Rebel Moon a Menina do Fogo: Pretende Ser o Quê?
O novo projeto do diretor Zack Snyder chegou na Netflix depois de muita divulgação e propaganda, prometendo ser um novo Star Wars. No entanto, há coisas que ficam apenas no mundo dos sonhos e da pretensão.
Paulo Bocca Nunes
Finalmente chegou na Netflix em 22 de dezembro de 2023 o tão esperado novo filme do controverso diretor Zack Snyder. Prometendo ser uma obra identificada com o clássico Star Wars, Rebel Moon – Parte Um: A Menina do Fogo, é um filme que parte de um roteiro escrito pelo próprio Snyder junto com Shay Hatten e Kurt Johnstad.
O filme é inspirado na obra Os Sete Samurais, filme de 1954, dirigido por Akira Kurosawa, e nos filmes de Star Wars. Rebel Moon também começou a ser desenvolvido como um filme de Star Wars. Primeiro, Zack Snyder apresentou a ideia para a Lucasfilm em 2005, porém, as negociações e reuniões foram se estendendo até 2019, quando o projeto foi modificado para ser uma série de televisão. Finalmente, foi decidido que teria o formato de um filme lançado na Netflix.
Os anúncios começaram a surgir em vários sites da internet como sendo uma obra épica de ficção científica, do gênero ópera espacial. As filmagens começaram em abril de 2022, com Snyder compartilhando as primeiras imagens do set no antigo Twitter. O próprio Snyder anunciou que pretendia fazer de Rebel Moon uma exitosa franquia.
O QUE É O FILME
Em Rebel Moon Parte Um: A Menina do Fogo, uma colônia pacífica estabelecida em uma lua à beira da galáxia está sendo ameaçada pelos exércitos de um regente tirânico chamado Balisarius. Uma das integrantes da colônia, uma jovem misteriosa com um passado bastante conturbado, chamada Kora (Sofia Boutella) se torna a única esperança de sobrevivência.
Desesperados, os colonos enviam Kora para procurar guerreiros de planetas vizinhos e ajudá-los a resistir. Kora reúne um pequeno bando de insurgentes, deslocados, camponeses e órfãos de guerra de vários mundos que têm dois objetivos em comum: lutar contra o império tirano, buscar redenção e vingança. Enquanto o exército imperial avança sobre a lua dos colonos, inicia a batalha pelo destino da galáxia, que depende deste novo exército de heróis improváveis.
SOBRE O FILME
Infelizmente, para a legião de fãs do diretor, Rebel Moon é uma obra Snyder sendo Snyder de forma bastante pejorativa. Tudo tem excesso, entre o melhor e o pior. Quando Snyder apresentou o seu projeto, o objetivo era ser uma obra com mais realismo, incluindo violência, porém se ele obteve isso em algumas cenas, não foi nada realista e ainda junta muitos aspectos de arquétipos e chavões clássicos de filmes antigos para designar quem é o mocinho, ou a mocinha, e o vilão.
Criar um universo de ficção científica do gênero Star Wars e Duna, até mesmo outras obras de menor entusiasmo, não é nada fácil. A ideia de Rebel Moon não é, portanto, original, porém, o desenvolvimento que Snyder dá aos seus personagens mais uma vez não é eficiente. Todos eles são extremamente superficiais, senão inexpressivos.
Veja-se o caso da saga Star Wars em que tudo inicia com o jovem Luke Skywalker vivendo com seus tios em um planeta distante, trabalhando como agricultor, ajudando seu tio e desejando ir para a Academia. Tudo muda com a morte deles pelo exército do império e ele indo de encontro ao seu futuro mentor, Ben Kenobi.
Em Rebel Moon não se encontra isso. A personagem Kara, que deve ser a protagonista e será a responsável pela resistência contra o Império de Balisarius inicia do nada, surge como uma pessoa misteriosa em uma comunidade pacífica e muito depois ela conta a sua história. Isso mesmo: CONTA! Esse aspecto já desmonta a saga pretendida de Snyder.
A personagem Kara não consegue criar uma empatia com o público. Essa maneira de trazer uma história para as telas prejudica o conjunto da obra. O filme teve mais de duas horas de duração e terá a segunda parte, então por que não desenvolver a personagem de forma efetiva e consistente para envolver o público? E assim como ela, os outros personagens foram surgindo, ou sendo jogados na história, e sendo até menos desenvolvidos e menos interessantes do que poderiam ser. Todos eles tiveram as suas histórias contadas. Nenhum deles tem força para se manter ou criar uma empatia com o público.
Na parte da história que Kara busca seus parceiros para enfrentar o exército de Balisarius, tudo foi extremamente superficial e contado. Os diálogos são usados para convencer os insurgentes. Tudo apenas com discurso. Algumas vezes no estilo motivacional, que seria melhor colocar um coaching na história, assim mesmo do nada.
Enquanto temos uma protagonista rasa, somos apresentados a dois antagonistas mais rasos ainda, que trazem consigo alguns estereótipos de outras obras menos conceituadas. O personagem Kai (Charlie Hunnam) se perde nas suas intenções previsíveis por conta de como ele entra na história. Basta olhar e saber que ele não é confiável e, mesmo assim, Kara se mostra ingênua em acreditar nele.
Atticus é o general encarregado por Belisarius de encontrar focos de insurgentes e rebeldes ao sistema. Ele é capaz de tudo, usando de sarcasmo e ironia imensa quando se trata de descobrir o que quer, principalmente rebeldes ou alguém tentando esconder algo de interesse do Império. Um detalhe importante sobre esse personagem foi quando ele entrou em cena e ficou impossível não serem feitas comparações aos generais de um regime político relacionado aos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Tanto o uniforme quanto o boné, a postura e a forma de fazer interrogatórios lembram os filmes da Segunda Guerra com personagens assim. No caso dos personagens são estereótipos que já foram exaustivamente muito usados. Para uma obra que se busca ser exclusiva, esse tipo de criação de personagem não parece ser uma boa escolha. Por outro lado, há um mistério quanto a Atticus que não foi esclarecido nem desenvolvido, apenas apresentado. O que são aqueles animais parecidos com sanguessugas que ele coloca sobre seu corpo? E por que ele fica naqueles aparelhos na presença de Belisarius?
Sobre os personagens, é preciso dar destaque ao robô Jimmy. Ele foi um personagem construído de forma interessante. O problema é que esperava-se que fosse importante na trama, ou até uma participação decisiva. Porém, ele simplesmente sumiu da história. Apenas pelo fato de ser dublado por Anthony Hopkins já deveria ser o pretexto para dar todo o destaque possível na trama.
O filme exagera demais nas mudanças de iluminação e jogos de câmera lenta. A fotografia é atraente, os efeitos especiais são eficientes, principalmente com as criaturas que surgem em certos momentos. O que afeta é a falta de unidade entre tudo isso. Os fãs de Snyder irão considerar o filme uma obra prima, ou ficarão insatisfeitos quando surgirem críticas ao trabalho do diretor. No entanto, Rebel Moon não empolga como outras obras do mesmo gênero.
Antes mesmo da estreia do filme na Netflix, Snyder havia anunciado que haveria uma parte 2 e cada uma delas teria o famoso “corte do diretor”. Com os detalhes apontados até agora do filme, não se pode esperar mudanças que recuperem a primeira versão. Aliás, essa segunda versão não pode ser uma tendência, pois pode dar mostras de que o produto não foi finalizado, mas acabado para atender o calendário estabelecido para a estreia. Pelas informações em sites gringos, na versão “corte do diretor” o robô
Rebel Moon Vale apenas como uma diversão barata, despretensiosa, para quem assiste. Não se pode esperar uma franquia poderosa como outras conhecidas.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.