Chat GPT Finaliza Romances de George Martin
Um sucesso da literatura de alta fantasia, aclamado por público e crítica, tem gerado certa impaciência nos seus fãs. O autor George Martin ainda não terminou os dois últimos livros da saga Crônicas de Gelo e Fogo, que serve de base para Game Of Thrones. Para diminuir a ansiedade da espera, o chatbot mais querido do mundo deu uma palhinha de como pode terminar essa história toda. Mas, o resultado pode igualar as obras do próprio autor ou competir com ele?
Paulo Bocca Nunes
A saga Crônicas de Gelo e Fogo, que ficou conhecida por Game Of Thrones (por causa da série da HBO), alcançou um sucesso indescritível e entrou na cultura pop como um meteoro na atmosfera terrestre! No entanto, a obra ainda não está completa, mesmo que o último lançamento (A Dança dos Dragões) tenha sido em 2012, algo que causa certa impaciência e até mesmo grande apreensão por parte dos fãs da saga.
O próprio autor George Martin contribui para isso. Ele pouco fala sobre a evolução do desenvolvimento das duas histórias que ainda faltam (Ventos do Inverno e Um Sonho de Primavera), mas apenas diz que está tudo bastante adiantado. Para completar, depois de tantas previsões de lançamento terem sido frustradas, ninguém pode saber quando ele irá terminar a obra. A última atualização é de novembro de 2023 e o autor afirma que tem 1100 páginas escritas, mas ainda faltam centenas a serem concluídas.
Para tornar tudo muito pior, o autor já está com 75 anos (em 2023) e o público receia de que ele venha a falecer, por conta da idade avançada, antes de terminar os livros que ainda faltam. Martin já demonstrou sua indignação com essa ideia e, algumas fontes afirmaram que ele orientou algumas pessoas a queimarem tudo o que ele tenha escrito antes dessa possibilidade acontecer. Ou seja, é como se ele dissesse o seguinte: “Ninguém vai saber o que fiz e que fiquem com o que já tem”.
Essa espera prolongada fez com que, em meados de 2023, um fã da série assumisse a responsabilidade de completar as duas obras. O desenvolvedor de software independente, Liam Swayne, usou a inteligência artificial, Chat GPT, para escrever uma versão dos dois romances. Dessa forma, Swayne dá aos fãs uma visão alternativa de como a história pode terminar após a controversa e criticada oitava e última temporada de Game of Thrones, na HBO, em 2019.
Swayne disponibilizou o seu projeto na internet, mostrando todos os passos dados para fazer com que o Chat GPT desenvolvesse toda a trama de cada um dos dois livros. De fato, é surpreendente como os resultados são bastante bons, mantendo mais ou menos a mesma extensão narrativa do que se poderia esperar de uma obra original de Martin, até mesmo alguns aspectos interessantes, como algumas reviravoltas na trama. Ainda assim, se percebe uma falta de “identidade autoral” de George Martin, ou seja, uma “marca autoral” dele.
Em entrevista para o site norte-americano IGN, especializado em jogos, Swayne disse que usou de vários prompts para chegar ao resultado final. O primeiro foi um prompt para gerar um esboço para o primeiro capítulo. Depois repetiu isso até ter 45 esboços de capítulos. Então, Swayne devolveu os esboços ao Chat GPT e pediu esboços mais detalhados. Finalmente, ele usou esses esboços para obter os próprios capítulos.
A conclusão de Swayne para o resultado final, foi que a inteligência artificial era boa em rastrear a continuidade de um personagem. Para isso, ele usou o exemplo do personagem Illyrio, que aparece nos primeiros parágrafos e volta à narrativa mais de cem mil palavras depois.
Ele também disse que a IA era boa em criar reviravoltas na história, como no caso de Jon Connington se voltando contra Daenerys, e Bran descobrindo que a Muralha não era apenas uma barreira física, mas um escudo místico segurando o Rei da Noite. Aqui é preciso lembrar que a série da HBO deu um final diferente para os dois personagens, independente do que George Martin venha a fazer com os dois futuros livros. Durante a produção da última temporada, a HBO não tinha material de George Martin para encerrar a série. Valeu-se, portanto, de alguma ajuda do autor e da inspiração dos roteiristas. Martin já avisou que não vai usar a série para terminar os seus livros.
Swayne observa também que o Chat GPT não seguiu a famosa habilidade, ou a “marca autoral”, de Martin para matar personagens. Até mesmo aqueles importantes à trama, de maneiras surpreendentes, apesar das instruções para fazê-lo.
Em seu relatório, Swayne conclui que “modelos de linguagem grandes podem ser muito assustadores”, mas ele fica otimista sobre o futuro dos escritores e da inteligência artificial. Ele disse que modelos de linguagem grandes, como o Chat GPT, podem levar em consideração centenas de páginas de texto para tomar uma decisão narrativa. Isso é uma grande ajuda aos escritores para corrigirem os buracos na trama. Ele acrescentou ainda que, embora tenha ajudado a IA a escrever os livros, ele não acredita que a IA possa substituir os escritores tão cedo.
A explicação encontrada para a inteligência artificial não escrever mortes de personagens é porque a maioria dos escritores, que é a maioria dos dados de treinamento do chatbot, hesita em matar grandes personagens. Isso é o que identifica George Martin e o separa de outros escritores. Ele faz com que suas histórias não sejam convencionais, mas bastante surpreendentes. Neste ponto, a inteligência artificial faz o que é mais comum ser feito.
Exatamente pelo fato de os escritores tomarem decisões criativas e inesperadas, deixa Swayne confiante de que eles não são substituíveis pelas inteligências artificiais.
Mas, de acordo com o site Winter Is Coming, em outubro de 2023 Liam Swayne removeu todos os dois textos gerados pela inteligência artificial, ChatGPT, da página em que estavam hospedados após ser mencionado no processo de George R.R. Martin contra o ChatGPT. Swayne não chegou a receber um aviso de remoção, mas decidiu removê-los por precaução.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.