Agente Oculto: filme de ação tipo jogo de gato e rato.
Considerado o filme mais caro produzido pela Netflix, estimado em 200 milhões de dólares, Agente Oculto traz uma constelação em seu elenco para contar uma história cheia de reviravoltas, revelações, mas pouca profundidade.
Paulo Bocca Nunes
Quando um filme tem a duração de pouco mais de duas horas, o que se espera é uma história contada de forma a não deixar pontas soltas, ou que seus personagens sejam bem apresentados de modo a despertar uma forma de sintonia, ou empatia, com o espectador. O que não se espera é a superficialidade do(s) protagonista(s) e antagonista(s). Pois, foi isso que Agente oculto fez. Na verdade, mais parece um filme que mostra o jogo de gato e rato.
A história segue o agente da CIA Courtland Gentry, que usa o codinome Sierra Seis. Inicialmente, ele é preso por ter matado o seu pai, mas é retirado da penitenciária e é recrutado por Donald Fitzroy. Ao longo do filme há alguns saltos temporais, tanto para frente quando Gentry já tem uma longa ficha de trabalhos sujos para a CIA, quanto para o passado para explicar alguns aspectos relacionados ao próprio personagem. Como, por exemplo, os abusos violentos do pai contra Gentry.
A primeira reviravolta da história acontece quando Gentry é enviado para matar um homem que é considerado extremamente perigoso. A tarefa está marcada para acontecer em Bangkok durante as festividade de réveillon. Ele então descobre que há uma grande conspiração interna na própria CIA e envolve seus superiores. Gentry toma posse de um pendrive que contém todas as informações e passa a ser perseguido pelos próprios superiores para tomar posse desse pendrive.
Um antigo agente da CIA, Lloyd Hansen, é contactado para fazer a tarefa suja e assim se inicia uma perseguição global para destruir Gentry. Outra agente, Dani Miranda, se alia a Gentry para ajudá-lo e defendê-lo.
De um modo geral, tudo tem um clima que lembra Missão: Impossível e 007. Principalmente pelas reviravoltas que envolvem ações em diversas localidades como a Alemanha, Croácia, Bangkok e Áustria, dando uma ideia de grande conspiração mundial.
O roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely, que também assinam Capitão América: Guerra Civil, Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato, segue próximo do livro The Grey Man, de Mark Greaney. Na verdade, é uma série de onze livros e o arco central do filme se baseia no primeiro livro, apesar de algumas alterações ou adaptações feitas. A diração fica a cargo dos irmãos Russo, o Anthony e o Joe.
A história segue um modelo que está se mostrando um bocado gasto e é usado para ajudar a explicar, ou ser uma forma de mostrar, alguns aspectos de personalidade e caráter dos personagens principais, especialmente o protagonista. Aqui eu me refiro ao uso exagerado de flashbacks que levam o espectador a um momento do passado do protagonista. No caso de Gentry é para mostrar o quanto o seu pai o torturava quando era bastante jovem e isso fez com que o futuro Agente Sierra Seis matasse o pai e, por isso, permanecesse preso.
Esse tipo de artifício é um tanto perigoso, pois quando usado em demasia, trava o ritmo da história. Principalmente pelo fato de que essas cenas são colocadas mais ou menos na metade do filme, ou em algumas partes do segundo ato. Por serem curtas, elas poderiam vir no começo e a partir daí ser apresentado o personagem principal. Em um filme de intensa ação, como é o caso de Agente Oculto, parece intencional para desacelerar o ritmo para dar um fôlego ao espectador. No entanto, isso nem sempre ajuda muito, pois o espectador está concentrado na sequência da ação quando, de repente, surge uma cena de flashback e há uma demora para entender o que está sendo mostrado e como isso pode se conectar com a trama.
Por outro lado, esse tipo de recurso nem sempre consegue fazer o espectador ter uma relação de empatia com o personagem, pois atrasa o processo. O mesmo acontece quando o personagem Gentry tem que proteger a sobrinha do seu mentor, Claire. São mostrados alguns momentos entre o agente e a garota, mas nada que justifique uma forma de relação paterna no final. A própria personagem tem tantos altos e baixos de humor e algumas perturbações psicológicas que não são convincentes.
A história criou núcleos de conflito muito distantes e exigiram vários cortes de um para outro. Ora era o escritório da CIA ou do mercenário Lloyd Hansen ou uma das localidades em que estava Gentry. Isso também fez com que houvesse um pouco desenvolvimento de personagens importantes, como os agentes Denny Carmichael, Suzanne Brewer e Dani Miranda e Lloyd Hansen e Donald Fitzroy. Não se quer aqui dizer que devesse ter as histórias de cada um plenamente mostradas no filme, mas muita coisa foi contada e explicada verbalmente. O melhor é mostrar.
Uma coisa que desperta a curiosidade de quem assiste ao filme e não conhece os livros de Mark Greaney é a figura misteriosa que está acima do oficial da CIA, Denny Carmichael. Esse personagem é o responsável pela linha condutora que une o filme, ou deveria unir. Tanto esse personagem quanto o final em aberto, mais algumas pontas soltas na história que não ficaram esclarecidas, acredita-se que seja criada uma sequência ou uma franquia com vários outros filmes. Material para isso existe, pois o filme é baseado no primeiro livro e há outros dez já publicados, além de mais um que deve chegar às livrarias em 2023.
Agente oculto esconde um pouco as questões dos personagens e em alguns momentos deixa o espectador meio na dúvida pelo que está acontecendo ou como ligar uma coisa à outra no filme. Até mesmo pelas sequências de ação que seguem um ritmo um tanto frenético. Os efeitos especiais, as locações e a fotografia ajudaram bastante a tornar esse filme em uma boa diversão. Apenas isso.
O que eu lamento é o fato de muitas coisas já ficarem reveladas no começo do filme e todo o desenvolvimento se constitui em um jogo de gato e rato, ou seja, todos atrás de Court para tomar dele o pendrive. Não há espaço para o espectador montar um quebra-cabeças, ir descobrindo coisas que sejam usadas para construir a trama.
Algumas curiosidades do filme. Cris Evans mais vez interpretou um personagem totalmente diferente de Capitão América, ou seja, deu vida a um personagem sádico e perverso. Para o perfil desse personagem extremamente mau, Evans e seu bigodinho não parecem tão convincentes.
Também se destaca a participação de Wagner Moura no filme. O ator brasileiro está se destacando em produções internacionais e participando de elencos bastante qualificados.
Assista ao vídeo sobre esse mesmo artigo, que está no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, acione as notificações, curta o vídeo e deixe o seu comentário.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.