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Nova Ordem Espacial: ficção científica sul-coreana que merece continuação.

Num futuro não muito distante, a Terra está cercada por lixo espacial. A tripulação de uma nave busca ganhar dinheiro recolhendo esse lixo e vendendo para reciclagem.

Paulo Bocca Nunes

Depois que iniciou a corrida espacial, no final da década de 1950, a órbita da Terra passou a ser um território ocupado por algo que foi chamado de “lixo espacial”. São satélites desativados, restos de naves que serviram para os lançamentos de outras, como as naves do projeto Apolo, por exemplo. Também podem ser encontradas partes de satélites desativados, quando não estão ainda inteiros. Alguns desses materiais são atraídos pela gravidade terrestre e entram na atmosfera, entrando em combustão. Não se pode esquecer das estações espaciais que já foram desativadas.

O filme Nova Ordem Espacial, mais uma produção sul-coreana, dessa vez de ficção científica, entra nessa questão do lixo espacial, da má preservação ambiental, das suas consequências e da busca por mundos em que o ser humano possa viver. O ano é de 2092 e a tripulação da nave Victory se empenha em pegar o lixo espacial em torno da Terra, mas a tarefa não é fácil. Há outros que também tem a mesma intenção. A disputa pelas melhores sucatas espaciais é bastante acirrada. 

Mostra-se a Terra totalmente inabitável e o ar irrespirável. As pessoas vivem em péssimas condições, Dizemos que essa sociedade futurista e distópica. A tripulação é composta por três pessoas e um androide. Esse último é o ponto de equilíbrio entre o “drama” e o humor. Volta e meia todos jogam cartas a dinheiro e o androide vence. O dinheiro que ele ganha, guarda tudo em uma espécie de baú para uma finalidade que não se sabe muito bem qual é.

Enquanto o androide se constitui em um personagem bem construído, com conflito e objetivos, os outros vão sendo apresentados aos poucos, mas de forma um pouco fragmentada. Algo que não desmerece a qualidade do filme. Os personagens do grupo da nave espacial Victory, sem dúvida, são cativantes.

A equipe de space sweepers (aliás, é o título original em inglês) é formada pela capitã Jang (Kim Tae-ri), o robô Bubs (Hyang-gi Kim) e os escavadores Tiger Park (Seon-kyu Jin) e Tae-ho (Song Joong-Ki), que entrou nessa vida porque busca sua filha desaparecida. Entretanto, a vida desses catadores de lixo espacial muda quando se deparam com uma carga inesperada: uma garota, chamada Kot-nim (Ye-Rim Park), que é procurada internacionalmente por ser pretensamente uma androide muito perigosa.

Quem procura pela menina é uma empresa que monopolizou toda a coleta de lixo e a pesquisa de tecnologia da Terra. Entre os space sweepers encontramos uma diversidade cultural e linguística enorme. O filme é falado em coreano, mas quando há outros personagens a língua falada é a do outro. Inclusive, os personagens sul-coreanos falam essas línguas. Ponto tremendamente positivo para a produção!

A direção de arte do filme buscou dar uma concepção diferente a um ambiente futurista. Nas sequências em que a superfície da Terra é mostrada, percebe-se tudo arrasado e a poluição tornando o ar irrespirável. A fábrica de reciclagem de todo material recolhido no espaço é apresentada como outro ambiente hostil, insalubre e poluidor. 

Toda a história está centrada no personagem Tae-ho, que busca encontrar sua filha desaparecida. Sua história é mostrada em momentos de flashback, um recurso muito comum em produções que buscam levar a história a partir de algo que se denomina in media res, ou seja, a partir da metade das coisas. Esses flashbacks vão fazendo revelações sobre o personagem e, de certa forma, contextualizam alguns ganchos na própria trama.

São facilmente perceptíveis as questões sociais e econômicas inseridas no filme. A forma como é representação a UTS, empresa de alta tecnologia que está envolvida na colonização de Marte, devido aos problemas na Terra, mostra bem isso. A UTS construiu uma estação espacial que reproduz o clima e vários biomas da Terra antes de sua poluição total. No entanto, somente os que podem pagar é que terão acesso a ela. Nem mesmo os space sweepers, que têm acesso às espaçonaves, têm dinheiro para entrar nessa estação.

A história segue um rumo bastante intenso depois que o grupo descobre a garota está a bordo da nave deles. Com o prêmio em dinheiro para quem encontrar e devolver a garota é muito alto, os tripulantes da Victory decidem entregar a garota. O problema é que isso não pode ser algo muito escancarado, pois há outros interessados na garota e no dinheiro. Tudo segue com várias perseguições até algo muda completamente e o grupo passa a proteger a garota.

Em Nova Ordem Espacial há referências a diversos filmes e franquias de Hollywood, como Indiana Jones, Star Wars, Star Trek, uma pitada de Guardiões da Galáxia, ou os filmes de super-heróis da Marvel e DC. Há um ritmo intenso nas cenas de ação, principalmente no terceiro ato. Mesmo havendo algumas falhas de continuidade, o filme empolga pelas ações em alto estilo de aventura. O último ato é de tirar o fôlego do espectador.

O que destoa um bocado desse filme é o vilão, James Sullivan, CEO da UTS. Acredita-se que, tendo todas essas referências citadas acima, pensou-se em fazer desse personagem algo semelhante a Dart Vader, entretanto o ator não conseguiu dar o brilho merecido. Inicialmente, o personagem aparece com um “tom de voz” e presença de quem possui um “bom coração”, mas esse foi um véu bastante fino para esconder do espectador algo de mau e perverso. Foi algo um tanto caricato demais, como querendo mostrar um sujeito “bonzinho”, no começo, para depois deixar cair a máscara e mostrar vilão “malvadão” com uma personalidade e caráter que nada justifica pelas suas ações. Passou a ser o bandido mau por ser mau. Algo bastante pobre. A estação da UTS também busca uma relação com a Estrela da Morte, de Star Wars, logicamente, dentro de uma concepção diferente. 

O centro de todo o conflito é a garotinha Kot-nim. Roubou a cena por ser uma verdadeira gracinha. Não tem como não ficar encantado com o rosto meigo e inocente. Nos momentos em que foi preciso de uma atriz mirim, lá estava ela, de forma competente dentro das limitações dadas pelo roteiro.
Nova Ordem Espacial é um bom entretenimento, com boa direção de Jo Sung-hee e ótimo roteiro de Sung-hee Jo. Fotografia, figurino e efeitos especiais nada ficaram a dever a qualquer superprodução de Hollywood. Isso que o custo de produção foi pouco mais de 21 milhões de dólares. Alto que destoa de outras produções com valores que ultrapassam os 200 milhões de dólares.

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.