827 Era Galáctica: Primeiro Romance Publicado de Asimov
A importância dessa obra se deve não apenas por ela ser o primeiro romance de ficção científica do maior escritor de ficção científica de todos os tempos, mas por pertencer a um dos universos criados por Isaac Asimov e estar relacionado a outro.
Paulo Bocca Nunes
Isaac Asimov iniciou sua carreira de escritor de ficção científica publicando contos em revistas pulp fiction desde 1939. Porém, o seu primeiro romance publicado foi Pebble In The Sky, em 1950, que no Brasil passou a ser 827 Era Galáctica (1976), pela editora Hemus. Há outras editoras, como a Aleph, que publicaram com o título Pedra No Céu, mais coerente com o título original, Pebble In The Sky.

A ideia para o romance surgiu a partir do conto Growing Old With Me (Envelheça Comigo, em tradução livre), em 1947, quando Asimov o apresentou à revista Startling Stories, no entanto não foi aceito para publicação. O próprio editor de Asimov, John Campell, que era um dos diretores da Astounding Science Fiction, também não aceitou a história para publicação.
Em 1949, o editor da Doubleday, Walter Bradbury aceitou a história para publicação, com a condição de que fosse expandida para setenta mil palavras e o título fosse alterado para algo mais voltado para a ficção científica. Dessa forma, o livro foi publicado em janeiro de 1950 como Pebble In The Sky. O conto Grow Old With Me foi posteriormente publicado em sua forma original, juntamente com outros rascunhos de histórias em The Alternate Asimovs, em 1986.

O romance está situado no universo da Fundação de Asimov por dar referências ao Império Galáctico. Também por esse motivo, é o primeiro de três romances do início da década de 1950 que ficaram conhecidos como romances do Império Galáctico, sendo os outros dois The Stars, Like Dust (Poeira de Estrelas, 1951) e The Currents of Space (As correntes do espaço, 1952).
A história acontece muito tempo depois de a humanidade ter povoado a galáxia. A Terra tornou-se um planeta decadente e arruinado pela radiação. Próximo do centro da galáxia, o planeta Trantor é a sede do Império Galáctico, que domina mais de 200 milhões de mundos. No entanto, há pessoas na Terra que desejam restaurar o planeta e ter de volta a sua importância. Acontecem movimentos políticos internos, surgem personagens com diversos pontos de vista e questões científicas são colocadas a serviço daqueles que desejam retomar e elevar o status da Terra.
RESUMO
Andando pelas ruas de Chicago, o alfaiate aposentado, Joseph Schwartz é vítima de um acidente em um laboratório nuclear próximo que, imediatamente, o transporta dezenas de milhares de anos no futuro. Ele acaba em um lugar que não reconhece e é incapaz de se comunicar com outra pessoa devido a mudanças óbvias na linguagem falada.
Ele chega a uma fazenda e encontra um casal, Loa e Arbin Marenque, que o recebe e o acolhe. Eles pensaram que Joseph era deficiente mental e secretamente o ofereceram para um procedimento experimental para aumentar suas habilidades mentais. Os dois cuidam de um homem idoso, chamado Grew, que é sogro de Arbin.
Um procedimento que matou vários sujeitos funciona para Joseph de forma surpreendente e ele aprende rapidamente a falar o idioma atual. Ele também percebe gradualmente que o procedimento lhe deu poderes telepáticos limitados, incluindo a capacidade de projetar seus pensamentos para matar ou prejudicar uma pessoa. Estes poderes são semelhantes, mas muito menos avançados do que os poderes que o Mulo teve milênios depois.
No ano 827 EG, a Terra se tornou um planeta radioativo e é vista pelo resto do Império Galáctico como um planeta em rebelião. Na verdade, se rebelou três vezes e seus habitantes são discriminados. Existem também várias grandes áreas radioativas na Terra, embora a causa nunca tenha sido descrita. Como a radioatividade torna grandes áreas inabitáveis, a Terra é um planeta muito pobre e qualquer um que não possa trabalhar deve ser morto por lei. O principal critério para controlar a sociedade é estabelecido pelo limite da idade de sessenta anos. Esse é o problema de Schwartz, que atingiu a idade limite.
Embora a Terra faça parte de um império com um procurador e uma guarnição militar, é praticamente governada por um grupo de fanáticos religiosos chamados Zealots. Eles criaram um super vírus que planejam usar para matar ou subjugar o resto do Império e se vingar da maneira como o Império tratou seu planeta.
Schwartz é capturado junto com Affret Shekt, o cientista que desenvolveu a máquina controlada por Schwarz, sua filha Pola Shekt e o historiador visitante Bel Arvarden, mas escapa com a ajuda dos novos poderes mentais de Schwarz e consegue impedir o plano de libertar o vírus.
A AMBIENTAÇÃO CRONOLÓGICA DA HISTÓRIA NA SÉRIE DO IMPÉRIO GALÁCTICO
Estabelecer uma cronologia para o conjunto das obras de Isaac Asimov é um desafio, pois inicialmente ele não pretendia criar um universo plenamente estabelecido cronologicamente. Diferentemente dos escritores atuais, Asimov não partiu de um planejamento detalhado para suas obras. À medida que desenvolvia suas histórias, ele percebeu algumas incongruências entre narrativas da mesma série ou entre séries relacionadas. Isso levou Asimov a escrever novas histórias para atenuar esses problemas, embora sem uma solução totalmente satisfatória.
Pesquisadores e leitores dedicados se debruçaram sobre a questão da cronologia dos universos de Asimov, resultando em diferentes interpretações. Vamos apresentar um resultado com base em quatro desses estudos disponibilizados na internet.
Uma das dificuldades para estabelecer as datas se deve ao fato de Asimov utilizar três tipos de calendários. O primeiro é o calendário que usamos, definido como CE (Common Era, ou Era Comum). Nesse período se concentram todas as obras da série dos robôs, incluindo as histórias do detetive Elijah Baley e do robô Daneel Olivaw. Também fazem parte deste período as obras “Poeira de Estrelas” e “As Correntes do Espaço“, que pertencem à série do Império Galáctico. Segundo o site Sikander, todas as histórias desse período vão até o ano 12.500 CE, quando inicia o ano 1 GE (Galactic Era ou Era Galáctica), pois nesse ano o Império Trantoriano se tornou o Império Galáctico.
Dessa forma, o romance “Pedra no Céu” (Pebble in the Sky), que se passa no ano 827 da Era Galáctica, e isso serviu como título na primeira tradução brasileira (827 Era Galáctica) ocorre 13.327 anos no futuro, de acordo com aquele site. Por sua vez, os sites Eu, Asimov e Asimov Fandom apresentam outras cronologias para o mesmo romance, situando-o nos anos 12.411 e 12.413 CE, respectivamente.
Essas diferenças refletem as dificuldades inerentes em criar uma cronologia coerente para um vasto universo ficcional desenvolvido ao longo de várias décadas. A complexidade e o entrelaçamento das histórias de Asimov, abrangendo desde os contos de robôs até a monumental série Fundação, são um testemunho de sua capacidade criativa e da rica tapeçaria de seu universo.
Dentro da ordem cronológica da série do Império galáctico, Pedra No Céu está situado depois dos outros romances (Poeira de Estrelas e As Correntes do espaço). Apesar disso, os romances não estão interligados por sequências.
UMA ADAPTAÇÃO
Em 17 de junho de 1951 houve uma adaptação desse romance no programa Dimension X, um programa de rádio transmitido pela NBC entre abril de 1950 a setembro de 1951. O programa apresentava adaptações de contos de ficção científica publicados nas revistas especializadas da época ou dos primeiros romances que passaram a surgir na época. Entre as histórias escolhidas estão nomes importantes do gênero, como Isaac Asimov, Ray Bradbury e Robert Heinlein.
A adaptação de Pebble in the Sky foi uma dramatização com apenas vinte e cinco minutos de duração. Toda a história da viagem no tempo foi contada com Bel e Pola sendo os personagens principais. Algo diferente do romance original. O final também foi diferente, já que o vírus foi lançado, deixando a Terra sozinha como “uma pedrinha no céu”.
O IMPÉRIO GALÁCTICO ESTÁ MESMO NO ROMANCE?
A partir do capítulo 2, começam diversas citações que remetem ao Império Galáctico. Tudo acontece em um diálogo que envolve os personagens Loa, Arbin e Grew, um homem idoso acima de sessenta anos e pai de Loa. Eles conversam sobre uma expedição arqueológica do Imperial Instituto Arqueológico que está para chegar à Terra. Há referências também de uma “Imprensa Galáctica” que está fazendo cobertura desse evento.
Em certo momento, Loa e Arbin debatem sobre a presença de Joseph. Ela acredita que o forasteiro é alguém de fora da Terra e Arbin rebate:
“— Você está sendo ridícula! Por que um homem do Império deveria vir logo aqui, na Terra?”
Em todos esses diálogos, os personagens usam os mesmos termos que Asimov usou para se referir à mesma instituição galáctica, ou seja, o Império. Sendo esse romance uma obra posterior à Fundação de 1942, certamente trata-se do Império Galáctico da trilogia.
Ao longo da história contada em 827 Era Galáctica, há outras referências semelhantes, no entanto, essas apresentadas acima já são forte indicativo da relação dessa mesma obra com o universo da trilogia da Fundação.
CONCLUSÃO
827 Era Galáctica, ou Pedra no Céu, apresenta uma visão audaciosa do futuro e, por esse motivo, constitui-se em um marco na ficção científica. A obra apresenta a colonização de outros planetas e a formação de uma sociedade interplanetária dominada por um Império Galáctico. Com habilidade de combinar uma narrativa ficcional com ciência, Asimov oferece aos leitores uma exploração fascinante da tecnologia avançada, viagens espaciais e as implicações sociais desses avanços.
Um dos aspectos que torna essa obra uma inspiração para outros escritores é a forma como Asimov faz as abordagens sociais, políticas e econômicas de uma humanidade num futuro tão distante. Sua capacidade de criar histórias cativantes e, ao mesmo tempo, abordar questões éticas e filosóficas profundas, também serviu de modelo para muitos autores.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.