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Projeto Adam: a nova coisa do mesmo de sempre

O gênero de ficção científica tem recebido destaque nas plataformas de streaming e cinema nos últimos anos. E viagem no tempo tem sido o assunto preferido desses filmes. Uma das novidades de 2022, Projeto Adam, bateu recorde de acessos, mas qual é a novidade? Ou será que a novidade é a mesma de sempre?

Paulo Bocca Nunes

Falou em ficção científica podemos imaginar algumas “coisas”: seres extraterrestres, sociedades distópicas, inteligência artificial, viagens espaciais ou viagens no tempo. Aliás, esse último tem sido o preferido de muitos roteiristas. O tema é muito conhecido desde o final do século XIX, quando H.G. Wells publicou o romance A máquina do tempo. Na época, os conhecimentos científicos, principalmente da física, não eram avançados o suficiente para trazer uma luz sobre questões relacionadas à viagens no tempo. A partir da Teoria da Relatividade e da física quântica, tudo o que se relaciona a viagem no tempo passou a servir de base para os roteiristas. Mas, foi com o filme Interestelar e os filmes da Marvel que tudo o que se debate sobre esse assunto passou a ser quase canônico.

O mais recente filme de ficção científica que trata sobre viagem no tempo é Projeto Adam, com a direção de Shawn Levy e estrelado por Ryan Reynolds, Jennifer Garner, Zoë Saldaña, Mark Ruffalo, Catherine Keelner e o jovem Walker Scobell.

O filme é divertido, traz Ryan Reynolds com suas piadinhas e caras e bocas, Mark Ruffalo faz um cientista meio Bruce Banner sem se transformar em algo verde e Zoë Saldaña sem a maquiagem de Gamora, mas com um humor parecido. Também há fortes referências outros filmes clássicos como ET e De volta ao futuro. Algumas músicas retrô dos anos 1980 e, nesse caso, é outra referência, dessa vez a Guardiões da Galáxia. Sem falar em cenas de luta que teve o uso de sabres de luz duplo de Darth Maul, de Star Wars: Episode I (1999). Tudo bem que foi muito bacana isso, afinal de contas estamos falando de um filme com Ryan Reynolds e tudo precisa ser engraçado enquanto ele faz pose de um cara sério, mas que se enrosca em situações imprevisíveis. Com certeza, a melhor “homenagem” que esse filme pdoeria dar, foi uma ds cenas finais em que o garoto Adam surge em cena como um dos super-heróis dos filmes da DC ou da Marvel.

Talvez todas essas ideias, nem tão geniais, tenham surgido em uma tarde em que os quatro roteiristas se reuniram para decidir sobre o que iriam escrever e fazer o astro que interpreta o personagem onanista Deadpool.

A mistura de viagem no tempo com questões de relações familiares mal resolvidas pode ser bastante interessante, mas a trama nesse filme precisaria ficar melhor amarrada. Até mesmo a questão afetivo-amorosa entre Adam Reed adulto com sua mulher, Laura, não foi algo tão aprofundado para haver uma identificação com o público. Inclusive, em certos momentos do filme deu a impressão de que foi esquecida e surgiu aqui e ali só para deixar alguma presença. Quanto à mãe de Adam, ficou também meio esquecida e sem muita explicação dos motivos que levaram o rapaz a fazer dela quase uma culpada pela morte do pai.

O que ficou muito incerto e insabido é a tal sociedade do futuro que tem algum problema que motivou o piloto Adam a voltar ao passado para impedir o seu pai de criar a viagem no tempo. Tudo o que se soube sobre esse problema e o problema entre Maya e Louis, o pai de Adam, foi mais contado do que mostrado, ou seja, o filme se transformou em uma contação de histórias.

Com tudo isso, talvez a questão da viagem no tempo, da forma como foi mostrada nesse filme, tenha sido o mais destacado. Não pela inovação, mas pela forma como ocorreu. Na verdade, pareceu que os roteiristas não estavam preocupados com questões científicas, como o tal “efeito borboleta”, algo tão falado em filmes desse tipo. Até mesmo, em determinada cena, Laura, a mulher de Adam, comenta com ele que não poderia ter acontecido aquele encontro entre os dois Eu’s, o Adam adulto e o pré-adolescente. Esses encontros que ocorreram entre os dois Adam, Louis e as duas Maya da mesma forma foi algo que não se deu a menor importância para questões científicas estabelecidas em filmes anteriores do mesmo gênero. Tudo parecia seguir apenas a cartilha do “Vamos nos divertir”.

As cenas de ação, correria, voos em naves espaciais foram interessantes e com alguma competência. Mas, o CGI foi um tanto fraco. A direção de Shawn Levy foi competente até o nível do “deu pro gasto”. Teve alguma diversão nos diálogos entre as duas versões de Adam. Filme feito para divertir e não trazer muita enrolação e vai direto para a ação. Fotografia boa que não compromete. Porém, com um elenco tão qualificado, e com uma excelente atuação do garoto Walker Scobell, os quatro roteiristas poderiam dar um pouco mais de capricho no roteiro, pois o diretor tem muita qualidade pra mandar um filme mais robusto.

O filme estreou em março de 2022 e está disponível na Netflix.

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.

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