Amazing Stories: a Revista Que Abriu o Caminho Para a Ficção Científica
A ficção científica não seria hoje se não fosse a iniciativa de um visionário do gênero. Nas primeiras décadas do século XXI, nasceu a primeira revista pulp fiction exclusiva de ficção científica.
Paulo Bocca Nunes
A literatura sempre teve o poder de transportar leitores para mundos imaginários e desafiar as fronteiras da realidade. Nesse contexto, a revista Amazing Stories emergiu como uma pioneira e influente publicação que moldou o gênero da ficção científica, abrindo portas para a exploração de futuros distantes, tecnologias revolucionárias e encontros com seres extraterrestres.
A Amazing Stories foi uma das revistas Pulp Fiction, revistas de ficção baratas publicadas de 1896 até a década de 1960. O termo “pulp” deriva do papel barato de celulose em que as revistas eram impressas. Foi nos Estados Unidos que essas revistas atingiram um patamar muito importante que deu início ao gênero de ficção científica.
A típica revista pulp tinha em torno de 128 páginas, 18 cm de largura e 25 cm de altura, com bordas irregulares e não aparadas. Nas pulp fiction eram publicados contos e seriados dos mais diversos autores. Essas histórias eram vistas como sendo de baixa qualidade e apenas para o entretenimento rápido. Mesmo assim, muitos autores de ficção científica publicaram seus contos, ou mesmo série de contos, nessas revistas que, mais tarde, foram reunidos em livros e conquistaram um sucesso impressionante.
Fundada por Hugo Gernsback, a Amazing Stories não apenas redefiniu o panorama da literatura especulativa, mas também estabeleceu um legado duradouro que continua a inspirar escritores e leitores até os dias de hoje.
O CRIADOR E A HISTÓRIA DA REVISTA
Hugo Gernsback, um inventor e empresário luxemburguês-americano, desempenhou um papel fundamental na criação da revista Amazing Stories. Lançada em abril de 1926, a revista foi a primeira a se dedicar exclusivamente à ficção científica. Gernsback tinha uma paixão pela ciência e pela inovação tecnológica, e acreditava que a ficção científica poderia servir como uma forma de educação e entretenimento, ao mesmo tempo em que estimulava a imaginação dos leitores.
A Amazing Stories não apenas trouxe histórias emocionantes, mas também incluiu artigos não fictícios sobre ciência e tecnologia, buscando informar os leitores sobre os desenvolvimentos científicos da época. Gernsback estava comprometido em promover o conceito de “scientifiction”, termo que ele cunhou para descrever histórias que combinavam elementos científicos e imaginativos. Essa abordagem inovadora e visionária moldou a maneira como a ficção científica seria abordada nas décadas seguintes.
As primeiras edições foram reimpressões de histórias de autores bastante conhecidos e consagrados como Júlio Verne, H.G. Wells e Edgar Allan Poe. A ideia de Gernsback era mostrar o que ele pensava como “scientification”, ou seja, o tipo de ficção que ele buscava trazer a sua revista. Após algumas edições, foram surgindo autores com suas histórias originais, um fato que deu início às carreiras de muitos escritores, que acabaram se tornando conhecidos.
OBJETIVO E IMPORTÂNCIA DA REVISTA
O objetivo central da Amazing Stories era transportar os leitores para universos desconhecidos e desafiadores, onde a ciência e a tecnologia se misturavam à criatividade humana. A revista se destacou por suas capas vibrantes e ousadas, frequentemente retratando cenas de exploração espacial, confrontos com robôs e encontros com seres de outros planetas. Essas imagens impactantes refletiam o espírito de exploração e a fascinação pela inovação que caracterizavam a época.
A revista rapidamente ganhou popularidade, atraindo um público diversificado e apaixonado. Leitores de todas as idades se envolveram com as histórias que iam desde aventuras interestelares até paradoxos temporais e dilemas éticos criados pela tecnologia. A Amazing Stories não apenas capturou a imaginação das massas, mas também proporcionou um espaço de expressão para escritores aspirantes compartilharem suas visões únicas do futuro.
A partir de 1929, a Amazing Stories passou a ter problemas financeiros, o que levou Gernsback a deixar o cargo de diretor da revista. Nesse mesmo ano ela iniciou uma sucessão de vendas para outras pessoas e algumas mudanças no nome da revista, sem deixar de ter o nome Amazing Stories. As publicações foram seguindo em períodos irregulares, sempre com dificuldades financeiras. Amazing Stories também foi mudando seu formato e chegando ao digital. Atualmente, a revista traz uma grande diversidade de contos e artigos em seu site https://amazingstories.com.
NFLUÊNCIA E LEGADO
A influência da Amazing Stories no gênero de ficção científica é incalculável. A revista estabeleceu convenções e tropos que se tornaram fundamentais para o gênero, como viagens espaciais, alienígenas, máquinas do tempo e dilemas éticos relacionados à ciência. Além disso, a revista serviu como uma plataforma de lançamento para muitos escritores talentosos que moldaram o campo da ficção científica, incluindo Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Ray Bradbury.
Isaac Asimov, renomado por suas contribuições à robótica e à ética da inteligência artificial, publicou seu primeiro conto profissional, “Marooned Off Vesta”, na Amazing Stories em 1939. Arthur C. Clarke, autor de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, também encontrou reconhecimento inicial através da revista. Ray Bradbury, conhecido por obras como “Fahrenheit 451” e “As Crônicas Marcianas”, teve suas histórias publicadas na Amazing Stories, o que contribuiu para sua ascensão como um dos mestres da ficção científica.
CONCLUSÃO
A Amazing Stories, criada por Hugo Gernsback, transcendeu o status de uma simples revista de ficção científica para se tornar um marco histórico na literatura especulativa. Com sua visão de “scientifiction”, Gernsback abriu novos horizontes para a exploração das fronteiras da ciência e da imaginação. A revista não apenas influenciou os leitores, mas também inspirou escritores a explorarem o potencial da ficção científica como uma ferramenta para discutir questões sociais, éticas e tecnológicas.
O legado da Amazing Stories permanece evidente na cultura pop contemporânea, onde o gênero da ficção científica continua a desafiar as convenções e a explorar possibilidades futuras. À medida que novas gerações de escritores e leitores se envolvem com as histórias de mundos distantes e tecnologias imaginárias, a revista continua a ser uma lembrança do poder duradouro da literatura para expandir mentes e inspirar a busca pelo desconhecido.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.