Warrior Nun: segunda temporada abaixo da primeira

Depois de uma primeira temporada empolgante e uma espera de dois anos, a expectativa foi de uma segunda temporada mais intensa e com solução de arcos não resolvidos. Mas, o que se viu foi frustrante.

Paulo Bocca Nunes

A série Warrior Num, disponível na Netflix, foi baseada nos quadrinhos de Ben Dunn lançados em 1997 e se chamava Warrior Num Areala. As personagens nos quadrinhos eram muito sexualizadas e quem conhecia os quadrinhos, quando soube que a Netflix faria uma adaptação, na certa ficou imaginando que seguiria pelo mesmo caminho. Claro que não foi nada disso que aconteceu.

Na primeira temporada, a jovem Ava morreu e acordou em um necrotério graças a um halo divino colocado em suas costas por um grupo de freiras guerreiras para escondê-lo de um grupo de mercenários. Ela adquire superpoderes e passa a fazer parte desse grupo de freiras que caçam e enfrentam demônios que querem dominar o mundo.

Ao longo da primeira temporada há arcos diferentes, mas bem construídos, como o de Ava e de Lilith, uma das freiras que dizia ser a herdeira do Halo Divino que Ava carregava às costas. Um quarto arco foi a disputa interna dentro da Igreja Católica e o sucessor ao Papa. Todos esses arcos se encontraram dentro do objetivo principal que era chegar até o anti-Cristo que estava prevista a sua chegada. 

Outros arcos foram bem construídos. Um deles é da personagem Shotgun Mary, que trouxe um ritmo bastante dinâmico devido ao seu caráter e personalidade explosiva, mas fiel à Ordem da Espada Cruciforme e sempre desconfiada da Igreja Católica. Apesar da importância da personagem, ela não voltou para a segunda temporada, mas foi citada como tendo morrido depois do combate entre as freiras guerreiras e o anjo Adriel, no Vaticano.

Na segunda temporada, acreditava-se que começaria de onde terminou a primeira. No entanto, começou quatro meses depois, mostrando Ava e Beatrice trabalhando em um bar em outro país. O que se soube foi tudo explicado pelas personagens, mas nada esclarecedor sobre como terminou a batalha no Vaticano. Apenas se disse que algumas freiras sobreviveram e outras estavam desaparecidas. 

A série trouxe boas novidades para o elenco na segunda temporada, como Yasmine Amunet (Meena Rayann), uma freira copta que também é acadêmica e jornalista freelancer, Miguel (Jack Mullarkey), um ativista carismático e misterioso, que também se envolve na missão de Ava; o cardeal William Foster (Richard Clothier), o segundo em comando no Vaticano. O problema é que não chegaram a criar uma ligação com a série. Dava a impressão de que estavam em outra série e caíram em Warrior num meio sem querer. O personagem Miguel chega a ser uma surpresa quando revela quem ele realmente é. O cardeal Foster chamou a atenção como um despiste do foco do problema que o Papa e Ordem das Freiras têm que enfrentar. Algo bastante esquisito foi o surgimento de uma quarta personagem, Irmã Dora (Sadiqua Binum). Deu a impressão de que alguém se deu conta que a personagem Shotgun Mary realmente fez muita falta e Dora entrou para preencher de alguma forma esse vazio. 

As reviravoltas e fechamentos de histórias de Irmã Camila (Olivia Delcán), incluindo uma pequena fraqueza que não combina com uma freira; do Padre Vincent (Tristán Ulloa); da Madre Superiora (Sylvia De Fanti); Irmã Lilith (Lorena Andrea), principalmente no final, e Irmã Beatrice (Kristina Tonteri-Young) parece terem sido feitas de qualquer jeito por falta de inspiração do roteirista e todos queriam terminar aquilo de uma vez.

A segunda temporada começou muito fria, deu aquecida pela metade, mas foi se perdendo na trama, se desviando e voltando ao seu rumo, mas saindo de novo e se perdendo de vez. O final, ao invés de trazer tensão, deixou o público um tanto confuso sobre a forma como o grupo de freiras iria eliminar o inimigo, Adriel.

PONTOS POSITIVOS

Locações, cenários, efeitos especiais e lutas marciais merecem os melhores elogios. Algumas locações são bastante conhecidas de outras séries, fato que não diminui a produção.

O CANCELAMENTO DA SÉRIE

Depois de duas temporadas, a série não terá uma terceira. A informação surgiu após o showrunner, Simon Barry, ir ao Twitter comunicar sobre a decisão da Netflix. “Minha sincera gratidão a todos os fãs que trabalharam tanto para divulgar esta série”, declarou ele.

Não há informações oficiais sobre o cancelamento de Warrior Nun pela Netflix, entretanto, há indícios de que a plataforma não manteria a série para o futuro. De acordo com o site Collider, a Netflix optou em fazer um marketing leve para Warrior Nun em função dos lançamentos previstos para os meses de outubro, novembro e dezembro de 2022.

O que se pode perceber é que os executivos da plataforma entendiam que Warrior Nun não fazia parte dos planos da gigante do streaming. Um dos fatores foi a concorrência com outras estreias, como Wandinha, que acabou sendo a maior estreia da história da Netflix. Outro fator pode ter sido o fato de a Netflix ter perdido assinantes pela primeira vez na história e passou a avaliar de forma mais cautelosa sobre o futuro de suas produções, principalmente as séries.

Não contente com essas possíveis causas do cancelamento, muitas pessoas usaram a plataforma do passarinho azul para acreditar que o cancelamento tenha sido a relação homoafetiva entre duas das principais personagens, Ava e Beatrice. No terceiro episódio da segunda temporada, Ava e Beatrice estão em Madrid e Ava, como narradora, diz que estavam em um lugar para sair e se divertir com uma amiga. No último episódio as duas se declaram uma para a outra e acontece um beijo. Inclusive foi em um momento de forte tensão, pois as duas partiriam para uma missão muito perigosa. No final, há uma despedida também de forte comoção. 

Em outras séries, também da Netflix, há cenas muito mais intensas de amor afetivo entre duas mulheres. Na série de Supergirl, a jovem kriptoniana Kara foi adotada por      sal que já tem uma filha, Alex Denvers. Depois de adulta, Alex se torna uma agente do governo e, já uma mulher madura, acaba se descobrindo e se apaixona pela policial, Maggie. As duas, inclusive, se tornam noivas. Em outra série, Lendas do Amanhã, a personagem Sara Lance, que usa o codinome de Canário Branco, conhece Alex Denvers em um crossover. As duas se pegam de forma muito intensa e até acabam dormindo juntas. Inclusive, as duas personagens tiveram outras histórias com outras mulheres nas suas séries. Para completar, as duas séries não foram canceladas por causa dessas coisas. 

É claro que, se as pessoas querem enxergar que o motivo foi a história afetiva entre duas mulheres, e uma delas sendo uma freira, elas irão enxergar dessa forma. No entanto, a Netflix não foi nem um pouco clara nos motivos que levaram ao cancelamento. Com certeza, os seus diretores devem saber que o público gostou da série, mesmo que a segunda temporada tenha sido ruim. Portanto, deveria ser mais honesta e sincera para explicar e não apenas deixar do jeito que ficou. Afinal, se ela perdeu muitos assinantes, ter esse tipo de atitude de pouco caso com o seu público, só aumenta a disposição de mais cancelamentos de assinaturas. O problema é que a Netflix já se tornou um vício e a plataforma deve estar se considerando imbatível.

Houve cenas pós-créditos que sugerem uma continuação, ou uma terceira temporada. No entanto, até o momento deste artigo, a Netflix informou que não haverá uma terceira temporada.

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.