Os Dragões da Terra Média de Tolkien
Na obra de J.R. Tolkien, os dragões desempenham um papel fundamental na evolução dos acontecimentos da Terra Média.
Paulo Bocca Nunes
O universo criado pelo escritor britânico J.R.R. Tolkien é vasto e repleto de criaturas míticas que refletem tanto o fascínio quanto o terror que o mundo fantástico pode inspirar. Entre essas criaturas, os dragões ocupam um lugar de destaque, simbolizando o poder destrutivo e a corrupção da mente e do coração. No legendário da Terra-média, os dragões não são meramente monstros; eles são agentes de destruição e instrumentos do mal que deixam uma marca indelével nas histórias e nos personagens que encontram. Neste texto, exploraremos os dragões de Tolkien, analisando suas características, simbologia e o impacto que tiveram na narrativa épica do autor.
J.R.R. TOLKIEN E SUA OBRA
John Ronald Reuel Tolkien, nascido em 1892 na África do Sul, e educado na Inglaterra, é amplamente considerado o “pai da fantasia moderna”. Professor de Literatura Inglesa em Oxford, Tolkien construiu um dos universos mais ricos e detalhados da literatura, conhecido como a Terra-média. Suas obras mais conhecidas, O Senhor dos Anéis (publicado no Brasil primeiro entre 1974 e 1979, mas são as novas publicações entre 1991 e 1994), O Hobbit (1937) e O Silmarillion (1977), não apenas definiram o gênero da alta fantasia, mas também criaram um novo padrão de profundidade e complexidade no desenvolvimento de mundos fictícios. Seu amor por línguas antigas e mitologias nórdica e germânica inspirou muito do conteúdo e estilo de suas histórias, onde os dragões se destacam como criaturas de importância singular.
DRAGÕES PRINCIPAIS NA OBRA DE TOLKIEN
Tolkien criou alguns dos dragões mais icônicos da literatura, cada um com características e histórias únicas que contribuíram para o enriquecimento da mitologia da Terra-média.
Glaurung – O Pai dos Dragões: Glaurung é o primeiro e mais terrível dos dragões na mitologia de Tolkien. Criado por Morgoth, o primeiro Senhor do Escuro, Glaurung é um dragão sem asas, mas com uma astúcia mortal e o poder de lançar feitiços. Ele é o responsável por tragédias como a destruição de Nargothrond e a maldição de Túrin Turambar, uma das histórias mais sombrias e trágicas da Primeira Era. Glaurung não apenas incendeia e devasta, mas também manipula psicologicamente suas vítimas, tornando-o um símbolo da corrupção e da perversidade.
Ancalagon, o Negro: Considerado o maior e mais poderoso dos dragões alados, Ancalagon foi criado por Morgoth para liderar os dragões na Guerra da Ira, o conflito final da Primeira Era. Sua queda nas mãos de Eärendil marcou o fim do poder de Morgoth, mas não antes de causar uma destruição sem precedentes, destruindo as torres de Thangorodrim com sua queda. Ancalagon simboliza o poder absoluto e a ruína, sendo um dos maiores terrores já vistos na Terra-média.
Scatha, o Verme: Scatha foi um dragão que habitava as Montanhas Cinzentas, conhecido por seu tesouro vasto e por causar terror na região. Ele foi morto por Fram, um ancestral dos Rohirrim, e seu tesouro causou disputas entre os homens e os anões. Embora menos desenvolvido que Glaurung ou Ancalagon, Scatha ainda é uma figura importante, representando a ganância e a rivalidade que tais riquezas podem instigar.
Smaug, o Dourado: O dragão mais conhecido da obra de Tolkien, Smaug é o antagonista principal em O Hobbit. Ele tomou a Montanha Solitária e o tesouro dos anões, onde permaneceu por muitos anos até ser derrotado por Bilbo Bolseiro e os homens de Esgaroth. Smaug é a personificação da avareza e do orgulho, com sua imensa ganância e desprezo pelos outros seres. Sua presença no universo de Tolkien destaca a conexão entre o poder corruptor do ouro e a destruição que os dragões trazem.
SIMBOLOGIA DOS DRAGÕES NA TERRA-MÉDIA
Os dragões de Tolkien não são meramente bestas irracionais; eles são figuras carregadas de simbologia. Cada dragão criado por Tolkien serve como uma extensão do mal de Morgoth, representando a corrupção que surge do poder e da ganância desenfreada. Glaurung, com sua manipulação psicológica, simboliza a corrupção interna e a destruição da vontade humana. Ancalagon, com seu poder devastador, é uma personificação do terror absoluto e do caos. Smaug, por sua vez, exemplifica a avareza e o poder destrutivo da riqueza mal adquirida.
Através desses dragões, Tolkien explora temas profundos como a corrupção moral, a fragilidade humana diante do poder, e as consequências da ganância. Eles são mais do que monstros a serem derrotados; são manifestações do mal que pervertem e destroem tudo ao seu redor.
INFLUÊNCIAS MITOLÓGICAS E CULTURAIS
Tolkien foi fortemente influenciado pela mitologia nórdica e germânica, onde dragões são figuras recorrentes, simbolizando frequentemente a ganância e a destruição. Glaurung, por exemplo, pode ser comparado ao dragão Fafnir da mitologia nórdica, que guarda um tesouro amaldiçoado e acaba sendo derrotado por Sigurd. Da mesma forma, Smaug compartilha semelhanças com os dragões das sagas germânicas, como aqueles encontrados na Nibelungenlied.
Essas influências não apenas moldam a aparência e o comportamento dos dragões de Tolkien, mas também reforçam os temas universais de poder, corrupção e destruição presentes em sua obra.
CONCLUSÃO
Os dragões na obra de Tolkien, embora não sejam tão numerosos quanto em outros universos de fantasia, têm um impacto profundo na narrativa da Terra-média. Eles são mais do que simples antagonistas; são símbolos de forças destrutivas e corruptoras, que desafiam tanto heróis quanto vilões. Através de criaturas como Glaurung, Ancalagon e Smaug, Tolkien não apenas enriquece seu mundo fictício, mas também convida os leitores a refletirem sobre os perigos do poder absoluto, da ganância e da corrupção moral. Assim, os dragões de Tolkien permanecem como figuras lendárias e aterrorizantes, cujas histórias ecoam os mitos antigos que os inspiraram e continuam a fascinar leitores de todas as idades.
Assista ao vídeo sobre esse mesmo artigo, que está no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, acione as notificações, curta o vídeo e deixe o seu comentário.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.