Operação obscura: poderia ser filme de terror, mas é outra coisa
Uma das coisas que estraga um filme é não definir o que ele quer nos mostrar. Misturar gêneros também pode ser perigoso quando não são entregues as informações básicas para isso. Pensando assim, Operação Obscura se perdeu um pouco.
Paulo Bocca Nunes
Operação Obscura teve lançamento em 2020, mas chegou na plataforma da Netflix em 2022. Uma das coisas que deve ser destacada é o título. Em inglês é Body Cam, que se refere àquela câmera pessoal que os policiais norte-americanos usam em seus uniformes na altura do peito. Sempre que eles entram em ação, eles ligam as câmeras e isso depois vai ajudar em investigações posteriores. Se fosse usado esse título também no Brasil faria muito mais sentido do que Operação Obscura que, na minha opinião, deve ter sido pela proposta dúbia, incerta e confusa do próprio roteiro e do filme, de um modo geral.
A história segue a policial Renne Lomito (Mary J. Blige) que retorna ao trabalho depois de um período se recuperando da perda de seu filho e de ter perdido o controle emocional ao agredir um civil. Ela volta ao trabalho com um novo na corporação, Danny Holledge (Natt Wolff). Na primeira noite de ronda, os dois se envolvem no mistério de um policial brutalmente assassinado. Ao verificar as câmeras que gravaram a ação do policial, Renne se depara com uma mulher e um ser aparentemente sobrenatural. Ela encontra indícios de quem seja a mulher nas imagens e vai atrás das respostas. Aos poucos, Renne vai descobrindo que há segredos na polícia que estavam sendo guardados para encobrir crimes contra civis.
QUE TIPO DE FILME É ESSE AFINAL?
Todo o filme é um equívoco, pois mistura ação policial de investigação de um crime com algo sobrenatural, que tinha a intenção de ser alguma coisa de terror. Na verdade, o filme valeu mais pelo lado investigativo de Renne do que por outra coisa que, tanto o roteirista quanto o diretor Malik Vitthal, provavelmente quiseram mostrar. Inclusive a sinopse do filme fala em algo sobrenatural que persegue os policiais.
Os elementos sobrenaturais foram simplesmente jogados no filme sem qualquer sentido, no meu entender. A mulher que estava sempre envolvida com a tal entidade sobrenatural não tinha os elementos que comprovassem a ação da entidade. Ela não era uma bruxa ou feiticeira, por exemplo. Não se mostrava alguma coisa de conspiração.
Quando a entidade sobrenatural aparecia, havia os truques muito manjados de pouca iluminação para criar um pouco de suspense e dar uns sustos no espectador ou causar um pouco de aflição. No entanto, isso não foi suficiente para dar ao filme um clima de terror.
No terceiro ato, as coisas vão ficando um pouco claras e dando indícios para onde estava indo ou qual era o problema central e as causas daquela entidade sobrenatural. Então, na minha opinião, tudo foi enfraquecendo o filme e deixando cada vez mais indefinido sobre que tipo de filme ele é.
O que salva o filme é deixar de lado a questão sobrenatural e focar na parte investigativa da policial Natte. Ela descobre que há uma conspiração dentro da corporação em que ela trabalha e aqueles que se apresentam como seus amigos, na verdade escondem segredos que podem comprometer toda a corporação, mas acima de tudo esconder crimes praticados por policiais.
A atuação de Mary Blidge é ótima e os dois conflitos caminham juntos muito bem. O primeiro é o interno da personagem que sofre pela perda de seu pequeno filho. O segundo diz respeito à investigação que ela faz, mesmo que seus parceiros e superiores digam que ela deve se manter afastada. O conflito interno afeta a personagem durante as investigações e o final, para a personagem, é o melhor possível. Isso se deixarmos de lado aquelas tais coisas sobre a tal entidade sobrenatural.
O problema dessa tal entidade é que ela não tem explicação alguma de seu surgimento. Na verdade, vamos observando no terceiro ato que é uma espécie de obsessor que busca algum tipo de vingança. Só que isso simplesmente surgiu, sem qualquer explicação.
Outro problema que deve ser registrado é o mau aproveitamento ou indefinição de alguns personagens. O parceiro de Renne, por exemplo, tem um fim trágico demais para pouco desenvolvimento. O marido de Renne tinha tudo para ser melhor desenvolvido e ter uma melhor participação. Por sinal, foi a boa atuação em seus poucos momentos que mostrou ser possível ele ter mais participação. Porém, o roteiro foi muito pobre nesse sentido e menosprezou a importância do personagem. Afinal de contas, Renne estava com traumas pela perda do filho. Seria, portanto, lógico que o marido fosse peça fundamental no desenvolvimento da personagem Renne.
Houve um estranhamento no final quando surge um personagem que pensou-se ter morrido durante a ação da tal entidade sobrenatural. A falha, nesse caso, fica por conta da direção geral e do diretor de fotografia.
Finalmente, a solução de todo o problema é devido a tal da “Body Cam” que dá nome na versão original em inglês. Deveria ter sido mantido, de alguma forma, esse título original, porém “obscura” parece ter sido bastante adequado por conta do que quiseram fazer com esse filme e em qual gênero inseri-lo.
Operação Obscura é um filme indeciso, muito mediano, com uma história que deveria ter sido focada apenas na investigação policial e no conflito de Renne. Deixando de lado as falhas de roteiro, direção geral e de fotografia é possível assistir sem quaisquer problemas ou compromissos.
Assista ao vídeo sobre esse mesmo artigo, que está no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, acione as notificações, curta o vídeo e deixe o seu comentário.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.