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Major Grom contra o Doutor Peste: um policial durão diferente de outros

Um filme traz um policial do estilo durão com os bandidos. Parecido com muitos outros já assistidos desde a criação do cinema. A diferença é que esse policial é russo.

Paulo Bocca Nunes

Major Grom contra o Doutor Peste é uma novidade na Netflix em 2021. Uma mistura de filme policial, com direito a tudo o que já conhecemos das produções hollywoodianas, e uma pitada de filmes que lembram a Marvel e a DC.

Igor Grom é conhecido em São Petersburgo pelo seu temperamento impulsivo e com atitudes irreconciliáveis com os criminosos. Tudo parecia normal até o aparecimento de um criminoso chamado Doutor Peste. Usando a mesma máscara da peste ele declara que sua cidade está “doente com a praga da ilegalidade da corrupção” e inicia um “tratamento”, matando pessoas culpadas e inocentes. A sociedade fica agitada e bastante tensa, os policiais se vêem impotentes e pela primeira vez Igor enfrenta dificuldades na investigação.

O filme traz muitas cenas de perseguição ao estilo hollywoodiano, com carros, correrias pelas ruas e topos de prédios, quedas espetaculares e situações que chegam a ser muito comuns nos filmes da terra do Tio Sam. A abertura do filme recebe influência de séries épicas como o de Game of Thrones, por exemplo.  O personagem Igor parece uma caricatura de policial durão e meio paranoico quando está no cumprimento de seu dever de policial. Durante as cenas de maior ação, ele chega a ser mostrado quase como um dos super-heróis da Marvel, faltando pouco para isso.

Um dos grandes “pecados” do filme é não mostrar os motivos que levou o Doutor Peste a fazer a sua “justiça”. Toda a justificativa dada é meramente verbalizada. Fala-se muito na corrupção na cidade, porém nada é mostrado nesse sentido. Sabemos porque o próprio vilão fala nisso. Refiro-me aqui ao fato de as ações mostradas serem as melhores para apresentar as motivações dos personagens e não a “contação”.

O vilão, ao invés de receber profundidade, é literalmente aplainado e se torna muito superficial e um tanto caricato. A megalomania do personagem não se justifica por conta da sua superficialidade. Inclusive, a figura do vilão lembra bastante o malvadão Darth Vader.

Um ponto muito interessante e até bastante engraçado diz respeito aos momentos em que Igor Grom está envolvido em uma operação policial, ou mesmo durante as investigações para descobrir quem é o Doutor Peste, e ele precisa tomar decisões sobre o que fazer. Na primeira vez, pode causar um estranhamento, mas depois de sabermos o que está acontecendo fica bastante engraçado. Igor fica imaginando toda a ação que ele pode fazer, mas todas elas têm sérias consequências, podendo haver vítimas fatais por conta de uma ação imaginada ou a vítima podendo ser ele mesmo. Tudo isso é mostrado, como se estivéssemos assistindo a um filme mental de Igor.

Há vários aspectos que dão bons créditos ao filme, apesar de alguns chavões. A fotografia é fundamental para as cenas de ação e a continuidade de cada uma delas. Há situações em que Igor se envolve que chegam a beirar o improvável, mas há boa resposta da direção nessas situações.

As sequências de ação que mostram Igor Grom, e o próprio personagem, assemelham-se muito aos filmes Marvel, especificamente ao Capitão América. Principalmente no final em que há o confronto final entre Igor e o Doutor Peste. Na verdade, tanto o roteirista quanto o diretor buscaram muitas referências nas HQs, na tentativa de ser o mais próximo possível, numa espécie de fan service.

Capa da revista em que o Major Groom enfrenta o Doutor Peste.

O que aproxima o personagem a quase ser um super-herói é a sua obstinação em solucionar o problema que todos estão enfrentando. A sua força de vontade ao extremo, mesmo sem super-poderes, faz com que o espectador acredite nessa possibilidade de herói. 

Espera-se ao menos uma continuação, pois há duas cenas pós-créditos que levam a essa conclusão. Não se pode afirmar para onde vai a história. Logicamente, isso pode ser possível aos leitores das revistas que encontrarão alguma referência. Se houver continuações, que siga o mesmo nível de qualidade que tem garantida uma boa diversão.

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.