Star Trek Seção 31: Uma Aventura Esquecível
Gene Roddenberry deve estar girando mais rápido que um motor de dobra na tumba!
Eugene Wesley Roddenberry (19 de agosto de 1921 – 24 de outubro de 1991) foi um roteirista e produtor de televisão americano que criou a série de ficção científica e o universo fictício Star Trek. Ele foi genial, criativo e visionário ao criar uma das maiores séries de TV que veio a ser uma das franquias mais importantes do cinema e da TV. Não vou sequer afirmar que Star Trek: Seção 31.
Apenas para situar o espectador que ainda não assistiu, Seção 31 é uma organização autônoma de inteligência e defesa que realiza operações secretas para a Federação Unida dos Planetas. Foi criada para o episódio “Inquisition” de Star Trek: Deep Space Nine, a organização pretendia atuar como um contrapeso ao retrato utópico da Federação.
UMA EXPANSÃO DESNECESSÁRIA E DESASTRADA DO UNIVERSO TREK
A franquia Star Trek já passou por altos e baixos ao longo das décadas, mas Seção 31, o mais recente filme do universo Trek, consegue se destacar por ser uma das experiências mais frustrantes para os fãs. Dirigido por Olatunde Osunsanmi, conhecido por seus episódios em Star Trek: Discovery, e roteirizado por Craig Sweeny, o filme teve uma gestação conturbada. Originalmente planejado como uma série, depois transformado em minissérie e finalmente reduzido a um filme para streaming, Seção 31 já chegou com um ar de improviso. E o resultado final não ajudou a dissipar essa impressão.
A TRAMA: O MACGUFFIN DA DESILUSÃO
O filme traz Michelle Yeoh de volta ao papel da ex-imperatriz terrana Philippa Georgiou, que agora passa seus dias como dona de uma boate fora da jurisdição da Federação. Sua paz é interrompida quando a Seção 31 a recruta para recuperar um misterioso objeto de imenso poder. E claro, como qualquer clichê barato exige, a missão acaba se conectando diretamente ao passado de Philippa.
O roteiro, porém, desperdiça qualquer potencial de uma narrativa intrigante de espionagem no universo Trek. Em vez disso, entrega um desfile de clichês previsíveis, personagens vazios e um desenvolvimento que mais parece uma colagem mal feita de outros filmes do gênero. Há um mistério? Sim. Mas ele é revelado de forma tão mastigada que você já sabe a resposta muito antes dos personagens.
ATUAÇÕES: QUANDO NEM MICHELLE YEOH CONSEGUE SALVAR
Michelle Yeoh é uma atriz premiada e carismática, mas até mesmo ela parece perdida em meio à bagunça do roteiro. Sua Philippa Georgiou, que já havia sido suavizada em Discovery, aqui é reduzida a uma personagem sem profundidade, cuja presença é sustentada mais pelo figurino exagerado do que por qualquer traço real de personalidade.
O restante do elenco também não tem sorte. Omari Hardwick, como Alok, o líder da equipe da Seção 31, não consegue se destacar e seus companheiros são tão genéricos que nem vale a pena citá-los. Nenhum deles tem a menor chance de deixar uma marca na franquia.
DIREÇÃO E ESTÉTICA: UM SHOW DE CAFONICE E AMADORISMO
A direção de Osunsanmi é um desastre. A câmera parece estar em um constante ataque de vertigem, os enquadramentos são confusos e a edição segue a cartilha do Bayhem – aquele estilo de cortes frenéticos e sem sentido popularizado por Michael Bay. Mas, ao contrário de Bay, que ao menos sabe o que está fazendo dentro de sua proposta caótica, aqui tudo soa amador e sem intenção clara.A direção de arte também merece uma menção especial – mas pelos motivos errados. Os figurinos são cafonas e parecem retirados de um desfile de escola de samba do futuro. Os cenários parecem saídos de um fan film com baixo orçamento, e os efeitos visuais são genéricos, incapazes de impressionar até mesmo em uma produção direta para streaming.
UM EPISÓDIO ESQUECÍVEL DISFARÇADO DE FILME
Muitos têm dito que Seção 31 parece um episódio estendido de uma série. Isso, por si só, não seria um problema. O problema é que parece um episódio esquecível, daqueles que você pula em uma maratona no streaming. E pior: um episódio ruim.A existência desse filme é um mistério tão grande quanto o objeto que os personagens perseguem. Como foi possível que tantos executivos, roteiristas e produtores tenham aprovado esse projeto em todas as suas etapas sem perceberem o desastre iminente? Talvez a Paramount esteja tentando transformar Star Trek em algo que não é, ignorando completamente o que fez a franquia ser amada por tantas décadas.
CONCLUSÃO: O QUE APRENDEMOS COM ISSO?
Se Seção 31 ensina alguma coisa, é que nem tudo que pode ser feito, deve ser feito. A franquia Star Trek tem espaço para explorações ousadas e narrativas experimentais, mas não para produtos genéricos e sem alma. Em vez de investir em mais spin-offs descartáveis, a Paramount faria um favor ao legado de Gene Roddenberry ao ressuscitar Lower Decks, que pelo menos entende o que Star Trek realmente é.Se você está na dúvida se deve assistir Seção 31, fica a dica: sua memória de Star Trek agradecerá se você gastar seu tempo revendo A Ira de Khan ou Deep Space Nine em vez disso.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.