FILMES E SÉRIES DE TV

O Culpado

Filme produzido durante a pandemia surpreende pela qualidade e simplicidade, mas surpreende pela atuação de Jake Gyllehaal.

Por Paulo Bocca Nunes

O filme é O Culpado, estrelado por Jake Gyllenhaal e direção de Antoine Fuqua estreou na Netflix em outubro de 2021. A história acompanha uma parte da vida do policial Joe Bayler (Jake Gyllenhaal) em um dia bastante agitado na central de chamadas de emergência 911, o nosso 190. Ao longo do filme, ficamos sabendo três coisas importantes para entendermos o personagem. Ele está separado há seis meses de sua mulher e por algum motivo não vê a sua filha. Finalmente, ele cometeu um erro bastante grave e, por isso, está aguardando um julgamento. Por conta desse erro, ele foi punido e rebaixado para trabalhar no departamento. Para completar, ele tem problemas de asma e vive sempre rabugento.

Em certos momentos, ele tem explosões de raiva o que nos mostra mais algumas coisas do caráter e da personalidade dele. Isso vai trazer muitas informações subliminares no terceiro ato. Joe atende chamadas de emergência de drogados, pessoas nervosas e até empresários envolvidos com prostitutas, enquanto acontece um incêndio florestal que vai se aproximando da cidade de Los Angeles, Califórnia, EUA.

Em certo momento ele recebe a chamada de uma mulher que diz estar sendo sequestrada. Preocupado com a situação, Joe vai investigando da própria central e juntando as peças do quebra-cabeças para saber onde ela está. O marido da mulher, se descobre, é um sujeito com passagem pela polícia. Eles têm dois filhos e os dois foram deixados em casa. A menina tem seis anos e o irmão ainda é um bebê.

A trama vai se desenrolando de tal forma que, ao final nada é o que parece ser. Há uma reviravolta enorme tanto na história quanto do próprio Joe que, enquanto trabalha, pensa no julgamento que vai acontecer no dia seguinte e irá definir o seu futuro e a sua vida.

O diretor Antoine Fuqua dirigiu tudo de uma vã toda equipada a um quarteirão do local das filmagens. Faltando três dias para começarem as filmagens ele entrou em contato com uma pessoa que testou positivo para o Covid e teve que ficar isolado do resto da equipe. Os atores que fizeram as vozes ao telefone fizeram isso de suas casas, sempre com acompanhamento por vídeo-chamada. 

O filme, na verdade, é um remake do suspense dinamarquês que teve o título de Culpa, de 2018, dirigido por Gustav Möller e com Jakob Sedergren no papel do policial na central de chamadas do Copenhagen. O roteiro é bastante parecido com O Culpado. Esse filme, Culpa, até a data deste artigo (29/10/2021) estava disponível no Telecine. O filme dinamarquês teve aprovação quase unânime da crítica e do público. Ainda em 2019, a empresa Nine Stories e Jake Gyllenhaal compraram os direitos da produção e em 2020 foi dado o início da produção e das filmagens com a direção de Fuqua.

O filme é muito bom! Jake Gyllenhaal está fantástico! O roteiro é muito bom! A direção é ótima! Eu esperava um filme de correria e carros voando pelas ruas de Los Angeles, mas foi nada disso! Tudo ficou circunscrito à Central de Atendimento. Aliás, o filme foi feito durante a pandemia, em 2020, tendo Fuqua feito a direção dentro de uma van a uma quadra do set de filmagem porque ele apresentou alguns sintomas de covid e manteve um distanciamento seguro de toda a equipe. Mesmo assim, ele tirou o máximo e o melhor de Gyllenhaal.

O Culpado vai entregando aos poucos tudo sobre o personagem, mas sem dizer tudo, deixando para o espectador ir assimilando aos poucos e, assim, vermos as mudanças que vão ocorrendo no personagem. Porém, eu senti falta de algumas coisas, como MOSTRAR o que houve com Joe para ele estar trabalhando na Central, qual o seu problema com a filha e o porquê do julgamento.O melhor é MOSTRAR e não dizer.

Tanto o roteiro como a atuação de Gyllenhaal junto com a firme direção, superou essa “necessidade”. Ao longo do filme, o espectador vai observando aspectos da personalidade de Joe, pela forma como ele conduz o caso da mulher sequestrada, às vezes sereno e calmo. Outras vezes explosivo com as pessoas que trabalham na polícia.

A forma como ele vai desvendando o mistério da mulher, do marido e os filhos, somado aos problemas que sempre o afligem em relação ao julgamento que haverá no dia seguinte. Os diálogos com o parceiro que vai testemunhar no julgamento. Tudo vai se revelando! A verdadeira natureza de Joe! Os aspectos psicológicos! Como ele vai se desmanchando e se reconstruindo! Tudo através do telefone da Central e do seu celular! Nenhuma tomada externa! Nenhum flashback!

Tudo só roteiro, direção e performance de Gyllenhaal. Portanto, um ótimo filme!

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.