Blame: A Procura Pelos Genes Terminais de Rede
Uma produção que mistura ficção científica do sub gênero cyberpunk e distopia, disponível na Netflix, faz uma adaptação de um anime de sucesso da década de 1990.
Paulo Bocca Nunes
O AUTOR
Tsutomu Nihei, nascido em 1971, é um renomado mangaká e arquiteto japonês. Seu estilo artístico único e sombrio, combinado com cenários vastos e atmosfera opressiva, se tornou uma marca registrada de suas obras. Além de “Blame!”, ele é conhecido por suas outras séries de mangá populares, como “Knights of Sidonia” e “Biomega”.
O QUE É UM MANGÁ
Um mangá é uma forma de história em quadrinhos japonesa, geralmente publicada em preto e branco. Essas obras são conhecidas por sua arte distinta, narrativa cativante e estilos variados que abrangem vários gêneros, como ação, aventura, romance, fantasia e ficção científica.
ENREDO DO MANGÁ
Em um futuro distópico, a humanidade já está quase completamente dizimada, mas tenta sobreviver como podem, sendo caçados por máquinas impiedosas e confinados em uma mega estrutura, chamada de Cidade. Enquanto isso, Killy, um misterioso aventureiro, vaga pela mega estrutura repleta de corredores, escadarias e cavernas, atravessando milhares de níveis em uma cidade que não para de crescer para todas as direções. O personagem passa seus dias lutando para sobreviver, enfrentando ciborgues assassinos, seres sintéticos e monstros mutantes, enquanto busca pelo Gene Terminal de Rede, um código identificador capaz de devolver o controle da cidade autônoma para os humanos, predados pelos agentes da grande rede, “Netsphere”.
O problema ocorreu há milênios atrás, quando os humanos perderam a capacidade de se comunicar diretamente com A Cidade. O resultado foi que as enormes máquinas do Construtor as ignoraram e começaram a construir aleatoriamente e as máquinas passaram a ver a humanidade como uma ameaça, exigindo seu extermínio total. A busca de Killy é essencial para recuperar a cidade de volta para a humanidade e, ao longo do mangá, sua jornada é longa e sinuosa.
SOBRE O FILME
Num futuro distante, a civilização alcançou sua forma final em uma rede base. Uma “infecção” no passado fez com que os sistemas automatizados ficassem fora de ordem e de controle, resultando em uma estrutura urbana de vários níveis que se replica infinitamente em todas as direções. A humanidade perdeu o acesso aos controles da Cidade e é caçada e expurgada pelo sistema de defesa conhecido como Salvaguarda. Em um pequeno canto da cidade, um pequeno enclave conhecido como Electro-Fishers está enfrentando uma eventual extinção, preso entre a ameaça da Salvaguarda e a diminuição dos suprimentos de comida. Uma garota chamada Zuru parte em uma jornada perigosa para encontrar comida para sua aldeia. Uma torre de observação detecta a jovem e convoca um grupo de salvaguarda para eliminar a ameaça. Com parte de seus companheiros mortos e todas as rotas de fuga bloqueadas, eles encontram Killi, O Andarilho, em sua busca pelos Genes do Terminal da Rede, a chave para restaurar a ordem no mundo.
A partir daí, todos iniciam a busca por suprimentos para os humanos que ficaram no esconderijo, lutam para se defender dos ataques das máquinas e partem em busca dos genes, que estão em algum lugar da gigantesca Cidade. O filme, portanto, não abrange toda a obra do mangá.
O filme tem várias sequências de muita ação, suspense e tensão. Mas não se prende ao desenvolvimento dos personagens. Na obra original, Killy é o personagem principal e no filme é a jovem Zuru. A figura de Killy é emblemática e misteriosa, algo que aumenta pelo seu silêncio em muitas vezes. Seu objetivo é encontrar os genes e enfrentar tudo o que o impedir.
Tudo o que aconteceu para deixar todos na situação em que estão é contado. Personagens de mais idade do grupo são os contadores de histórias, que narram os eventos passados do seu povo. Da mesma forma, são narradas as dificuldades que o grupo enfrenta, mas não se observa uma conexão com quem está no centro da história. Seria algo à parte da história.
CONCLUSÃO
No geral, “Blame!” deixou uma marca duradoura no mundo dos mangás e na cultura pop japonesa, que se espalhou pelo mundo ganhando uma legião fiel de fãs. Sua influência pode ser vista em várias obras posteriores que exploraram temas semelhantes de ficção científica distópica e cenários labirínticos. Para os fãs de mangá e da estética sombria, “Blame!” é uma obra imperdível.
Quanto ao filme de 2017, ainda na Netflix (até o momento em que esse artigo foi publicado), a produção conseguiu levar a mesma atmosfera sombria e desoladora dos mangás. Houve alguns deslizes quanto à trama, dando o protagonismo a outros personagens, sem que houvesse ainda um desenvolvimento capaz de fazer o espectador, que não está familiarizado com o mangá, se conectar ou se importar com os personagens.
Mesmo assim, a história tem força para envolver os admiradores do gênero ficção científica com abordagem cyberpunk e distopia. O filme tem um visual impressionante e muito bom, algo que encaixou muito bem no gênero cyberpunk e distópico. Há muito potencial para desenvolvimento tanto de personagens quanto da história. Poderia, por exemplo, ter sido melhor aproveitado se fosse uma série. A ação centrada no domínio das máquinas e na luta dos humanos pela sobrevivência consegue prender o espectador.
FICHA TÉCNICA
Nome do Filme: Blame!
Gênero: ficção científica, cyberpunk
Produção: Polygon Pictures
Roteiro: Tsutomu Nihei
Direção: Hiroyuki Seshita
Disponível: Netflix desde 20 de maio de 2017.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.