Mistério Temporal em “Tempo”: um filme de Shyamalan
Uma ilha paradisíaca guarda um grande mistério e uma família precisa encarar uma situação familiar bastante complicada e, junto com outras pessoas, encontrar uma forma de sair da ilha. Porém, algumas coisas não ficaram muito bem encaixadas.
Paulo Bocca Nunes
O aclamado diretor M. Night Shyamalan traz às telas, desta vez na Netflix, um thriller que promete ser surpreendente e interessante, mas vai deixando pelo caminho algumas perguntas que pedem respostas. O filme inicia com uma ideia e premissa interessante, apresenta personagens que também prometem ser interessantes. À medida que o filme vai seguindo a história vamos conhecendo um pouco mais a história de cada um, mais pelas consequências que os levaram a um resort numa localidade exuberante do que pelos tão manjados flashbacks de muitos filmes.
O QUE É O FILME
O filme “Tempo”, originalmente em 2021, é um thriller de suspense e terror dirigido por M. Night Shyamalan, que já dirigiu sucessos como “Fragmentado” e “O Sexto Sentido”. A história segue a família de Guy, Prisca e o casal de filhos, Trent e Maddox. Juntos com um grupo de pessoas, decidem passar férias em um resort e são convidados a conhecerem uma praia afastada, mas muito bonita. Ao chegarem lá, todos começam a perceber que meia hora no local equivale a passar um ano nas vidas de cada um.
O filme inicia com a família decidindo fazer a viagem de férias. Percebe-se que há alguma coisa que envolve essa decisão e o casal não parece muito sintonizado entre si. Os filhos, por serem pequenos, ficam alienados ao que está acontecendo. A situação fica centrada em Prisca que dá mostras de carregar algum problema. As coisas não mudam ao chegarem ao hotel em que decidiram passar as suas férias.
O gerente do hotel se mostra muito simpático e sugere que a família passe o dia em uma praia particular. Os quatro se juntam a uma segunda família composta por um médico, a sua mãe e a esposa, uma modelista, além do filho pequeno do casal. Além deles há outro casal.
Depois de um tempo na praia isolada, surge um cadáver flutuando na água e isso dá início a todo o conflito. Todos vão percebendo diferenças em seus corpos e a cada meia hora, eles envelhecem um ano. Começam também a surgir os problemas que cada família está enfrentando. Em cada grupo familiar há alguém com uma doença muito grave e as enfermidades vão se manifestando. Isso levanta os conflitos que cada grupo carrega e as diferenças vão consumindo o psicológico ao ponto de afetar o comportamento.
SOBRE O FILME
A história é baseada na graphic novel Sandcastle, de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters, publicada em 2011 pela editora francesa Atrabile. A adaptação de Shyamalan segue a premissa principal, mas há algumas mudanças nos personagens, incluindo os nomes.
O que o diretor Shyamalan busca explorar são os conflitos externos ao problema que a trama apresenta. Então, temos questões que envolvem o divórcio num momento bastante delicado do casal quando também se enfrenta uma doença grave, ou o casal onde um médico conceituado traz consigo traumas de família e profissão, mas tem uma situação grave com a mãe e a esposa. Mais adiante, pela peculiaridade do local que faz com que todos envelheçam rápido, vemos duas crianças se tornando adolescentes e as mudanças acontecendo tão rápido que a garota engravida e dá a luz.
Muitas etapas da vida vão sendo puladas sem o devido amadurecimento e algumas coisas, principalmente com Trent e Maddox vão se tornando um tanto estranhas. As decisões e ações que eles executam deveriam vir de um amadurecimento mais amplo conquistado entre a família, mas acima de tudo em uma escola. Durante a estada deles na praia, não houve uma forma de esclarecimento sobre aspectos que só se conquista com algum estudo.
Há cenas bastante chocantes, como as formas de escapar da praia totalmente sem sucesso. Uma delas tentando subir pelo penhasco e outra a nado. Ou a cena de um dos integrantes de uma das famílias que se contorce e se distorce até ficar deformado. Não poderia faltar convulsões aterradoras.
Ao final, a solução de como escapar da ilha ou o que estava acontecendo, quem era o responsável e o motivo que levou as pessoas ao local para sofrerem as consequências de uma praia sinistra, deixa o espectador frente a frente com algo próximo do lugar comum. Tudo explicado e resolvido como um livreto de conto que termina bem.
O filme é bom até o momento em que somos levados a seguir os personagens e seus conflitos internos. Quando seguimos a estrutura externa da história, ela se perde um pouco e leva o espectador a uma catarse sem uma solução eficaz e efetiva. O único spoiler que será dito é: Há sobreviventes, mas ficamos presos à pergunta “Tudo bem, e agora o que acontece com esses caras?”. Se não levarmos para a necessidade de explicar tudo e apreciarmos apenas as histórias por dentro da história motivadora, teremos uma obra considerável, porém não se pode afirmar que é a melhor de Shyamalan.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.