Hari Seldon: A Mente Por Trás da Psicohistória
Do planeta Helicon para o Império Galáctico, a jornada que previu a queda de um Império.
Figura central na saga de Isaac Asimov, Hari Seldon ultrapassa os limites da ficção para se tornar metáfora da ciência moderna e da obsessão humana por prever o futuro.
Paulo Bocca Nunes
A Origem de um Ícone da Ficção Científica
Hari Seldon é, sem dúvida, um dos personagens mais emblemáticos da ficção científica do século XX. Criado por Isaac Asimov, o matemático de Helicon não é apenas um personagem: ele representa o ideal de controle racional da história, uma tentativa quase divina de conter o caos do destino humano por meio da Psicohistória — ciência fictícia que combina matemática, sociologia e estatística para prever o comportamento de grandes populações. Dessa forma é possível prever eventos futuros, algo que ele faz ao prever a queda iminente do Império Galáctico.
Sua primeira aparição ocorreu no conto “Foundation”, publicado em maio de 1942 na revista Astounding Science Fiction, sob a edição de John W. Campbell. Ao longo dos anos, Seldon cresceu, ganhou contornos mais complexos e se tornou um símbolo — tanto dentro do universo ficcional da Fundação quanto nas discussões do mundo real sobre estatísticas, futurologia e inteligência artificial.
Hari Seldon nos Contos Originais (1942)
No conto original, dividido em duas partes, Hari Seldon aparece como um homem muito velho e enfraquecido, com 79 anos, falando aos psicohistoriadores sobre o fim dos trabalhos e o início do futuro traçado:
“Os dois Refúgios Científicos que planejamos foram estabelecidos: um em cada extremidade da Galáxia, em Terminus e em Star’s End. Eles estão em operação e já se movendo ao longo das linhas inevitáveis que traçamos para eles...”
Após essa fala, ele finaliza: “Quanto a mim, estou no fim.”
Nos contos originais das revistas, Seldon morreu meses antes da transferência final dos cientistas para Terminus. Na segunda parte do conto — cerca de 50 anos após a chegada dos pioneiros a Terminus — Seldon surge como uma projeção holográfica saída de um dispositivo chamado apenas de Cofre, sempre sentado em uma cadeira de rodas. Ele fala a todos que estão presentes na sala do Cofre:
“Essa foi apenas a primeira de uma série de crises. Nenhum de vocês saberá qual será a próxima — não restaram psicohistoriadores. Cabe à Fundação enfrentá-las.”
A partir daí, ele surge em momentos críticos para confirmar o andamento do Plano Seldon. Essa dinâmica se repete nos contos seguintes publicados nas revistas.
A Reformulação no Livro “Fundação” (1951)
Com a publicação do livro Fundação, em 1951, Asimov reestruturou os contos, ampliando e enriquecendo a introdução do personagem. Começando pelo primeiro capítulo que foi baseado na primeira parte do conto original na revista de 1942. No livro, o conto foi ampliado e surge o jovem Gaal Dornick, vindo de Synnax, que é acolhido por Seldon em Trantor.
Na abertura do capítulo do livro, há uma entrada da Enciclopédia Galáctica informando que Seldon nasceu em 11.988 Era Galáctica no planeta Helicon, no setor de Arcturus e morreu em 12.069 em Trantor.
Nesta nova versão:
- Seldon continua velho, porém mais ativo e racional;
- Ele e Dornick são presos e julgados por preverem a queda do Império;
- A sentença é o exílio em Terminus, onde a Fundação será criada;
- Ao final do julgamento, Seldon diz novamente: “Quanto a mim, estou no fim.”
Nos capítulos seguintes, ele volta a aparecer apenas como projeção holográfica, sempre surgindo em momentos cruciais para validar o avanço da psicohistória.
A Reinvenção de Seldon na Série da Apple TV+
A série Foundation da Apple TV+ (2021) faz alterações significativas na trajetória de Seldon. Interpretado por Jared Harris, ele mantém a imagem de homem experiente, mas com muito mais vitalidade que nas versões anteriores.
Entre as principais mudanças:
- Hari Seldon não morre em Trantor. Ele segue com seus seguidores para Terminus a bordo da espaçonave Deliverance;
- A bordo, surgem acontecimentos que se distanciam radicalmente dos livros: Gaal Dornick apaixona-se por Raych, filho adotivo de Hari;
- Gaal descobre falhas nos cálculos de Seldon e presencia seu assassinato pelas mãos de Raych;
- Raych conduz Gaal à força a uma cápsula criogênica, onde ela dorme por 34 anos;
- Ela acorda na nave Raven, completamente automatizada, onde encontra uma cópia digital de Hari, armazenada na faca usada por Raych para matá-lo.
Seldon revela que:
- Planejava seu próprio suicídio, com Gaal liderando a Fundação e Raych completando o ciclo;
- O relacionamento entre Gaal e Raych atrapalhou os planos;
- Gaal possui uma habilidade latente de presciência, que será fundamental para a continuação do plano.
Seldon então revela sua intenção de criar uma segunda Fundação secreta em Helicon, apelidada de Star’s End, localizada na órbita de um buraco negro. Gaal, revoltada com a manipulação de seu mentor, parte sozinha para Synnax, viagem que levará 138 anos.
Ao longo das temporadas, diversas versões de Seldon se manifestam:
- A consciência digital na nave Raven;
- O holograma no Vault de Terminus;
- A manifestação contida no Prime Radiant;
- E por fim, um Seldon vivo no planeta Ignis, entre os mentálicos, preparando-se para enfrentar o Mulo e corrigir os desvios do plano original.
Helicon – O Mundo Natal do Criador da Psicohistória
Helicon é um planeta do setor de Arcturus, descrito como remoto e modesto em população e recursos. Apesar das dificuldades, possui prestígio cultural e educacional.
- Abriga a Universidade de Helicon, respeitada por sua tradição científica;
- É o berço da arte marcial nativa conhecida como “Arte do Tufão”, da qual Seldon era praticante — algo demonstrado em Prelúdio à Fundação;
- Foi influenciado por um grupo chamado Globalistas, que acreditava que Helicon era o único planeta habitado do universo, afetando a economia local por volta de 11.798 EG.
Hari Seldon na Cultura Pop e na Ciência Real
A figura de Hari Seldon ultrapassou o universo da ficção científica e entrou no discurso acadêmico e na cultura pop como metáfora da previsão racional de eventos sociais.
- O historiador Ian Morris, da Universidade de Stanford, citou Seldon como inspiração ao tentar aplicar modelos estatísticos para entender mudanças sociais ao longo da história;
- Em 2020, um artigo da revista The Economist fez referência direta a Seldon ao discutir como pandemias e crises sociais podem ser analisadas por meio de grandes volumes de dados — criando, como eles mesmos chamaram, um ‘modelo geral de computador da sociedade’.
- Seldon também é usado como metáfora em artigos acadêmicos sobre mudança de pensamento coletivo, cenários políticos e até futurologia.
- Pesquisas sobre inteligência artificial, ética algorítmica e big data frequentemente o citam como referência simbólica;
- Seldon e a psicohistória também inspiraram tentativas de criar sistemas preditivos, como simulações militares e projetos de IA social.
Conclusão: Entre a Lenda e a Lógica
Hari Seldon é mais do que um personagem. Ele representa o eterno desejo humano de prever o futuro e controlar o caos. Com base na razão e na matemática, mas cercado por imprevistos e fatores emocionais, sua jornada reflete o dilema da própria humanidade: até onde podemos prever o futuro… e o que estamos dispostos a sacrificar por isso?
Como criador da psicohistória, Seldon tornou-se símbolo de esperança, manipulação e genialidade. E mesmo que sua figura continue a se multiplicar — em livros, séries, artigos ou debates —, seu legado permanece o mesmo: provocar em nós o pensamento sobre o destino da civilização.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.
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