes e bem feitas. Foi usada uma trilha musical que não é a original do filme. O que foi usado, principalmente no clímax do filme, destoa muito do restante. O final da história é diferente do livro, talvez para dar um fechamento positivo ou uma forma de final feliz à história. Você pode assistir AQUI.
A segunda adaptação é de 1930 com a direção de Lloyd Bacon e roteiro de J. Grubb Alexander e Oliver H.P. Garrett. A história parece ser quase uma refilmagem da adaptação de 1926. As cenas do combate final entre Ahab e Moby Dick tem um pouco mais de realismo, mesmo ainda havendo muitas limitações para efeitos especiais. As cenas em que a baleia ataca os barcos são bem feitas e até causam espanto. Na época seria impactante. O final é o mesmo do filme anterior e, portanto, também diferente do livro. O filme é em preto e branco, com áudio em inglês, mas há legendas em português. Você pode assistir AQUI.
Uma produção britânica de 1956, dirigido por John Huston, com roteiro de Ray Bradbury e do próprio Huston, trouxe outra adaptação do romance de Herman Melville. O elenco conta com Gregory peck e Orson Welles. Está disponível para alugar na Prime Vídeo.
Há um filme de 2010 que tem o título Moby Dick, mas é apenas inspirada livremente no romance de Meville. O filme, na verdade, é um tanto bizarro. A baleia chega a se arrastar por terra para perseguir os seus perseguidores. Está no Youtube e pode ser assistido AQUI.
Uma produção de 2011, dirigida por Mike Barker e com roteiro de Nigel Williams, está na Prime Vídeo com dois episódios. Mais uma vez, essa produção tem elementos muito próximos dos dois primeiros filmes.
Uma adaptação que ficou muito conhecida foi a do filme norte-americano de 2015, dos gêneros drama, ação e aventura, dirigido por Ron Howard, com roteiro de Charles Leavitt, Rick Jaffa e Amanda Silver baseado no romance No Coração do Mar, de Nathaniel Philbrick, sobre o naufrágio do baleeiro Essex, que inspirou Herman Melville a escrever Moby Dick. O filme é estrelado por Chris Hemsworth, Cillian Murphy e Tom Holland. Está disponível nas plataformas da GloboPlay, Prime Vídeo.
Moby Dick também foi uma série de desenho animado americana com produção Hanna-Barbera. Estreou em 1967 e era transmitido junto com outro desenho: Poderoso Mightor. A história era sobre dois jovens, Tom e Tub, que eram resgatados por uma grande baleia branca (não confundir com a baleia homônima) após um naufrágio. Junto com a foca de estimação, Scooby, eles enfrentam perigos no mundo submarino.
CONCLUSÃO
Em resumo, “Moby Dick” é uma obra que transcendeu os limites da literatura e se tornou um marco da cultura pop. A história da baleia branca desafiadora e da obsessão humana pela conquista é uma metáfora poderosa para as questões universais da vida e da existência. A influência da obra pode ser vista em diferentes manifestações culturais, desde filmes e músicas até produtos comerciais e marcas. “Moby Dick” é, sem dúvida, uma obra que continua a inspirar e a desafiar a humanidade.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.