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Extrapolations: Fim de Temporada, Desperdício de Elenco

A série da Apple TV+, do gênero pós apocalíptico e o tema envolve o clima da Terra, chegou com grande expectativa. Diretor competente que assumiu a produção e o roteiro e elenco galáctico. No entanto, nem o que tem de melhor, garante o melhor.

Paulo Bocca Nunes

A série Extrapolations estreou na Apple TV em 17 de março de 2023. A expectativa foi grande, principalmente depois de outras séries de sucesso, Invasion e Foundation. O produtor, roteirista e diretor, Scott Burnes, afirmou que a série seguiria oito núcleos, cada um contando a sua história, com o seu ponto de vista, num mundo se tornando caótico devido às mudanças climáticas, causadas por diversas ações humanas.

De fato, houve essa distribuição de pontos de vista, tratando sobre o mesmo assunto, mas a pretensão de apresentar a mudança climática ao longo de várias décadas e, com isso, ir mostrando como as pessoas estariam reagindo às mudanças e enfrentando as dificuldades paralelamente aos seus problemas pessoais, passaram longe de uma profundidade tanto sobre os conflitos quanto sobre os personagens. As próprias questões climáticas se constituíram em um pano de fundo um pouco distante do centro das ações.

Não se pode afirmar que houve um equilíbrio entre o motor que deveria mover a série, ou seja, as mudanças climáticas, e os conflitos humanos. Na verdade, alguns até pediam mais desenvolvimento devido ao forte apelo científico envolvendo questões humanas, como a fragilidade da vida, a luta pelas lembranças e a dor que essas causam nas nossas vidas à medida que as pessoas vão sendo afetados por doenças.

Algumas coisas bastante positivas nessa série foram as inovações tecnológicas que afetam a sociedade. Por exemplo, uma agência que contrata pessoas para atenderem clientes que, de alguma forma, perderam pessoas importantes nas suas vidas. A forma como isso é feito é não apenas interessante, como também um pouco assustador. 

A série transitou por vários segmentos humanos, desde a religião, a ciência e chegando na política. A visão geral que se mostrou foi que o ser humano nunca vai mudar. Até mesmo piorar em alguns aspectos, não importando o quão caótico esteja o planeta pelas próprias ações humanas. 

Não se pode afirmar que o tom dado à série tenha sido desordenado, mas algumas coisas deram uma clara impressão de que não estavam muito bem encaixadas na trama, como um todo. O ritmo também não foi dos mais favoráveis. Até mesmo por conta dessa forma de o roteiro querer mostrar as ações humanas em um mundo caótico, se perdendo na forma de como dar equilíbrio às coisas.

Houve, por exemplo, um toque de humor que cortejou com o gênero “pastelão”, mas não foi algo que pudesse se justificar ou se enquadrar dentro do contexto da própria obra. Em um dos episódios, esse “pastelão” apresentou personagens e algumas situações que mereciam ser desenvolvidas em um filme de duas horas de duração, tamanha era o seu apelo dramático e assunto. 

Principalmente pelo fato de que, no desfecho do episódio, uma das personagens mudou totalmente todo o percurso dos outros. Uma personagem secundária trouxe em poucos segundos, uma história que, se fosse desenvolvida com a dos protagonistas principais, daria um resultado arrebatador. Da forma como foi feito, deixou aquele grito no ar de “Ora, vejam!”. 

O último episódio, no entanto, passou a impressão de uma catarse. Ou seja, depois de tudo o que aconteceu ao longo de toda a série, iniciando em 2037 e se estendendo até 2070, alguma coisa deveria ser feita e trazer um final que satisfizesse o público. Particularmente, considero um pouco fraco tendo em vista a ação de alguns personagens e pelo argumento do roteiro. Faltou pouco para ser panfletário.

Isso não significa que os atores estivessem ruins. Pelo contrário. Todos deram o seu melhor em cima de um roteiro fechado que queria manter o tema ao fundo enquanto os personagens se desenvolviam à frente. Não se poderia esperar algo diferente de um elenco tão qualificado como foi o de Extrapolations. Houve surpresas muito positivas, como foi o caso da jovem atriz Neska Rose, que interpretou a personagem Alana Goldblatt.

A série deixa a dúvida se haverá uma segunda temporada. Se for nesse mesmo ritmo e forma de levar dois temas paralelos, não creio que fará sucesso. Ficou quase meio termo entre um documentário, algo um tanto panfletário e alguma coisa que lembra ficção científica especulativa. Não se pode dizer que foi uma obra fantástica. Pode ser interessante, pela fotografia, pelos efeitos especiais e pelo elenco fantástico. No entanto, nada mais que isso.

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.