Naquele Fim de Semana: thriller mal aproveitado.
Duas amigas se encontram em um fim de semana, mas o que era para ser momentos agradáveis e divertidos se transforma em pesadelo.
Paulo Bocca Nunes
O filme é uma adaptação do livro de Sarah Alderson, escritora e roteirista inglesa, nascida em Londres, que também assina o roteiro do filme. No romance de gênero thriller, Orla e Kate são grandes amigas há muito tempo. Orla é mãe de primeira viagem e a amiga encara um divórcio complicado. Independente do que aconteça na vida delas, todo ano as duas tiram um fim de semana para viajarem juntas e tirarem um tempo só para elas.
Num desses fins de semana, o destino é Lisboa. À noite, as duas amigas escolhem um jantar com champanhe num restaurante sofisticado. Em seguida as duas vão para um bar e as bebidas continuam. Em certo momento, Orla está bêbada e acorda na manhã seguinte no quarto do hotel, lamentando a ressaca. Ela procura pela amiga, mas percebe que ela desapareceu. Orla procura a polícia, mas é orientada a esperar 24 horas para fazer um boletim de desaparecimento. O tempo passa e a Kate não aparece. Inicia-se a busca pela amiga. Orla faz investigações por conta própria, mas se envolve em uma rede de complicações e acaba descobrindo coisas que a deixarão em sério perigo e ainda arriscando-se a perder as coisas mais caras de sua vida.
A ADAPTAÇÃO PARA O FILME
Toda a ambientação da história é na Croácia. Esse aspecto dá um brilho ao filme, pois sai um pouco da mesmice de Londres, Paris ou qualquer cidade estadunidense. Aliás, essa abordagem multicultural está se tornando uma regra nas plataformas de streaming, onde se destaca justamente a Netflix.
No filme, as personagens são Kate e Beth, duas amigas que marcam um fim de semana para conversar, beber e se divertirem. A história se passa na Croácia, em uma das cidades do litoral do mar Adriático.
O filme inicia com uma imagem do mar e o corpo de uma mulher boiando, aparentemente morta. Em seguida passa para a chegada de Beth a um casarão onde Kate alugou um luxuoso quarto para as duas amigas. Elas saem à noite para jantar, bebem bastante, conhecem dois rapazes bonitões e a partir daí tudo fica confuso na cabeça de Beth, que acaba ficando desacordada.
Ao acordar pela manhã, ainda de ressaca e sem se lembrar de como foi parar na sua cama no casarão, Beth procura por Kate e não a encontra. Ao ir à polícia, Beth recebe a orientação para esperar 24 horas. Passado o tempo, ela vai atrás de sua amiga e indo atrás de informações, fazendo uma investigação por conta própria.
Toda a história é sustentada sob o ponto de vista de Beth. A polícia se apresenta como o contraponto que irá trazer as dificuldades que a personagem deverá superar. Além disso, à medida que vai fazendo descobertas, ela se envolve em algo bastante perigoso.
A trama de Naquele fim de semana segue o padrão dos thrillers do tipo “whodunit?”, onde tudo fica centrado em um assassinato, muitos suspeitos e acontecimentos e envolvimentos estranhos com outros personagens.
O roteiro, mesmo sendo da mesma autora do livro, não trouxe uma boa solução para a história. Algumas coisas não foram bem aproveitadas, como o personagem Zain, um imigrante sírio que auxilia Beth a desvendar o mistério. A atuação dele, inclusive deixa bastante a desejar e ainda traz alguma caricatura de um imigrante sírio.
A participação da polícia é ridícula. Se houvesse espaço para tanto, a polícia seria algo como o filme “Loucademia de Polícia”. As cenas de perseguição não empolgam e parece mais um ensaio gravado que o diretor gostou e ficou valendo para o corte final do filme.
O resultado final do filme mostra, segundo a minha visão, que nem sempre o autor, ou a autora, de um romance, seja qual for o gênero, pode se constituir em um bom roteirista, ou ser o criador de um roteiro, que usa a sua própria obra literária para escrever o roteiro de um filme. A coisa fica mais complicada quando o diretor, no caso a diretora Kim Farrant, não consegue dar um ritmo adequado e não consegue tirar dos atores interpretações convincentes para os seus personagens.
Kate está indignada com o ex-marido, de quem está se divorciando, e é um dos suspeitos pelo seu desaparecimento. Beth, mãe de primeira viagem, está num casamento que entrou em uma fria rotina. Esses aspectos buscam trazer alguns elementos que servirão de tempero para a trama. No entanto, parte disso não engrena plenamente. A outra parte só vai se justificar no final e de forma muito pobre, pois não houve um desenvolvimento suficiente para dar total credibilidade ao espectador.
A forma como todo o mistério é desvendado não foi convincente. Tudo vai se desenrolando de forma fácil até o caminho da investigação chegar ao seu ponto derradeiro. Algumas coisas são explicadas ou contadas, deixando a história bastante fraca. Tudo isso com o uso rotineiro de flashback nas produções atuais. Isso já deixou de ser rotina para ser um recurso muito batido e nem sempre se constitui na melhor opção.
No final, há um discurso um tanto panfletário, mas que teria sido bem melhor se tudo tivesse sido construído desde o início. Ficou algo que veio do nada e se instalou no final para explicar, ou justificar, o mistério que a trama apresenta.
Não se trata de um filme ruim. Há bons momentos de ação. Porém, parece mais um filme para preencher catálogo de plataformas de streaming sem se preocupar em uma obra fílmica de fato. O filme está disponível na Netflix (2022).
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.