O trailer de muita ação prometeu um filme surpreendente. Depois da estreia, despontou entre os mais assistidos. Porém, o filme dividiu opiniões tanto de público quanto da crítica especializada.
Paulo Bocca Nunes
A Netflix mais uma vez mostra a sua generosidade em trazer para sua plataforma filmes e séries de várias partes do mundo. A bola da vez é um filme de ação polonês, dirigido por Daniel Markovicz e com roteiro de Dawid Kowalewicz. A história tem algumas reviravoltas que quase se desencontram e com algum esforço se mantêm na mesma linha.
Filmes que tenham como tema de fundo uma conspiração internacional chama a atenção do público ávido por cenas eletrizantes de luta, batalhas e muito tiroteio. O que se espera assistir é um personagem que tenha pinta de herói, que acaba se sacrificando pelo bem do grupo, enfrentando todo o tipo de adversidade e ainda dê uma pegada em uma mocinha bonita.
O filme segue um grupo de mercenários que são ex-militares altamente treinados, liderados por Fang, e devem ir a uma ilha para buscar as fotos de uma jornalista que provam as más intenções de um general ligado ao governo. O grupo descobre que um cientista inventou uma máquina que lança raios que afetam o cérebro dsa pessoas. O efeito é devastador: as pessoas ficam descontroladas, passam a agir como animais ferozes e se tornam insensíveis à dor. Tornam-se quase zumbis.
A partir desse ponto começam os problemas, pois as fotos não são mais importantes para a trama e sim o equipamento. Entra em cena um político importante que se passa de amigo de Fang e pede para que ele traga a tal arma. Entram em cena o cientista que inventou a arma e a filha dele.
Em mais de uma hora e meia de filme, tudo é pouco relevante: as tais fotos serviram pra nada no começo do filme, pois nunca entraram de fato na trama. A tal arma foi pouco explorada e se tornou um objeto de decoração em algumas cenas do filme. Surge um grupo de compradores da arma que, por si só, é um absurdo. Há um começo de clima entre Fang e a filha do cientista que nunca se realiza e, como todo o filme, é extremamente superficial.
No terceiro ato há uma reviravolta que mostra quem é o verdadeiro vilão. No entanto, isso ficou muito evidente muito antes disso. A forma como o roteiro e a direção conduziram o filme não causou impacto no espectador. Foi bastante previsível, na verdade. Para piorar, a maneira como ele foi desmascarado chegou a ser risível.
A tal arma secreta é outro detalhe um tanto esquisito na história. Trata-se de um dispositivo que, primeiro foi construído para servir para o tratamento de uma doença, mas acabou se transformando em um tipo de arma que deixa as pessoas parecidas com zumbis. O detalhe é o vilão da história e os outros que entram no negócio para comprar a tal arma. Sinceramente, não faz qualquer sentido.
A sequência que mostra a perseguição de um avião por um exército, sem que os soldados acertem um tiro no avião ou em Feng e seu amigo, lembrou muito bem os stormtroopers. Algumas sequências foram razoavelmente bem executadas, mas sem qualquer brilho ou possibilidade de nos lembrar desse filme. Em outras, fica claro que estão executando um balé não muito bem ensaiado. Apesar de um elenco bastante bom, como Piotr Witkowski, não conseguiram dar vida a esse filme carente de alma.
No terceiro ato, em que se defrontam protagonista e antagonista, há uma troca de discursos que relacionam os jogos políticos locais. Apenas texto ou, como dizia Sid Field em seus livros sobre roteiro de cinema, “cabeças falantes”. Não há, portanto, algo novo nisso. Apenas o entretenimento pelo entretenimento.
O final tenta deixar um pequeno fio solto para uma continuação, porém, não se pode afirmar que isso não seja apenas uma “tática de roteiro” para o caso de o filme ter algum sucesso de público. Francamente, não se pode apostar muito nisso. Será um daqueles filmes com uma estreia razoável e depois vai se perdendo no meio de tantas opções da plataforma.
Mesmo que não tenha um roteiro favorável, ou tenha uma trama um pouco atrapalhada, com reviravoltas meio previsíveis, para quem aprecia o gênero de ação, aventura e suspense sem se importar com qualidade, o filme é uma pedida razoável.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.