Capitã Nova: mais uma nova outra mesma coisa
As viagens no tempo não param nas produções de ficção científica. Dessa vez, uma produção holandesa traz a sua versão sobre o tema, mas apelando para a questão ambiental.
Paulo Bocca Nunes
As plataformas de streaming têm se esforçado a dar uma diversidade bastante considerável às produções de vários países. Em 2020 e 21, a Coreia do Sul se destacou. Em 2022, entre outras produções, o cinema holandês nos traz uma proposta sobre viagem no tempo que trata de questões ambientais. Em se tratando de Holanda, até que se pode compreender essa temática, pois o país, também conhecido como Países Baixos, tem uma relação de confronto com o mar que torna a vida dos habitantes bastante delicada.
O filme começa mostrando a Terra em 2050 como um planeta devastado por uma enorme crise ambiental, seco e desolado, com sérios problemas de poluição. Um cenário totalmente distópico. A Capitã Nova, uma piloto de caça de 37 anos de idade, é colocada em uma nave espacial e enviada para o ano de 2025 para evitar que uma perfuração no pólo Norte seja feita e ocasione a liberação de um gás que irá causar todo o desastre ecológico no planeta.
Ao atravessar um buraco de minhoca e ido parar no destino planejado, algo dá errado e Nova volta a ter a idade de 12 anos de idade. No entanto, apesar de ser uma criança, ela mantém a mentalidade de adulta e vai em busca de executar a sua missão. Ela tem a companhia de um robô que é uma mistura de papagaio de pirata (está sempre pendurado no ombro dela) com drone. Também lembra o robô B9 quando ele alerta Nova de perigos. Outro ajudante da garota é Nas, um garoto que é criado por um padrasto ou algo parecido.
O filme traz algumas referências a outros filmes clássicos do gênero de ficção científica. A forma como Nas encontra Nova e se esforça para ajudá-la, lembra o filme ET. A história toda, no entanto, para por aí nas comparações com um grande filme.
Com exceção de uma atuação bastante convincente de Kika van de Vijver (Capitã Nova adolescente) e de Marouane Meftah (Nas) tudo foi superficial. Buscou-se trazer um conteúdo sem muitas explicações e indo direto para a ação. Os vilões da história se constituíram em parte algo chavão (o ricaço que só quer lucrar), o cientista (que é filho do ricaço) que deseja a glória de sua invenção ou descoberta e tudo isso sem que haja a menor preocupação com possíveis problemas ambientais no planeta.
Algumas cenas deixaram bastante claro que o roteiro (Lotte Tabbers e Maurice Trouwborst) e a direção (Maurice Trouwborst) não estavam preocupados com lógicas ou coerências. Por exemplo, duas crianças usam um carro para fugir e o menino dirige. Então, o carro estraga e, de repente, como num passe de mágica, surge um bom velhinho para ajudar e não questiona o fato de uma criança dirigir um carro e não ter habilitação. Outras incoerências surgiram, principalmente envolvendo Nas e Nova, o que não se poderia admitir em um filme independente de ter adultos ou crianças como protagonistas. O encontro entre Nova e o cientista foi totalmente inverossímil.
A partir da metade do filme, Nas ganha quase mais destaque que a protagonista, o que pode ser uma falha, pois o centro dramático estava (e deveria permanecer) em Nova. Os diálogos foram fracos, mesmo aqueles que tinham a intenção de trazer uma mensagem que trouxesse uma luz sobre a busca por objetivos e preocupações com o meio ambiente.
A direção foi bastante insegura e tímida para juntar os universos dos garotos com uma realidade em que os adultos comandam o futuro da Terra e colocam os dois lados em confronto pela defesa do ambiente. A impressão que passa é que a garota Nova é uma representação de outra garota conhecida mundialmente como ativista ambiental.
Por outro lado, a direção de fotografia foi muito competente, tanto para mostrar uma fictícia Terra no futuro, tomada por uma atmosfera totalmente hostil e inóspita, com um céu vermelho e muita poeira, quanto para mostrar as belezas naturais que estariam destruídas em 2050.
O final além de não ser muito convincente, ainda deixa algumas interrogações quanto às consequências da viagem no tempo. Se voltarmos e mudarmos o passado, quais as consequências na linha do tempo? E o efeito borboleta? Também há a questão de duas versões da mesma pessoa se encontrarem em uma mesma linha do tempo. Quais as verdadeiras consequências disso e como isso se reflete na continuidade da mesma linha do tempo? Nesse filme ficaram lacunas bastante complicadas de serem explicadas e até mesmo serem aceitas.
Apesar disso tudo, o filme é uma boa diversão, pois não entrega muitas complicações filosóficas. Apenas apresenta uma questão prática para ser sempre lembrada (a preocupação com o meio-ambiente). O filme chegou em março de 2022 e está disponível na plataforma da Netflix.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.