Atlas: à beira de uma crise de nervos com uma IA
Uma analista de IA luta contra o seu trauma e as aflições do passado enquanto precisa derrotar um robô humanoide criado por sua mãe e decidiu acabar com a humanidade.
Paulo Bocca Nunes
O assunto Inteligência Artificial nunca esteve tão atual ou debatido. Está quase virando tema obrigatório de filmes e séries de ficção científica. Uma das novas atrações da Netflix é mais um filme de ficção científica onde uma inteligência artificial está no centro da trama e dos traumas de uma analista.
RESUMO DO FILME
Atlas Shepherd é uma analista profundamente desconfiada da inteligência artificial. Ela está em busca do terrorista fugitivo Harlan, uma IA com aparência humanoide, que há 28 anos liderou uma rebelião de máquinas inteligentes que resultou na morte de 3 milhões de pessoas antes de fugir para o espaço sideral. Após um dos agentes de Harlan ser capturado e interrogado, Atlas descobre que Harlan escapou para um planeta na galáxia de Andrômeda e insiste em acompanhar a missão militar para encontrá-lo e capturá-lo. Para ter êxito, ela precisa vencer suas dúvidas e desconfianças em relação às IAs, especialmente em relação ao seu traje mecânico robótico de combate, chamado Mecha, que possui uma IA, chamada Smith. Quando as coisas dão errado, ela é forçada a se tornar uma heroína de ação e unir forças com a própria IA que despreza.
UMA OPINIÃO SOBRE O FILME
Atlas Shepherd é traumatizada, nervosa e impaciente quando o assunto é IA. Ela não aceita certas tecnologias, como os Links Neurais, usados atrás da orelha para conectar o cérebro a uma IA. Ela literalmente compra briga com quem tenta convencê-la a usar esse dispositivo, criado por sua mãe, mas que Atlas considera extremamente perigoso. Somente na terceira parte do filme o espectador entende o motivo, que está fortemente ligado a Harlan, o primeiro terrorista de IA do mundo.
Algumas coisas parecem desconexas. Depois que Harlan partiu, a Terra ficou sob a proteção da Coligação Internacional das Nações (ICN), aguardando inquietamente o regresso de Harlan. Em uma cena rápida, um cientista cita a primeira das Três Leis da Robótica de Asimov, mencionando o nome do próprio escritor. Isso deveria representar a própria desconfiança nas inteligências artificiais.
No entanto, mesmo após o extermínio de milhões de humanos, nada impediu o uso generalizado da IA. Elas se tornaram quase onipresentes, como companheiros que jogam xadrez e ajustam o sistema de aquecimento de casa, mas também monitoram e conversam com as pessoas. Atlas não compartilha dessa visão, mas toda a tripulação da nave em que embarcou para ir atrás de Harlan considera o uso da tecnologia, especialmente os Links Neurais, absolutamente normal e imprescindível.
O filme poderia receber uma avaliação de “muito bom”, mesmo que o roteiro não seja inovador e a direção seja burocrática. No entanto, a protagonista cansa com o excesso de traumas, sentimento de culpa, choradeira e gritaria constante. O exagero é responsabilidade da atriz, mas principalmente do diretor, que deveria dosar melhor a interpretação. Houve uma preocupação em mostrar uma personagem problemática, mas o exagero não é uma forma de profundidade de personagem e também chega a cansar.
Os diálogos entre Atlas e a “entidade robótica inteligente e terapeuta”, Smith, são cheios de piadinhas, palavrões e palavras de duplo sentido que não parecem naturais, mesmo quando Smith afirma estar aprendendo tudo com Atlas. Isso é um problema de roteiro. Conciliar o texto, que aparentemente deveria ser engraçado, com as gritarias de uma personagem traumatizada é complicado. Outra falha da direção.
As cenas de interação entre Atlas e Smith quase levam a crer que se trata de um filme sobre amizade, especialmente no final, quando há um “forte” e intimista diálogo entre os dois, apesar dos ataques de Harlan. Se pudessem ser retirados os diálogos da cena de luta final, já teria valido as duas horas de filme.
Harlan, por outro lado, é um vilão clichê, malvado, perverso, irônico e sádico. Não é convincente tanto o personagem quanto a sua decisão de exterminar a humanidade para criar um mundo novo, pois os motivos que o levaram a isso não são bem explicados.
Alguns pontos positivos são a fotografia e os efeitos especiais. Nas cenas de luta, houve momentos que pareciam um videogame. No entanto, a questão da viagem até a galáxia de Andrômeda é exagerada, mesmo para um filme de ficção científica. A distância de 2,5 milhões de anos-luz exige uma tecnologia extremamente avançada, algo que não parece existir no universo do filme. Assim, são necessárias muita imaginação e aceitação por parte do espectador mais informado.
Ainda fico me perguntando qual era a ideia principal do filme. Se a intenção era debater questões éticas sobre o uso da tecnologia, especialmente a IA, isso se diluiu nos gritos de Atlas. Nem mesmo a questão dos Links Neurais foi apresentada de forma a gerar receio ou questionamento, uma forma de relacionar a ideia ao fato de haver atualmente a implantação de chips no cérebro.
CONCLUSÃO
Atlas é apenas mais um filme de ficção científica com uma trama pouco envolvente sobre IA. O filme é um tanto artificial e superficial. Devido às piadinhas “artificiais” e ao possível tema central do filme, não se sabe ao certo se é uma comédia ou um filme “sério”. Para quem não se importar com os “excessos” da personagem Atlas, o filme pode ser um entretenimento razoável. O filme, com mais de duas horas de duração, está disponível na Netflix.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.