Instinto assassino: quase mataram o filme
Há filmes que mal chegam nas plataformas de streaming e já pulam nas primeiras posições dos mais assistidos, simplesmente por causa de um nome conhecido no elenco. Mas, passada a surpresa, vem a realidade.
Paulo Bocca Nunes
Filmes de ação podem ter uma surpresa ou pode criar uma forte expectativa e vir a ser uma frustração. Principalmente quando observamos nomes conhecidos no elenco e esperamos algo fantástico ou no mínimo muito bom. Por uma dessas coisas da vida, Instinto assassino deixou algumas impressões não muito favoráveis.
A história segue o personagem D, um ex-detento cumprindo pena condicional em casa e usa uma tornozeleira eletrônica. Ele se esforça para se manter na linha e recebe muitas cartas de seu irmão, que vive em uma ilha um tanto isolada no Pacífico. Ele está montando um pequeno hotel para ter o seu negócio de turismo e sempre pede a visita de D.
O personagem D, que é interpretado por Scott Eastwood, filho de Clint Eastwood, usa remédios e faz consultas por telefone com seu psiquiatra, Dr. Alderwood, interpretado por Mel Gibson. Passado um tempo, D recebe uma carta de sua cunhada informando que seu irmão morreu. D fica abalado e parte para a ilha para participar do funeral.
A partir de sua chegada, os acontecimentos se atropelam em uma trama meio macarronesca. Um agente da polícia fica na cola de D, assim como alguns criminosos aparecem para pegar alguma coisa que afirmam estar em poder do irmão de D.
O primeiro ato do filme consegue contar uma história interessante, que promete bastante em termos de trama, ação e suspense. A partir da metade do filme já começa a embaraçar algumas coisas dentro da própria trama e combina com algumas interpretações um tanto fracas.
As cenas mais intensas de ação não seriam ruins se houvesse uma preocupação maior com o que é feito e como fazer bem feito. As tomadas de câmera não ajudaram muito nesse aspecto. As cenas do clímax, no terceiro ato, onde há muita correria, luta e tiroteio foram um tanto artificiais.
A história vai nos entregando aos poucos um mistério que é explicado no final, porém ainda fica devendo em consistência e um fechamento adequado. Esse mistério vai sendo solucionado por D, mesmo que esteja sendo perseguido por criminosos que o conhecem, e pelos próprios familiares, principalmente pela mãe que o quer longe. Esse conflito do personagem D seria muito bom se houvesse uma colaboração tanto do roteiro de Christopher Borrelli quanto do elenco. Claro que o diretor David Hackl também poderia dar uma sacudida nisso tudo.
Há coisas inconsistentes e quase irreais. Por exemplo, como podem ser usados celulares há centenas de metros abaixo da terra estando em uma ilha distante no meio do Pacífico? Eu acredito que em países desenvolvidos há tecnologia de ponta em termos de telecomunicações, mas conseguir rede num lugar assim, fica complicado de o espectador aceitar uma “verdade”. Ainda mais que os celulares são usados em momentos críticos.
As relações de D com a família poderiam ser mais bem desenvolvidas. A mãe, por exemplo, guarda uma enorme mágoa de D e isso se reflete muito no desenvolvimento da trama. A solução final para esse conflito não foi das melhores, pois entrou num “lugar comum”, previsível, puxando um pouco para um dramalhão. Esse foi um defeito da direção, ou seja, não dar preferência ao drama familiar à história e ficar mais atento às cenas de ação, correria e tiroteio.
A participação especial de Mel Gibson trouxe um lado cômico para a história. Seu personagem, Dr. Alderwood, um psiquiatra, que tem problemas com bebida, dá as orientações para D se manter na linha e não entrar em confusão, algo que o levará direto para a cadeia de novo. A exigência para o personagem não poderia passar do que foi, no entanto, um nome do peso de Mel Gibson, pode se dizer que não foi muito bem aproveitado.
No final, não se sabe exatamente para onde as coisas vão. Não há uma solução que defina qualquer coisa. O filme é uma diversão razoável para quem gosta do gênero, mas tinha tudo para ser um grande filme.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.