Corpos: O Enigma Temporal da Netflix
Uma série de viagem no tempo apresenta um mistério e uma forte conspiração temporal que correm várias épocas de um mesmo lugar.
Para um programa de viagem no tempo, a série “Corpos” é ambiciosa. Não é fácil conciliar quatro linhas do tempo diferentes, ao mesmo tempo que tentamos permanecer fiéis às épocas históricas, bem como conciliar pontos intrincados da trama que se cruzam em todas as quatro épocas
O primeiro tópico passa pelo presente, onde a detetive Shahara Hasan (Amaka Okafor) interpreta uma mãe solteira muçulmana, cujo trabalho tira o tempo da família e que tem jeito com crianças problemáticas. No meio de uma manifestação de extrema direita onde Hasan foi chamado para manter a ordem, ela avista um garoto armado. Ela dá início à perseguição, apenas para ficar com uma criança fugitiva e um corpo nu.
Em meio às sirenes de ataque aéreo da Primeira Guerra Mundial, somos levados de volta a 1941, onde um elegante mulherengo – para não mencionar um judeu na Londres anti-semita – o detetive Karl Whiteman (Jacob Fortune-Lloyd), está recebendo telefonemas misteriosos de um mulher, uma das quais envolve pegar um corpo nu com uma marca estranha no pulso.
Mais para trás no tempo, na Londres vitoriana de 1890, onde o detetive Alfred Hillinghead (Kyle Soller), um homem de família com esposa e filha pianista, se une a um jornalista do Star para investigar um assassinato que ninguém quer investigar, enquanto guarda segredos. desejos que ele é forçado a esconder da família e da sociedade.
E, finalmente, 2053, onde a detetive Iris Maplewood (Shira Haas) vive uma vida solitária em uma utopia repressiva que ela aceitou para poder contornar sua deficiência. Ela usa um instrumento espinhal que a ajuda a andar. O que une todos esses fios? Corpos. Ou, para ser mais preciso, um único corpo que surge do nada a cada vez, sempre em Long Harvest Lane.
“Corpos” é uma série de ficção científica e mistério que se destaca por sua abordagem única de viagens no tempo e investigações criminais. Cada detetive, em seu respectivo período, tenta desvendar o enigma por trás deste corpo, revelando uma trama intricada que conecta suas investigações através das décadas.
A fotografia de “Corpos” é um dos seus pontos altos. Cada linha temporal é capturada com uma paleta de cores distinta que não só ajuda a diferenciar os períodos, mas também a estabelecer a atmosfera de cada época. Os efeitos especiais são utilizados de forma eficiente para ilustrar as transições temporais e os elementos de ficção científica, sem se sobrepor à narrativa central.
A direção de Marco Kreuzpaintner é coesa, mantendo a complexidade da trama bem organizada e fácil de seguir. Ele consegue equilibrar os diferentes arcos narrativos, proporcionando momentos de tensão e revelações impactantes. As atuações são convincentes, com destaque para Stephen Graham, cuja performance adiciona camadas de ambiguidade e intensidade ao seu personagem. Shira Haas também se destaca, trazendo uma mistura de vulnerabilidade e determinação à sua personagem futurista.
ANÁLISE CRÍTICA
“Corpos” tem sido elogiada por sua originalidade e pelo modo como entrelaça suas diferentes linhas temporais. A série é um exemplo de como a ficção científica pode ser usada para explorar temas profundos como identidade, moralidade e as consequências das ações humanas através do tempo. No entanto, alguns críticos apontam que a complexidade da trama pode ser um pouco confusa em alguns momentos, exigindo atenção total do espectador.
A série apresenta diversos pontos positivos como a fotografia impecável e uso eficaz de paletas de cores para diferenciar os períodos. As atuações fortes, especialmente de Stephen Graham e Shira Haas e a direção coesa que mantém a narrativa clara e envolvente. Para os fãs de adaptações de obras literárias ou comics, a série “Corpos” se destaca pela sua fidelidade à obra original de Si Spencer.
Os pontos negativos podem estar na complexidade da trama com suas transições temporais às vezes abruptas. Para o espectador menos atento, isso pode parecer confuso.
BASEADO EM OBRA LITERÁRIA
A série é baseada na graphic novel homônima de Si Spencer, publicada pela primeira vez em 2015. A obra original já apresentava uma narrativa complexa e multifacetada, que foi adaptada para a televisão com fidelidade ao espírito da história, mas com algumas adaptações necessárias para o formato serial.
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO
“Corpos” é uma série imperdível para fãs de ficção científica e mistério. Sua abordagem inovadora de viagens no tempo e investigação criminal oferece uma experiência envolvente e intelectualmente estimulante. A série requer atenção aos detalhes, mas recompensa o espectador com uma trama rica e personagens bem desenvolvidos. Recomendamos assistir “Corpos” para uma exploração profunda de como nossas ações repercutem através do tempo.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Marco Kreuzpaintner / Roteirista: Paul Tomalin / Elenco Principal: Stephen Graham: (Elias Mannix); Shira Haas: (Iris Maplewood); Jacob Fortune-Lloyd: (Charles Whiteman); Amaka Okafor: (DS Shahara Hasan).
Assista ao vídeo sobre esse mesmo artigo, que está no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, acione as notificações, curta o vídeo e deixe o seu comentário.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.