Meu Porto Seguro: história para aquecer o coração
Uma história comovente sobre doenças, reflexões e buscas por um sentido na vida, ou por algum objetivo que se revela só no momento mais inesperado. A produção turca de Meu Porto Seguro comoveu o público na Netflix.
Paulo Bocca Nunes
Dramas românticos são sempre uma boa pedida para um fim de semana, assistindo no sofá de casa e bem acompanhado. Há, no entanto, alguns que ultrapassam as expectativas e prendem o espectador até o final e ainda por cima faz com a pessoa mais durona dê uma coçada no olho, só para disfarçar aquela emoção que o filme provoca.
Não é qualquer filme que consegue unir elementos que prendem o espectador não só pela qualidade, mas também pela trama que move toda a história. Questões familiares, com uma forte história de vida de uma mulher que escolheu dedicar-se sozinha à educação de seu filho com uma pitada dramática de uma doença terminal em um dos personagens são temperos bastante bons para um roteiro. Principalmente se o personagem principal cativa o espectador pelo conflito que ele vive e os objetivos que busca alcançar, então é impossível não se emocionar de verdade nos momentos finais.
A produção turca de Meu Porto Seguro é mais uma bela demonstração da diversidade cinematográfica que a Netflix trouxe em 2022. O filme teve estreia mundial em março e muito rápido se tornou um dos mais assistidos na plataforma.
A história conta a trajetória de Melisa que tem cinco meses de vida devido a uma grave doença. Ela tem um filho de seis anos de idade e os dois são inseparáveis. O garoto, chamado Can, é muito ativo e a única imagem que ele tem de seu pai é uma foto de quando o garoto era muito pequeno.
Sabendo de seu destino, Melisa busca encontrar alguém que cuide de seu filho. Certo dia, os dois vão a um café e lá encontram um sujeito, o Firat, um tanto grosseiro e impaciente que está atrás dos dois na fila do caixa. A situação é bastante chata para mãe e filho, ainda mais que ela descobre que Firat é um empresário bastante importante em Istambul, onde eles vivem.
Depois de conversar com sua melhor amiga, Melisa busca se aproximar de Firat e depois conquistá-lo, pois acredita que ele é a melhor opção para ser a pessoa qeu cuidará de Can. O problema é que, no começo, tanto o garoto quanto Firat não parecem dispostos a gostarem um do outro. O desenvolvimento da relação entre Melisa e Firat e deste com o jovem Can tem momentos muito divertidos e vão cruzando com o drama de Melisa, pois ela está preocupada em não deixar seu filho desamparado.
Os momentos em que mãe e filho passam juntos, a forma como o garoto lamenta não ter conhecido o pai, somando-se à luta de Melisa para conquistar Firat definitivamente e fazê-lo aceitar Can, move toda a história. No final, quando esperamos uma tragédia pela iminente morte de Melisa, o espectador tem uma surpresa arrasadora. Inclusive, todas as pistas são dadas durante o filme e mesmo assim ficamos surpresos. O melhor disso é que nada é contado, mas é mostrado.
Em filmes desse gênero é comum haver um ritmo um pouco lento, que desenvolve a história de forma um pouco preguiçosa, fazendo construções de personagens e de situações dramáticas. Tudo para levar o espectador a se comover com o personagem principal. Muitos se transformam em dramalhões terríveis. Esse filme, no entanto, coloca pitadas de humor e irreverência bem distribuídos no meio do problema central, sem se transformar em algo banal. Tudo está sob a mão coordenada do diretor Ketche. O roteiro de Hakan Bonomo se não é perfeito, pode se dizer que consegue amarrar muito bem a história, apesar de não sabemos exatamente qual a doença de Melisa. Por conta disso, podemos dizer que o filme guarda certa superficialidade, sem aprofundar na questão. Por outro lado, o foco central era a luta de Melisa em encontrar alguém para cuidar de seu filho.
Com certeza existem alguns deslizes, entretanto esses não comprometem a boa qualidade dessa produção. A interpretação dos atores foi exata, delicada e sem exagerar naqueles sentimentalismos grotescos. O elenco principal com Aslı Enver (Melisa), Mert Ege Ak (Can) e Kaan Urgancioglu (Firat) teve atuação bem definida, com destaque para o jovem Mert.
A fotografia é ótima. Diga-se de passagem que é muito bom assistirmos a um filme que saia um pouco do mesmo de sempre de Hollywood e suas cidades cheias de conflitos sociais e carros em perseguição de outros, explosões, fugas por guetos e outras coisas do tipo. Ao assistirmos a Meu Porto Seguro encontramos uma diversidade cultural bastante importante, novos traços de rostos, novos cenários, outras partes do mundo e pessoas vivendo os seus dramas e conflitos como em qualquer outra parte do mundo.
Uma história bem contada, sem ser espetacular e sem aquelas coisas que já estamos nos acostumando de esperar os créditos finais para ver se teremos uma continuação.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.