Projeto Adam: a nova coisa do mesmo de sempre
O gênero de ficção científica tem recebido destaque nas plataformas de streaming e cinema nos últimos anos. E viagem no tempo tem sido o assunto preferido desses filmes. Uma das novidades de 2022, Projeto Adam, bateu recorde de acessos, mas qual é a novidade? Ou será que a novidade é a mesma de sempre?
Paulo Bocca Nunes
Talvez todas essas ideias, nem tão geniais, tenham surgido em uma tarde em que os quatro roteiristas se reuniram para decidir sobre o que iriam escrever e fazer o astro que interpreta o personagem onanista Deadpool.
A mistura de viagem no tempo com questões de relações familiares mal resolvidas pode ser bastante interessante, mas a trama nesse filme precisaria ficar melhor amarrada. Até mesmo a questão afetivo-amorosa entre Adam Reed adulto com sua mulher, Laura, não foi algo tão aprofundado para haver uma identificação com o público. Inclusive, em certos momentos do filme deu a impressão de que foi esquecida e surgiu aqui e ali só para deixar alguma presença. Quanto à mãe de Adam, ficou também meio esquecida e sem muita explicação dos motivos que levaram o rapaz a fazer dela quase uma culpada pela morte do pai.
O que ficou muito incerto e insabido é a tal sociedade do futuro que tem algum problema que motivou o piloto Adam a voltar ao passado para impedir o seu pai de criar a viagem no tempo. Tudo o que se soube sobre esse problema e o problema entre Maya e Louis, o pai de Adam, foi mais contado do que mostrado, ou seja, o filme se transformou em uma contação de histórias.
Com tudo isso, talvez a questão da viagem no tempo, da forma como foi mostrada nesse filme, tenha sido o mais destacado. Não pela inovação, mas pela forma como ocorreu. Na verdade, pareceu que os roteiristas não estavam preocupados com questões científicas, como o tal “efeito borboleta”, algo tão falado em filmes desse tipo. Até mesmo, em determinada cena, Laura, a mulher de Adam, comenta com ele que não poderia ter acontecido aquele encontro entre os dois Eu’s, o Adam adulto e o pré-adolescente. Esses encontros que ocorreram entre os dois Adam, Louis e as duas Maya da mesma forma foi algo que não se deu a menor importância para questões científicas estabelecidas em filmes anteriores do mesmo gênero. Tudo parecia seguir apenas a cartilha do “Vamos nos divertir”.
As cenas de ação, correria, voos em naves espaciais foram interessantes e com alguma competência. Mas, o CGI foi um tanto fraco. A direção de Shawn Levy foi competente até o nível do “deu pro gasto”. Teve alguma diversão nos diálogos entre as duas versões de Adam. Filme feito para divertir e não trazer muita enrolação e vai direto para a ação. Fotografia boa que não compromete. Porém, com um elenco tão qualificado, e com uma excelente atuação do garoto Walker Scobell, os quatro roteiristas poderiam dar um pouco mais de capricho no roteiro, pois o diretor tem muita qualidade pra mandar um filme mais robusto.
O filme estreou em março de 2022 e está disponível na Netflix.
Assista ao vídeo sobre esse mesmo artigo, que está no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, acione as notificações, curta o vídeo e deixe o seu comentário.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.