Jung_E: ficção científica sul-coreana não entrega o que promete.
As produções sul-coreanas têm se destacado no início dos anos 20 do século vinte e um. A mais nova produção, Jung_E foi muito aguardada, mas não entrega o que promete.
Paulo Bocca Nunes
JUNG_E é um filme de ficção científica sul-coreano de 2023, escrito e dirigido por Yeon Sang-ho, estrelado por Kang Soo-yeon, Kim Hyun-joo e Ryu Kyung-soo. O filme apresenta a última aparição de Kang Soo-yeon, que faleceu antes do lançamento do filme. Estreou em 20 de janeiro de 2023 na Netflix.
A história se passa no ano de 2194. A Terra está desolada pelo aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas. Por conta disso, a humanidaed passou a viver no espaço, em mais de 80 abrigos entre a Terra e a Lua. Três desses abrigos s declararam autônomos e criaram o ‘País de Adrian’ e passam a atacar os outros abrigos e a Terra. A guerra é inevitável. Para os habitantes dos abrigos e dos que ainda habitam a Terra terem uma chance de vitória, o laboratório Kronoid tentam clonar o cérebro de uma lendária soldado, chamada Jung_E, que ficou muito ferida em combate e entrou em coma. O objetivo é colocar a consciência de Jung_E, transformada agora em androide, em outros androides e assim criar um exército capaz de enfrentar e vencer o inimigo.
Essa é a premissa prometida pelo filme, porém, o que vemos a partir daí é algo totalmente diferente. A história segue outro rumo, intimista e um tanto filosófico sobre clonagem e uso de inteligência artificial, se observarmos as questões éticas e morais escondidas nas dobras do roteiro.
O começo larga com muita ação, com Jung_E em combate contra vários androides altamente letais. A sequência é de muita ação e lutas coreografadas. Jung_E arrebenta os androides a tiros e socos! De repente, tudo para e o resto do filme é um confronto sobre as pesquisas com Jung_E e como obter os melhores resultados para que a soldado possa ter seu cérebro clonado para os outros androides, semelhantes em aparência.
Esse debate cansativo fica com a filha de Jung_E, Seohyun, chefe de pesquisa da Kronoid e o diretor da empresa, Sang-heon. Com exceção dos primeiros momentos do filme e se estendendo até o terceiro ato, a história é cansativa, lenta, com longos momentos de personagens em reflexão sobre a situação que vive, sobre os seus traumas familiares e as questões políticas e éticas dos experimentos. Toda a ação, e somente isso, é retomada nos momentos finais depois de uma reviravolta muito estranha e com pouco sentido.
A impressão é de termos três filmes diferentes em um só, sendo que nenhuma parte se conecta minimamente a um roteiro coeso. Toda a premissa de haver um conflito bélico tomou um espaço no filme que poderia ter sido usado de outra forma para desenvolver a história que se contou em quase 75% do filme.
Em certo momento sabemos que o sistema de clonagem da Kronoid se constitui em um emaranhado de interesses que envolve questões de exploração financeira. Mas, essa trama não se desenvolve porque ela se dissolve na confusão do roteiro e da direção confusa de Yeon Sang-ho.
Se tudo começa como um filme de ficção científica pós apocalíptico e distópico, tudo se converte em um drama familiar, que arrependido de ser cansativo volta a ser de ação e aventura e muitas lutas coreografadas. A essa altura, tudo já foi embora: o ânimo e o interesse. O que fica estranho é que o diretor Yeon Sang-ho é o mesmo de Invasão Zumbi, muito elogiado.
A parte emocional do filme, que é quase 75%, não funciona porque está em uma esfera externa na esfera inicial. O final não tem cenas pós-créditos, mas há uma ideia de que pode haver uma sequência. O problema é que, se cair na mesma mão de roteirista e diretor, corre-se o risco de haver outro filme sem qualquer sentido.
O protagonismo de Jung-E pode ser questionado porque a personagem Yoon Seo-hyun assume o centro da maior parte do filme e Jung_E passa a ser um elemento motivador de direcionamentos da trama, que muda seguido e de forma surpreendente. Isso não significa que é ótimo.
Num filme como esse é necessário um antagonista que provoque o protagonista a uma ação heroica. Porém, como pode haver um antagonista em meio a tanto drama pessoal, portanto, interno? O que se parece com um “vilão” é algo teatral. Aquela coisa do exagero e um tanto bufanesco.
O CGI é ótimo, efeitos especiais ótimos, a fotografia ótim, mas apenas isso não sustenta um filme. O que se pecisa é de uma história. O filme é apático e sem graça. Há poucos momentos de uma ação coerente que conte uma boa história. O filme não pode ser colocado no mesmo nível de outras produções coreanas dos últimos três anos.
Infelizmente, o que se pode lamentar é que a atriz Kang Soo-yeon, que interpretou a personagem de Yoon Seo-hyun, faleceu em 2022.
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