‘Chronical 2067’: Viagem no Tempo em Busca do Mundo Perfeito no Futuro
A Terra está à beira da extinção devido às radicais mudanças climáticas. A vida vegetal desapareceu e o oxigênio tornou-se escasso. Os cientistas estão desenvolvendo tecnologia para se mover no tempo. Então, parece haver alguma esperança quando uma mensagem de 400 anos no futuro é interceptada. Alguém deve ser enviado ao futuro, pois representa a última esperança para a Humanidade.
Paulo Bocca Nunes
Um dos sub-gêneros mais conhecidos na ficção científica é o das viagens no tempo. A literatura trouxe as primeiras histórias, como A Máquina do Tempo (1895), do escritor inglês H. G. Wells. A partir da invenção do cinema não demorou para surgirem não apenas histórias originais como também as muitas adaptações de romances. O próprio romance de Wells é um exemplo, mas há muitos outros.
Devido às dificuldades em se chegar a um consenso sobre as causas e as formas de combater e resolver os problemas climáticos atuais, os filmes de ficção científica que tratam sobre esse assunto remetem a uma forma de escape que é impossível atualmente: a viagem no tempo. Em geral, a viagem é feita ao passado para alterar alguma ação que provocou uma catástrofe ambiental que se alastrou pelo mundo e fez do planeta um lugar quase, senão totalmente, inabitável. Um exemplo mais recente é a produção dos Países Baixos, Capitã Nova (2021). No caso de Chronical 2067, a viagem é feita para o futuro, 400 anos adiante, mas nada se sabe sobre o que acontece lá ou o que há naquele período temporal que possa salvar a humanidade do total aniquilamento.
Em Chronical 2067 temos um mundo à beira da extinção e um cientista cria uma máquina do tempo para tentar encontrar uma saída para o problema. Então, em um dos experimentos, a máquina recebe uma mensagem do futuro: Envie Ethan Whyte.”
O ano é de 2067. A Terra não possui mais vegetação e o oxigênio natural para a vida deixou de existir. Uma empresa, a Chronicorp, produz um tipo de oxigênio sintético, porém a maioria das pessoas não consegue comprar o suficiente. Algumas ainda, como a esposa de Ethan, Xanthe (Sana’a Shaik), têm uma doença que rejeita lentamente o oxigênio fabricado. Ethan White é um Zé Ninguém que ganha a vida consertando usinas de energia.
Certo dia, Ethan é chamado aos escritórios da Chronicorp, onde a executiva da empresa, Regina Jackson (Deborah Mailman) lhe informa que ele é o único que pode salvar a humanidade. A máquina que permitirá essa viagem 407 anos no futuro foi construída pelo pai de Ethan, mas a viagem não garante que haverá uma forma de retornar. Ele só toma coragem e se decide quando há a interferência de seu melhor amigo, Jude (Ryan Kwanten).
Quando Ethan chega no ano de 2474, muitas surpresas aguardam por ele. Um futuro inimaginável para o ano do qual ele veio. Revelações assustadoras fazem com que ele se questione sobre não apenas a sobrevivência da humanidade como também a forma de salvá-la ou livrá-la de um futuro sem qualquer perspectiva. Ethan acaba por receber um aliado na sua missão e ele veio do passado, ou da mesma época dele. Trata-se de seu amigo Jude (Ryan Kwanten).
Ethan e Jude encontram esqueletos que deixam os dois ainda mais em dúvida sobre o êxito da missão. A partir daí, tudo transcorre num provável paradoxo temporal. Ethan e Jude estão no futuro, mas para eles tudo é muito presente. Enquanto que, no presente, de onde vieram os dois amigos, transcorrem outras ações que envolvem interesses escusos, política e influência financeira.
Alguns flashbacks apresentam a origem de Ethan, filho de um cientista que se dedica ao trabalho para salvar o que resta da humanidade. Neles, observamos o comportamento do pai de Ethan, momentos entre pai e filho, aspectos do abandono do pai entre outros detalhes que parecem, ou deveriam, estar a serviço da história.
Embora o melodrama contenha informações necessárias, as emoções parecem pré-fabricadas e não são muito convincentes. Embora a ação em 2474 seja ostensivamente um caso de suspense, Ethan e Jude passam grande parte do tempo em discussões e tristes caminhadas pela estrada da memória.
O final mexe com o paradoxo temporal e isso traz forte influência para o presente de Ethan, mas não o livra de alguns pesos na consciência. Algumas dúvidas sobre isso parece que não terão respostas.
De modo geral, o filme traz uma ideia interessante para desenvolver a questão da viagem no tempo, porém muita coisa ficou no debate filosófico e um tanto desnecessário. A questão do provável paradoxo parece confusa e o roteiro explora a ideia como se quisesse forçar um caminho sem muita lógica.
Dentro de uma realidade pós apocalíptica, muitas revelações mostraram um projeto mesquinho e voltado apenas para um grupo de escolhidos mediante exploração financeira. Nessa viagem temporal algo funcionou quase como uma demonstração da importância da visão sobre a história: é no futuro que se conhecem os erros do passado e o que levou tudo ao caos.
O final, no entanto, passa a impressão de ter ocorrido um problema temporal, pois Ethan percebeu qual seria o rumo da história se ele seguisse os passos que estavam planejados para ele dar e ter êxito em sua missão, segundo os planos de Regina Jackson, da Chronicorp.
Chronical 2067 nos passa a ideia de que, para recuperarmos o que prejudicamos ou destruímos, no caso o nosso planeta, serão necessários muitos sacrifícios e para salvarmos o planeta essa trajetória é um caminho sem volta. Literalmente falando.
Há momentos interessantes de suspense e ação, mas sem muito envolvimento. O resultado final para essa produção australiana de baixo orçamento é bom, mesmo que os diálogos não representem o ponto alto do filme. Os efeitos especiais, apesar de não serem tão grandiosos, correspondem muito bem à proposta de mostrar um mundo totalmente destruído pelo relapso e irresponsabilidade daqueles que deveriam cuidar do meio-ambiente.
O filme está disponível na Prime Vídeo, mas você assistir de graça no Youtube e o link é esse AQUI.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.