Os dragões das mitologias e de Crônicas de Gelo e Fogo
Dragões não existem no mundo real. Estão presentes apenas na mitologia dos mais diversos povos e civilizações. Com a obra Crônicas de Gelo e Fogo, passou-se a ter mais uma visão desses seres que trazem consigo a admiração e espanto do ser humano.
Paulo Bocca Nunes
Os dragões ocupam um lugar de destaque em muitas mitologias espalhadas pelo mundo, recebendo um grande destaque. De um modo geral, os dragões são seres representados como sendo animais de grandes dimensões e de forma monstruosa. Alguns apresentam aspecto de répteis, asas, plumas, poderes mágicos e cospem fogo.
Acredita-se que as primeiras representações de dragões tenham surgido por volta de 40 mil anos a.C., na forma de pinturas rupestres feitas por aborígenes australianos. No entanto, pode ser creditada essa ideia de um ser monstruoso aos fósseis de dinossauros, ossadas de crocodilos e baleias, que entraram no imaginário dos humanos de suas épocas.
Certamente o grande destaque de Canções de Gelo e Fogo foram os dragões. No entanto, George Martin não os criou meramente do que se conhece pela cultura pop, mas foi a sua própria criação.
Para fazermos uma análise mais aprofundada, é necessário posicionar os dragões do Extremo Oriente de um lado e os do Oriente Médio e da Europa de outro. Também iremos observar outros exemplos.
OS DRAGÕES EM ALGUMAS CULTURAS
Os dragões fazem parte do imaginário popular desde o início da existência humana. Porém, ao longo do tempo, cada povo espalhado pelo mundo foi absorvendo uma ideia particular e própria ao longo dos tempos.
Os dragões para os povos do Oriente, como a China e o Japão, são símbolos tradicionais e carregam o significado de sabedoria, força, poder, proteção e riqueza. São benevolentes e simbolizam as forças positivas do Universo, como a abundância, sorte, prosperidade e fortuna. Também representa o elo que liga os homens às divindades celestiais.
Segundo as lendas locais, alguns desses dragões habitam nas águas e controlam a chuva, os rios, lagos e mares. Os terremotos e maremotos, atividades naturais, estão associados aos dragões pela força que os seus movimentos exercem nas profundezas da Terra.
Por sua vez, os dragões do Oriente Médio e europeus são vistos como malignos e vilões. Representam as forças do mal, as forças naturais hostis, o caos e a destruição. Com a chegada do cristianismo, o dragão passou a representar o próprio Demônio, inimigo de Deus.
Algumas culturas, como a nórdica, Jormungand tinha o aspecto de uma serpente gigante, podendo dar a volta no mundo e ainda encontrar a sua cauda. Em algumas partes da Europa, Wawel era um dragão de 7 cabeças. Todos eles com características malignas.
Analisando outras culturas como, por exemplo, os astecas e maias, Quetzalcóatl era um tipo de pássaro-serpente, que possuía energia para impulsionar o crescimento da vida vegetal na Terra e se transformar em homem e caminhar entre os humanos.
As aparências também se diferem bastante. Enquanto o dragão oriental se parece com uma serpente gigantesca com quatro patas e com garras, mas não têm asas. Enquanto que o europeu e do Oriente Médio foi criado como sendo um monstro feroz, quadrúpede alado.
OS DRAGÕES NA LITERATURA
Na literatura encontramos muitos exemplos de dragões como personagens. Entre eles temos Smaug, entre os mais notáveis. Esse dragão é o principal antagonista na obra O Hobbit, de J.R.R. Tolkien. Esse e outros dragões da obra do escritor inglês tiveram inspiração nas lendas que envolvem Beowulf e Siegfried.
Quanto a George Martin, ele faz uma descrição que um escritor da Idade Média nunca faria, pois a visão que se tinha dessas criaturas era totalmente diferente, a começar pela sua aparência. Os dragões receberam uma concepção que o aproxima de um morcego, pois as patas dianteiras terminam em asas. Alguns especialistas em anatomia animal afirmam que essa é uma forma “mais correta”, pois não existem espécies de animais vertebrados com seis membros. De certa forma, a concepção dada a Smaug na adaptação em filme foi bem semelhante.
A grande diferença dos dragões de Martin para todos os outros é que, em qualquer uma das mitologias antigas, os humanos não cavalgam os dragões. Na obra de Martin, os dragões são cavalgados pelos membros da família Targaryen desde que viviam em Valíria, a terra que ficava no continente de Essos e foi destruída por um terrível cataclismo.
Esses dragões também se caracterizam pela personalidade que cada um tem e serem inimigos impiedosos ou serem pacíficos e dignos de adoração. Isso se observa quando os membros da família visitam a parte do castelo em que estão os ossos de dragões antigos. Suas histórias são cultuadas e guardadas na memória e passadas de geração em geração.
A obra de George Martin se constitui, portanto, em mais um grande diferencial tanto na literatura fantástica quanto na cultura pop.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.