Caranguejo Negro: paisagem gelada, ação morna.
Uma produção cinematográfica sueca chegou na Netflix em março de 2022 e já no trailer mostra que a fotografia vai ser, no mínimo, uma grande atração. Mas, e o roteiro e a história vai acompanhar essa espectativa?
Paulo Bocca Nunes
Caranguejo Negro é uma produção sueca dirigida por Adam Berg. A história se passa em alguma parte do futuro em meio a um mundo pós-apocalíptico dividido após guerras e mudanças climáticas radicais.
Seis soldados são enviados para uma perigosa missão através de um mar totalmente congelado entre um arquipélago com o objetivo de transportar um pacote que poderia pôr um fim na guerra que se alastra pelo mundo.
O meio de transporte são patins de gelo e o território em que irão transportar a sua carga não é confiável, pois em algumas partes do mar entre um arquipélago, o gelo pode não suportar o peso de uma pessoa. Para piorar, nenhum dos soldados faz a menor ideia do que estarão levando.
Entre os soldados está Caroline Edh, interpretada por Noomi Rapace, uma mulher que foi separada de sua filha por terroristas e que recebeu a promessa de ver a sua filha desaparecida novamente se levasse a carga misteriosa.
Ao longo do filme há uma série de regressões e numa dessas é mostrado o sequestro da filha de Caroline. Esse fato a deixou transtornada e obcecada pela esperança de ainda encontrar a sua filha viva. Ao receber a proposta da missão, ela vê a possibilidade disso e decide fazer de tudo para alcançar o seu objetivo.
É exatamente esse objetivo fixo de Caroline que movimenta toda a história. O ponto de vista pelo qual o espectador acompanha a trama é o dela. Também por isso se cria uma empatia pela personagem, fato valorizado pela própria interpretação da atriz, Noomi Rapace.
A história envolve drama, ação e heroísmo centrados na direção e na fotografia. O filme alcança seu ponto máximo entre o segundo e terceiro atos quando o grupo precisa atravessar o mar gelado à noite, para evitarem serem vistos pelo inimigo. O balé cinematográfico dos soldados patinadores é um dos pontos mais impressionantes do filme. A tensão toma um rumo inesperado e dramático quando eles literalmente tropeçam em um cemitério de cadáveres de imigrantes no mar gelado.
As cenas de ação e combate não impressionam, mas são muito bem executadas. À medida que o filme avança vai se percebendo um clima de conspiração e que a missão pode não ser exatamente aquilo que os soldados patinadores foram levados a acreditar que seria. Principalmente depois que descobriram qual era a carga que estavam levando.
Revoltas, indignações, mudanças de lado ou questionamentos sobre ética passaram a modificar o grupo e a trazer a suspeita para alguns de seus componentes. Esse novo elemento adiciona um tempero de traição e espionagem à missão, mas não demove a decisão e o objetivo de Caterine.
O final do filme, infelizmente, trouxe um fechamento um tanto frágil para o que foi o conjunto. Uma reviravolta que, mesmo trazendo uma explicação que seria previsível desde o começo, deixou um sabor de que poderia ter sido dado um melhor tratamento ao roteiro.
Em todo o filme não se fica sabendo com exatidão o que cada lado das partes em conflito defende ou qual dos lados começou a crise e o porquê. Enquanto estamos acompanhando a trajetória de Caterine, obcecada e determinada e com atuação exuberante de Noomi, isso não se torna algo relevante. Só vamos sentir algumas fragilidades no roteiro quando o filme chega ao final. Cenas arrastadas que pretendem dar uma dramaticidade ao fechamento da história de Caroline, não ajudam a tornar o filme uma grande obra. Mas, não significa que torna o filme ruim.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.