Duna 2: Épico Demais
A espera de três anos valeu a pena. Duna 2 entra para o grupo muito seleto de filmes épicos de ficção científica, onde estão Star Wars e Star Trek.
Paulo Bocca Nunes
Sem dúvida alguma, a obra de Frank Herbert é uma das mais complexas e difíceis da ficção científica para ser trabalhada e adaptada para o cinema ou para uma série de TV. Antes de Denis Villeneuve, outros diretores tentaram fazer uma adaptação que representasse a grandiosidade da obra. Uma dessas sequer saiu do papel e a adaptação de 1984.
A dificuldade da série de livros de Duna, que é composta por seis livros escritos por Herbert e outros dezessete por seu filho, Brian, está na complexidade de assuntos abordados pelo autor, que envolvem religião, poder, fanatismo e misticismo. Outro aspecto importante: os vermes gigantes da areia. Como mostrar esses gigantes tão importantes na trama? Mas, eles estão lá, grandes, imponentes e misteriosos tal como nos livros.
Na adaptação de 2021, Villeneuve atingiu um grau de qualidade muito grande. Houve uma preocupação que a parte dois de Duna não alcançasse a mesma qualidade, como é normal em filmes que têm uma sequência. No entanto, o segundo filme foi muito melhor do que o primeiro, que foi muito bom!
Duna 2 está ambientado logo após o final do primeiro, retomando a história e entregando uma trama envolvente. O ator Timothée Chalamet, que interpreta o personagem principal, Paul Atreides, conseguiu superar a sua própria atuação do primeiro filme, trazendo um personagem que evolui a cada cena.
Na sequência, Paul está determinado a assimilar a cultura dos fremen, nativos do planeta Arrakis, também conhecido como Duna. A morte do pai, o duque Leto, deixou o jovem sucessor da casa Atreide desejoso de vingança e reparação. Porém, os fremen veem Paul como o “Escolhido”, aquele que virá num futuro para libertar o povo da opressão dos inimigos. Paul, a princípio, não aceita ser o Messias, mas, com o passar do tempo, enquanto ele se envolve com a jovem guerreira fremen, Chani, ele acaba convencido por Lady Jessica e traça o seu destino em Arrakis.
O que mais chama a atenção é a forma como Villeneuve apresenta a evolução de Paul Atreides sem esquecer as tramas secundárias tão importantes e que contribuem para a jornada do personagem. De um jovem arrogante atrevido que é um pouco habilidoso com uma espada, a um guerreiro temido, ao profetizado líder da tribo Fremen de Arrakis, é realizado com uma intensidade abrasadora.
A forma como foi conduzida a evolução do personagem Paul vai se conectando à história dos outros personagens secundários. Nenhum deles fica na sombra de Paul, todos tem o seu momento e a sua importância.
Destaques especiais para os personagens Chani (Zendaya), Lady Jessica (Rebecca Ferguson), Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skargard), Rabban Harkonnen (Dave Bautista), Stilgar (Javier Bardem) e Feyd-Rautha harkonnen (Austin Butler). Outros personagens brilharam pela maestria de seus intérpretes. Impressionante como a direção conseguiu tirar o melhor de cada um.
Ainda sobre Austin Butler, interpretando Feyd-Rautha, o sobrinho psicopata do déspota levitante do Barão Harkonnen, cabem mais comentários. A composição do personagem, o visual sem maquiagens exageradas, apenas com o rosto limpo e a cabeça raspada, destacam o olhar frio, sanguinário e psicopata. No momento em que o personagem experimenta a lâmina de seu punhal afiada com a língua estendida, antes de cravá-lo na garganta de um infeliz, é assustador e ao mesmo tempo fenomenal quando vemos a entrega do ator ao personagem.
A transformação de Lady Jessica também tem os méritos de Rebecca Ferguson. No primeiro filme, encontramos uma mulher quase submissa ao chefe da Casa Atreide. À medida que as coisas vão mudando no planeta Arrakis, com a queda da Casa Atreide, Lady Jessica vai assumindo uma personalidade cada vez mais forte. Porém, a partir do momento que a personagem é levada a ser a nova Reverenda Madre dos fremen, ela assume uma crueldade e friezas impressionantes.
O ponto alto do filme não poderia ser outro: Paul Atreides subindo e controlando um dos vermes gigantes. Ao final, quando os monstros da areia são levados ao campo de batalha, o público prende a respiração e o filme sobre para um patamar que se sobrepõe ao épico.
Os efeitos especiais são de primeira linha e a cinematografia é impressionante.
A trilha sonora e musical contribuem muito para o clima épico de Duna. A fotografia do filme mostrou nuances diferentes para o mesmo tipo de cenário, o deserto de Arrakis, durante o dia, ao final da tarde e à noite. O mundo sombrio e cinza dos Harkonnen merece um grande destaque com a forma como foi retratado e introduzido os seus personagens.
Trilha sonora e musical, além dos figurinos e maquiagens completam a maestria da obra do diretor Villeneuve.
O que parecia ser impossível traduzir em filme, dadas as complexidades dos temas infiltrados na trama (jogo político, poder, interesses econômicos e fanatismo religioso) foi transformado em obra de arte. O diretor Villeneuve mostrou ter o toque de Midas para o cinema.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.