O Sinal: uma história de retorno para casa
O desaparecimento de uma astronauta desencadeia uma busca desesperada por respostas por parte de sua família. No entanto, à medida que se aprofundam, o perigo aumenta não só para eles, mas para o mundo inteiro.
Paulo Bocca Nunes
Você pode se perguntar o que uma plantação de milho tem a ver com ficção científica. O que se pode dizer é que pode haver tudo, dependendo do efeito para a trama que se quer conseguir.
O Sinal é uma série estrelada por Florian David Fitz, Peri Baumeister e Yuna Bennett, e dirigida por Sebastian Hilger e Philipp Leinemann. Há uma mistura de elementos de outros gêneros como mistério, suspense, thriller, ação, drama familiar e ficção científica distribuídos em quatro episódios. Mesmo a ambientação sendo em um futuro incerto, há um tom bastante familiar dos filmes de ficção científica da década de 1980.
A série captura os espectadores com sua trama envolvente e conceito intrigante. A série navega com sucesso pelo delicado equilíbrio entre esses gêneros, criando uma narrativa cheia de suspense que mantém o público preso desde o início.
A história apresenta a astronauta Paula, que deixa marido (Sven) e sua filha, Charlie, na terra e passa um período em uma estação internacional no espaço, junto com outros astronautas de nacionalidades diferentes. Em certo momento, Paula capta uma mensagem estranha que parece ser um contato alienígena. Apenas repete a saudação “Alô”. Ela relata o ocorrido a um de seus colegas de estação espacial, mas ele não parece ser alguém plenamente confiável.
Ao explorar a possibilidade de um encontro alienígena, “O Sinal” levanta questões instigantes sobre a resposta da humanidade ao desconhecido, adicionando profundidade ao enredo geral. Se a humanidade não está preparada para receber povos de outros sistemas solares, a sua primeira reação será a de receber com hostilidade. A justificativa será a de tecnologia altamente avançada ou a presença de organismos celulares perigosos e desconhecidos a todos os cientistas do mundo. De alguma forma, O Sinal lembra um pouco outra série, dessa vez da Apple TV, a série Constellation.
Enquanto o drama familiar é o pano de fundo para a trama, o mistério sobre a voz que Paula ouviu na estação internacional se arrasta até o final, quando é solucionado. A descoberta de Paula também alertou os governos mundiais de que se tratava de uma raça alienígena altamente desenvolvida, que poderia destruir a Terra. Dessa forma, foi decidido destruir a nave no momento em que ela pousasse. Para isso foram usadas as coordenadas fornecidas por Paula sob coação ao seu colega de Estação espacial, Hadhi.
Ao retornar para a Terra, inicia-se o grande mistério. Paula é casada com Sven e tem com ele uma filha com problemas auditivos, Charlie. Ao ver a reentrada da nave na atmosfera, Charlie percebe que há algo errado. Na viagem de retorno para a Alemanha, Paula envia mensagens enigmáticas para Sven. Um acidente no avião de Paula dispara uma reação em órgãos governamentais e espaciais. Uma investigação passa a ser feita e Sven e Charlie correm perigo iminente. Ninguém pode confiar em ninguém. Quem parece ser aliado pode ser o pior dos inimigos.
O Sinal é um mistério e um thriller psicológico mais do que uma história de ficção científica. Como em um filme de mistério, cada elemento, cada cena pode acrescentar uma peça no quebra-cabeças. O maior mistério é, no entanto, a mensagem de áudio que Paula recebeu enquanto estava na estação internacional. Quem estaria se aproximando da Terra? Com que objetivos?
UM OLHAR SOBRE A MINISSÉRIE
O Sinal é uma série que conhece as suas limitações, pois não tem o orçamento de outras produções de ficção científica, como Interestelar. Para criar uma série espacial espetacular, são necessários milhões de dólares, algo somente possível em Hollywood. Porém, nessa minissérie há uma história para contar, uma trama consistente, um pano de fundo que mostra o drama pessoal de uma família, os conflitos internos dos personagens principais e até mesmo abordagens morais e éticas que envolvem os personagens coadjuvantes.
O desenvolvimento da trama busca mostrar a trajetória de Paula, desde o seu treinamento como astronauta até o seu momento derradeiro em toda a história em forma de flashbacks. Tudo leva a crer que Paula estava sofrendo de alucinações e estava sofrendo os efeitos de uso de medicação imprópria para astronautas. O conflito de Sven entre as evidências contra Paula e o seu sentimento de que alguma coisa estava errada, levando em consideração as mensagens trocadas entre os dois, faz com que o espectador mergulhe em um mistério que pode levar a uma conspiração internacional de graves consequências. Todos os indícios estão desde os primeiros momentos do primeiro episódio, quando Paula demora a acionar o sistema de paraquedas na cápsula que retorna à Terra juntamente com seu colega astronauta, Hadi.
A série termina bem, um final bastante aprazível, mesmo se percebendo algumas incongruências. Há um caráter familiar, com bons sentimentos e sem conflitos morais ou filosóficos que abalem essa estrutura. Existem momentos, nos diálogos entre Svan e Charlie, que percebemos questões importantes nos relacionamentos familiares. Não houve profundidade nesse aspecto, é bem verdade, porém não houve uma superficialidade que caracteriza outros filmes e séries mais preocupados em entregar uma ação desenfreada do que mostrar personagens e como eles vivem as suas vidas enquanto resolvem os seus conflitos.
Tivemos boas atuações, mas não se pode dizer que tenham sido excelentes ou impactantes. O roteiro, de certa forma, contribuiu para isso, bem como a direção. A série não veio para marcar a história do cinema como Interestelar, por exemplo. No entanto, Yuna Bennett (Charlie), Peri Baumeister (Paula), Florian David (Sven) e Sheeba Chaddha (Benisha Mudhi) entregaram interpretações eficientes e bem construídas.
Os efeitos especiais não receberam um orçamento generoso, mas garantiu à minissérie um produto de boa qualidade. A direção não foi espetacular, mas também garantiu um espetáculo razoável para o público.
O SINAL E STAR TREK (aqui tem spoiler)
Enquanto estava na estação espacial, Paula ouviu o que seria uma mensagem vinda do espaço profundo que repetia sempre a saudação “Hello” (“Alô”, em inglês) vinda de um objeto que se aproximava da Terra. Isso poderia significar que se tratava de uma mensagem de extraterrestres. Paula compartilhou essa informação com Hadi, seu colega astronauta, que, a princípio, tentou convencê-la de que sua suposta descoberta era resultado das alucinações crônicas. A princípio Paula ficou abalada com a ideia de que tudo aquilo estava na sua cabeça. Mas depois percebeu que Hadi estava trabalhando para sabotá-la. Hadi conseguiu de Paula as informações de onde e quando a suposta nave alienígena iria aterrissar na Terra.
A história segue mostrando Sven e sua filha Charlie se envolvendo em uma conspiração, que envolve a chegada da suposta espaçonave alienígena e a descoberta das verdadeiras intenções da patrocinadora da expedição em que Paula e Hadi estavam, a magnata Mudhi. Três meses depois ela foi presa e Sven e Charlie vão até o verdadeiro local onde deveria aterrissar a espaçonave, segundo os cálculos deixados por Paula.
Nesse momento, o que se percebe é que o objecto que aterrissa não é na verdade um OVNI, mas a sonda Voyager 1 lançada pela NASA em 1977 que transportava um disco fonográfico contendo uma mensagem de saudação dos seres humanos da Terra. O repetido “Olá” que Paula ouviu foi resultado de uma falha no toca-discos e de uma parte da mensagem sendo reproduzida continuamente.
Nenhum alienígena chega à Terra, mas as cenas finais terminam com uma montagem de reportagens concluindo que “alguém lá fora enviou a sonda de volta” e que isso deveria ser visto como um lembrete de que a humanidade precisa encontrar uma maneira de se unir. Outra emissora diz “Este evento nos lembra que há muito tempo queríamos ser alguma coisa. Que tínhamos uma mensagem comum”. E finalmente uma outra emissora termina dizendo “Neste momento, sentimos uma profunda tristeza, porque não cumprimos essa mensagem. Nunca nos unimos, nunca nos tornamos um. A mensagem que recebemos hoje não veio de um planeta estrangeiro ou de outra civilização. veio de nós. Sabemos o que temos que fazer. Algo tem que mudar.”
Nesse ponto, entre tantas outras referências a outros filmes e séries, percebe-se a referência a Star Trek: o filme em que uma sonda espacial está em busca de seu criador chamado de V’ger, que na verdade é a sonda Voyager 6.
O final da minissérie alemã, O Sinal, não foi necessariamente impactante, mas deu um final chavão: mocinhos se dando bem e bandidos sendo presos. Não se pode afirmar que haverá uma continuação, pois não houve um gancho que remete a uma trama interessante. No entanto, isso parece ser um assunto para mais adiante.
CONCLUSÃO
A minissérie alemã entrega uma trama envolvente e cheia de reviravoltas e surpresas. Se no começo tudo leva a crer que Paula tem transtornos psicológicos, já que tomava medicamentos e mesmo assim conseguiu fazer parte da missão da estação espacial, à medida que a história avança, vamos encontrando uma grande conspiração mundial com muitos grupos políticos e econômicos interessados.
Em meio a tudo isso, uma família está envolvida e precisa provar que tanto Paula, quanto Sven e Charlie são inocentes das acusações que sofrem. O ritmo não é dos mais intensos e isso contribui para um desenvolvimento eficiente dos personagens principais. Mesmo não sendo uma grande minissérie ainda assim garante um bom resultado final e divertimento garantido.
As cenas finais em que Sven e Charlie encontram o objeto que veio do espaço e descobrem do que se trata, de certa forma é emocionante. Também guarda outro mistério: se a sonda espacial Voyager 6 foi enviada ao espaço profundo, como e de que maneira ela retornou ao planeta de origem? Será que uma civilização alienígena a encontrou e a programou para retornar? Se a resposta for sim, com que motivo?
Essas perguntas não garantem uma segunda mini temporada, mas podem sugerir alguma coisa, dependendo do sucesso dessa minissérie. Confira na Netflix.
Assista ao vídeo sobre esse mesmo artigo, que está no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, acione as notificações, curta o vídeo e deixe o seu comentário.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.