2001: A Odisseia de Um Clássico da Ficção Científica
Lançado em abril de 1968, 2001 Uma Odisseia completa 55 anos e cada vez mais faz parte da cultura pop e se constitui em um dos maiores clássicos da ficção científica.
Paulo Bocca Nunes
“2001 Uma Odisseia no Espaço” é um filme de ficção científica lançado em 1968 e dirigido por Stanley Kubrick. O roteiro é baseado em vários contos do renomado escritor de ficção científica, Arthur C. Clarke, que também colaborou no roteiro do filme.
Neste artigo iremos falar sobre os dois contos de Arthur Clarke que serviram de inspiração para a criação do roteiro, um resumo do filme e a importância e influência da obra para o gênero de ficção científica, tanto literatura quanto filme ou séries de TV.
OS CONTOS QUE INSPIRARAM “2001, UMA ODISSEIA NO ESPAÇO”
Dois contos contribuíram para o roteiro. O primeiro foi Sentinel of Eternity, escrito em 1948 para participar de uma competição da BBC, sem ter conquistado coisa alguma. No entanto, a história foi aprovada para publicação na revista 10 Story Fantasy, na edição da primavera de 1951. Depois, o mesmo conto apareceu nas coletâneas Expedition to Earth (1953), The Nine Billion Names of God (1967) e The Sentinel (1982), bem como em The Lost Worlds of 2001 (1972).
A história se passa em 1996 e é contada pelo astronauta Wilson, um veterano em uma expedição para explorar a superfície lunar. Ele se depara com uma misteriosa estrutura piramidal, cercada por um “escudo invisível” que bloqueia todas as tentativas de aproximação. Descobriu-se que a estrutura foi colocada na Lua vários bilhões de anos antes e não é produto de nenhuma civilização terrestre ou lunar.
Passaram-se vinte anos antes que o escudo invisível fosse rompido com sucesso, usando energia atômica. Com a destruição da estrutura, seus fragmentos se tornam incompreensíveis, mas pode-se perceber que são muito mais avançados do que qualquer tecnologia humana. Wilson percebe que a estrutura foi criada e colocada na Lua por alienígenas tecnologicamente avançados de fora do sistema solar. Ele cria uma teoria de que o propósito da estrutura era ser uma espécie de “sentinela” que por bilhões de anos transmitiu sinais para o espaço. A destruição da sentinela, que só poderia ser feita por uma espécie de vida capaz de realizar dominando as viagens espaciais e a energia atômica, poderia ter feito com que seus sinais cessassem, alertando assim seus criadores sobre o surgimento de vida inteligente na Terra. Wilson expressa sua crença de que os alienígenas logo estarão “voltando seu olhar para a Terra”.
O outro conto foi “Encounter in the Dawn” (Encontros ao Amanhecer), publicado em 1953 na edição de junho-julho da revista Amazing Stories. Faz parte da coletânea de contos Expedition to Earth. Essa última muito se assemelha à primeira parte do filme, na qual alienígenas influenciam os ancestrais do homem primitivo.
A história segue três cientistas, Bertrond, Altman e Clindar, que estão tripulando uma nave espacial em uma pesquisa da Via Láctea . Eles se deparam com um planeta que é muito semelhante ao seu próprio mundo natal e é habitado por uma espécie de humanóides inteligentes, porém primitivos. Os três homens fazem contato com um dos habitantes do planeta, um caçador chamado Yaan, que não entende a linguagem ou a tecnologia dos visitantes, que os considera algum tipo de deus.
Bertrond espera tirar o povo de Yaan de sua “barbárie” e começa a apresentar a Yaan novas tecnologias e conhecimentos por meio de um robô bastante avançado. No entanto, a civilização de onde vêm os cientistas está em colapso, por razões pouco claras relacionadas a “erros” e à morte das estrelas. Altman e Clindar insistem que todos abandonem a expedição e voltem para seu mundo natal. Como resultado, o povo de Yaan terá que se desenvolver sozinho, o que pode levar milhões de anos.
Antes da partida, Bertrond fala com Yaan sobre a ironia de seu encontro, porém Yaan ainda não entende o que o outro diz. Bertrond dá a Yaan uma lâmina afiada e uma tocha elétrica. Em seguida, ele embarca na nave, que decola e desaparece no céu noturno. Yaan percebe que os “deuses” se foram para sempre e volta para sua aldeia. A história termina dizendo que “mais de mil séculos à frente, os descendentes de Yaan construíram a grande cidade que chamariam de Babilônia “, revelando que o povo de Yaan são humanos pré-históricos e seu planeta, cenário da história, é a Terra.
A IMPORTÂNCIA DE “2001 UMA ODISSEIA NO ESPAÇO”
“2001 Uma Odisseia no Espaço” é significativo por muitas razões. Primeiro, o filme é uma obra-prima da técnica cinematográfica. A fotografia é espetacular, e as imagens do espaço são incrivelmente realistas e belas. O uso de técnicas de câmera inovadoras, como a câmera lenta, a câmera rápida e a técnica de abertura, adiciona um nível de profundidade e interesse visual ao filme que é raro em outros filmes de ficção científica.
Em segundo lugar, o filme é notável por seu retrato realista da exploração espacial. Antes de “2001 Uma Odisseia no Espaço”, a maioria dos filmes de ficção científica retratava o espaço de forma simplista e fantástica. O filme de Kubrick, por outro lado, tentou retratar o espaço e a tecnologia que o torna acessível de uma forma realista e científica. O filme apresenta naves espaciais realistas, estações espaciais e trajes espaciais, todos baseados em conceitos científicos reais.
Em terceiro lugar, “2001 Uma Odisseia no Espaço” é significativo por causa de sua abordagem filosófica da história. O filme tenta abordar questões fundamentais sobre a vida, o universo e tudo o mais. O enredo do filme começa com a descoberta de um monólito alienígena na África pré-histórica, e a partir daí, a história se desenrola em uma exploração do significado da vida e da evolução humana. O filme é conhecido por suas sequências finais de viagem no tempo, que apresentam imagens surreais e simbólicas que deixam a interpretação em aberto.
ELEMENTOS DO FILME QUE O TORNAM UM MARCO NA FICÇÃO CIENTÍFICA
Há muitos elementos em “2001 Uma Odisseia no Espaço” que o tornam um marco na ficção científica. Aqui estão alguns exemplos:
O realismo técnico
Como mencionado anteriormente, o filme é notável por seu retrato realista da exploração espacial. O filme usa tecnologia e conceitos científicos reais para criar um universo que parece plausível e verossímil. O uso de efeitos especiais de ponta, incluindo modelos em escala, telas de projeção traseira e trajes espaciais reais, ajuda a aumentar a sensação de realismo do filme o que o torna uma obra-prima da sincronização entre imagem e som.
A narrativa não linear
Outro aspecto que torna “2001 Uma Odisseia no Espaço” um marco na ficção científica é sua narrativa não linear e altamente simbólica. O filme é dividido em quatro partes, cada uma com seu próprio enredo e personagens. A primeira parte do filme é ambientada na pré-história, a segunda se concentra na exploração do espaço pelos humanos, a terceira apresenta um computador com inteligência artificial que se torna consciente e se rebela contra seus criadores e a quarta apresenta uma viagem surreal através do tempo e do espaço. Essa estrutura incomum e altamente simbólica desafia as convenções narrativas do cinema tradicional e incentiva o público a interpretar o filme de maneira individual.
A Trilha Sonora Icônica
A trilha sonora de 2001 é uma das mais icônicas do cinema. Primeiro na sequência do humano primitivo descobrindo que um osso pode servir como arma ao som de “Also Sprach Zarathustra”, de Richard Strauss, e na sequência, quando o primata lança o fêmur ao alto e passa para uma nave espacial e a música Danúbio Azul domina a cena, formando um balé espacial.
HAL 9000
HAL 9000 é o supercomputador da espaçonave Discovery One com aspectos de inteligência artificial capaz de executar muitas funções tais como conversar com os astronautas da nave, processar informações, fazer reconhecimento de fala, reconhecimento facial, leitura labial, interpretação de emoções, expressão de emoções e xadrez, além de manter todos os sistemas no Discovery.
Inicialmente, HAL é considerado um membro confiável da tripulação, mantendo as funções da nave e interagindo com a tripulação de forma alegre. Porém, com o passar do tempo, HAL começa a funcionar de maneira estranha e vai se constituindo no antagonista que poderá colocar a missão da Discovery em perigo.
HAL 9000 atualmente se constitui em um elemento de debate sobre a natureza da consciência artificial. O personagem exibe características humanas como suspeita, medo e até comportamento violento, levando os espectadores a considerar a possibilidade de a Inteligência Artificial desenvolver suas próprias emoções e intenções. Um claro exemplo encontramos na sequência em que o astronauta Dr. David Bowman se encaminha para desligar HAL. O computador fala que está com medo e se comporta de maneira dissimulada.
A influência duradoura
Por fim, “2001 Uma Odisseia no Espaço” tem sido altamente influente na ficção científica e em outros gêneros desde seu lançamento. O filme inspirou outros cineastas e escritores a criar histórias de exploração espacial mais realistas e filosóficas. Além disso, o filme influenciou a cultura popular de maneiras diversas, desde a música até a moda e a publicidade. A imagem icônica do macaco pré-histórico batendo com um osso tornou-se um ícone cultural, assim como o design elegante e minimalista da nave espacial Discovery One.
Conclusão
“2001 Uma Odisseia no Espaço” é um marco importante na história da ficção científica e do cinema em geral. O filme é notável por seu retrato realista da exploração espacial, sua trilha sonora icônica, sua narrativa não linear e altamente simbólica e sua influência duradoura na cultura popular. O filme desafiou as convenções narrativas do cinema tradicional e apresentou uma visão filosófica e poética do universo e da vida humana. Mais de 50 anos após seu lançamento, “2001 Uma Odisseia no Espaço” continua a inspirar e intrigar o público e é um testemunho do poder duradouro da ficção científica como um meio de explorar as grandes questões da existência humana.
Há um vídeo que faz uma análise sobre a parte filosófica do filme, chamado Kubrick 2001: a odisseia no espaço explicada. Está dividido em quatro partes e você pode assisti-lo AQUI.
Assista ao vídeo sobre esse mesmo artigo, que está no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, acione as notificações, curta o vídeo e deixe o seu comentário.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.