O Submarino: muita água, pouca ficção científica
Uma forte radiação do Sol se espalha por todo o sistema solar afetando todos os planetas. Um grupo de cientistas tenta sobreviver fugindo do nascer do sol que traz destruição e morte.
Paulo Bocca Nunes
SÉRIE BASEADA EM UM ROMANCE DIGITAL
Tanto a série belga quanto a turca se baseiam no livro The Old Axolotl (Starość Aksolotla), de 2015, do escritor polonês Jacek Dukaj. A produção turca, no entanto, traz muitas diferenças em relação ao romance.
O livro em formato digital traz um conto pós-apocalíptico sobre um mundo no qual uma catástrofe cósmica esterilizou a Terra de todos os seres vivos. No entanto, um pequeno número de humanos conseguiu copiar versões digitalizadas de suas mentes em hardware no último instante. Esses humanos ficaram privados de corpos físicos, mas continuam a existir carregando-se em gigantescos robôs industriais, máquinas médicas sofisticadas, mechs projetados para trabalhos extremos, drones militares, soldados estelares e sexbots baseados em mangás japoneses. A série, portanto, não traz qualquer semelhança com o livro.
A série apresenta pouquíssima ficção científica. O primeiro episódio, e apenas nos momentos iniciais, podem enganar o espectador. Com o desenvolvimento, outros elementos de gêneros diferentes vão surgindo. Tem alguma apresentação e desenvolvimento de personagens, mas no geral, não se percebe algo muito profundo. Um desperdício foi a relação conflituosa entre o biólogo Arman e seu pai. O que se sabe sobre esse problema, é tudo contado. Isso não dá força aos personagens nem cria uma empatia com eles.
O que poderia aproximar a série da ficção científica é o início de uma sociedade distópica, em que poucos grupos humanos espalhados por diversas partes do planeta vão regredindo em termos de humanidade.
Os diálogos entre o grupo de cientistas e depois entre a tripulação do submarino são muito fracos. Consegue ser pior por causa da interpretação dos atores. Se em relação à ficção científica foi muito fraco, em termos de mistério, intriga e suspense, a série ganha força. Mesmo assim, não traz referências a debates importantes que estejam plenamente contextualizados e desenvolvidos.
Outro ponto muito delicado, e diz respeito ao roteiro, é no relacionamento que se desencadeou a partir de um dos episódios. Do jeito que começou tudo e foi se desenvolvendo para chegar até onde chegou, estava bastante previsível a forma como acabaria. E a parte mais apimentada desse relacionamento, talvez tenha sido meio forçado, não muito orgânico ou ainda afirmando uma objetivação dos instintos.
Se a divulgação da série afirma que é de ficção científica, faltaram bons efeitos especiais. As cenas debaixo da água, tanto quanto aos efeitos quanto ao desenvolvimento, foram muito fracas.
A série não chega a ser sofrível. Basta assistir como um tipo de thriller, de suspense, recheado de intrigas e alguma ação bem concentrada nos últimos episódios. O final deixa bastante claro que haverá uma segunda temporada. Talvez venha mais próxima da obra de Jacek Dukaj, algo que seria muito interessante e promissor em termos de ficção científica.
A série O submarino está na Netflix em 2022.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.