Os Três Universos de Asimov em Livros
As obras de um visionário da ficção científica, Isaac Asimov, divididas em séries e em livros. Os livros estão agrupados por ano de publicação dentro de suas séries.
Paulo Bocca Nunes
Isaac Asimov, um visionário literário que transcendeu as fronteiras do tempo, deixou uma marca indelével no universo da ficção científica. Nascido em 1920, em uma era de rápidas transformações e avanços científicos, Asimov emergiu como um dos pilares do gênero, moldando o panorama da imaginação humana e influenciando gerações de leitores, escritores e criadores de mídia.
A trajetória de Asimov é um conto fascinante entrelaçado com a história da ficção científica. Seu ingresso no mundo da escrita começou em 1939, quando sua primeira história, “Marooned off Vesta“, foi publicada na revista Astounding Science Fiction. Este foi apenas o prelúdio de uma carreira prolífica que abrangeria mais de meio século, durante a qual ele produziu uma quantidade impressionante de mais de 500 livros e incontáveis contos.
O que distingue Asimov não é apenas a quantidade, mas a qualidade excepcional de sua obra. Sua mente brilhante e perspicácia científica permearam suas histórias, muitas vezes desafiando os leitores a contemplar questões éticas, sociais e filosóficas enquanto exploravam mundos futuros e tecnologias imaginárias. Ao criar a famosa tríade de séries – Robôs, Império Galáctico e Fundação – Asimov construiu uma tapeçaria interconectada de narrativas que ecoam a grandeza do espaço e a complexidade da condição humana.
A Série dos Robôs, precursora das outras duas, apresenta a integração entre humanos e robôs em um futuro onde as leis da robótica governam as interações entre as duas espécies. Ao explorar o relacionamento simbiótico e, por vezes, tenso entre criador e criatura, Asimov antecipou debates éticos sobre inteligência artificial que ecoam até os dias de hoje. Suas histórias, como “Eu, Robô“, não apenas deliciaram os leitores com enigmas científicos, mas também semearam as sementes para reflexões profundas sobre a natureza da consciência e da moralidade.
A Série do Império Galáctico ampliou o escopo, apresentando uma vasta galáxia unida sob o domínio de uma capital imperial em Trantor. Com sagas como “As Correntes do Espaço“, Asimov navegou pelas intrigas políticas e pelas forças cósmicas que moldam civilizações. Sua habilidade magistral em criar universos complexos, aliada a uma compreensão aguçada da psicologia humana, tornou cada história um épico fascinante de exploração e descoberta.
Por fim, a Série da Fundação, que valeu a Asimov o título de “Mestre das Grandes Ideias”, mergulha na previsão matemática do futuro. A Fundação, uma instituição dedicada a reduzir os milênios de caos após a queda do Império Galáctico, destaca-se como um monumento de especulação sociopolítica. Asimov desafia a crença no determinismo histórico, provocando reflexões sobre o papel do indivíduo e das massas na forja do destino coletivo.
Além das séries, Asimov deixou um legado que transcende as páginas impressas. Seu comprometimento com a divulgação científica, evidente em obras como “A Série dos Números”, demonstra uma paixão por compartilhar o conhecimento científico com o público leigo. Sua habilidade em tornar conceitos complexos acessíveis cativou leitores de todas as idades, consolidando-o como um embaixador da ciência em um mundo onde a tecnologia e a exploração espacial estavam em ascensão.
A morte de Asimov em 1992 não silenciou sua influência; ao contrário, seu legado continuou a ecoar através de adaptações cinematográficas, inspirações para novos escritores e uma base de fãs dedicada. O impacto duradouro de suas ideias é evidente em obras contemporâneas que ainda se inspiram em suas explorações pioneiras da inteligência artificial, dos destinos galácticos e das intricadas danças da política interplanetária.
Em um cenário onde o futuro muitas vezes parece incerto, Asimov permanece como um farol que ilumina os corredores do possível. Sua habilidade singular em combinar o rigor científico com narrativas envolventes pavimentou o caminho para uma compreensão mais profunda das possibilidades que o futuro pode oferecer. Como explorador da mente e do espaço, Isaac Asimov transcendeu as fronteiras da ficção científica, tornando-se um ícone que continua a guiar mentes curiosas em jornadas intergalácticas de imaginação.
As três séries de Asimov abrangem mais de 20 mil anos, começando com o conto Robbie (Eu, Robô, 1950), ambientado em 1998. O que apresentamos a seguir é uma lista das obras que fazem parte das três séries, organizadas por ano de publicação.
SÉRIE DOS ROBÔS: EXPLORANDO AS FRONTEIRAS DA CONSCIÊNCIA MECÂNICA
A série dos Robôs, inovadora obra de Isaac Asimov, mergulha nas complexidades das relações entre humanos e máquinas em um futuro distante. Nesse universo, as leis da robótica orientam as interações entre criaturas orgânicas e seus criados metálicos. Asimov, habilmente, questiona não apenas as potencialidades tecnológicas, mas também os dilemas éticos emergentes da criação de inteligências artificiais. Por meio de histórias cativantes como “Eu, Robô”, o autor desafia a percepção convencional sobre a natureza da consciência e a moralidade, construindo um terreno fértil para reflexões sobre o papel da humanidade na era das máquinas.
A série está dividida em duas partes. A primeira é composta por cinco coletâneas de contos, que foram publicados em revistas pulp fiction. Um desses contos, Brincadeira de Pegar, é o primeiro que traz as Três Leis da Robótica pela primeira vez e está no primeiro livro da lista. Uma personagem muito importante, que irá repercutir em outras obras e séries, é a psicóloga de robôs, Susan calvin.
- Eu, Robô (1950)
- Os Novos Robôs (1964)
- Nós, Robôs (1982)
- Sonhos de Robô (1986)
- Visões de Robô (1990)
SÉRIE ROBÔS – ELIJAH BALEY
A segunda lista é de quatro romances, chamada também de série Elijah Baley, um detetive, e traz um personagem muito importante para a série da Fundação: o robô Daneel Olivaw.
1. As Cavernas de Aço (1953) – Também é conhecido pelo título “Caça Aos Robôs“. Nesse romance, Asimov introduz o detetive Elijah Baley e o robô humanoide Daneel Olivaw para desvendar o assassinato de um embaixador.
2. O Sol Desvelado (1957) – Também foi publicado como “Os Robôs“. Elijah Baley e Daneel Olivaw precisam desvendar mais um mistério, dessa vez no planeta Solaria: o assassinato de um importante cientista encontrado ao lado de um robô despedaçado.
3. Os Robôs do Amanhecer (1983) – Elijah Baley é chamado no mundo Spacer de Aurora para descobrir o que levou o robô Jander Panell, idêntico a Daneel Olivaw, a ter uma pane no seu cérebro positrônico.
4. Robôs e Império (1985) – Nessa obra, Asimov descreve a transição de sua Via Láctea habitada por humanos e robôs para o Império Galáctico. Passaram-se duzentos anos da morte de Elijah Baley. Há uma forte conspiração na galáxia que obriga Daneel Olivaw e Giskard Reventlov, outro robô como Daneel, a criarem a quarta Lei da Robótica.
Também fazem parte da série “Robôs”, o conto “O Homem Bicentenário” (1976) que depois foi desenvolvido para o romance “O Homem Positrônico” (1992).
SÉRIE DO IMPÉRIO GALÁCTICO: TRAMAS CÓSMICAS E INTRIGAS POLÍTICAS
A saga do Império Galáctico expande as fronteiras do espaço e da política, transportando os leitores para um futuro onde inúmeras civilizações orbitam em torno de um centro imperial em Trantor. Em obras como “As Correntes do Espaço“, Asimov tece uma narrativa épica que entrelaça intrigas políticas, forças cósmicas e a ascensão e queda de impérios. Nesse contexto galáctico, a habilidade do autor em criar mundos complexos e personagens multifacetados destaca-se, oferecendo uma exploração fascinante da interseção entre poder, sociedade e as forças que moldam o destino de civilizações em uma escala cósmica.
As obras que fazem parte dessa série e o ano de publicação de cada uma estão relacionadas abaixo:
1. Pedra No Céu (1950) – também foi publicado como “827 Era Galáctica“. No ano 1949, Joseph Schwartz é vítima de uma acidente nuclear de laboratório que o leva séculos no futuro, no ano de 827 Era Galáctica. A Terra é uma planeta radioativo e não é reconhecido como o planeta de origem da humanidade e está no centro de uma conspiração contra o Império galáctico.
2. Poeira de Estrelas (1951) – a história se passa muitos séculos antes do romance anterior. Um jovem estudante do planeta Nephelos vem estudar na Terra e acaba envolvido em uma conspiração galáctica depois que seu pai foi morto pelos tiranianos.
3. As Correntes do espaço (1952) – Os poderosos do planeta Sark enriquecem à custa de Florina, um planeta vizinho. Rik é um homem sem memória e sem passado que trabalha em uma fábrica no planeta Florina. Ele será importante para decifrar as correntes do espaço.
SÉRIE DA FUNDAÇÃO
A terceira série é uma saga espacial que inspirou muitos autores e roteiristas de ficção científica. A Série da Fundação transporta-nos para um futuro em que a matemática torna-se a ferramenta fundamental para prever o curso da história em uma galáxia vasta e em constante transformação. A Fundação, uma instituição dedicada a guiar a humanidade através dos milênios de caos após a queda do Império Galáctico, destaca-se como uma epopeia de especulação sociopolítica. Asimov desafia concepções de determinismo histórico, explorando o papel do indivíduo e das massas na forja do destino coletivo. Com obras como “Prelúdio à Fundação” e “Fundação”, o autor oferece uma visão profunda das possibilidades e desafios enfrentados por sociedades em busca de estabilidade em um cosmos em constante evolução.
1. Fundação (1951) – Hari Seldon usa a ciência da psico história e prevê a queda do Império galáctico e idealiza uma Fundação que irá restabelecer a ordem na galáxia. O livro abrange em torno de cem anos de história.
2. Fundação e Império (1952) – O Império se mobiliza contra a Fundação, mas a sua queda é uma realidade. Surge o personagem O Mulo que irá vencer o Império e a Fundação.
3. Segunda Fundação (1953) – O Mulo é vencido, mas a Fundação descobre que há uma Segunda Fundação composta por mentálicos e sai à sua procura para derrotá-la.
4. Limites da Fundação (1982) – Passaram-se quinhentos anos da Fundação em terminus. Golan Trevize acredita que a Segunda Fundação não foi derrotada. Ele é acusado de traição e condenado a encontrá-la. Mas, junto com Pelorat, ele está decidido a encontrar a lendária Terra, origem de toda a humanidade da galáxia.
5. Fundação e Terra (1986) – Trevize e Pelorat descobrem a Terra, mas eles encontras respostas importantes no seu satélite. Ao chegar à Lua, eles encontram um robô que tem acompanhado a história da humanidade durante milhares de anos e conduzindo o plano de Hari Seldon.
6. Prelúdio à Fundação (1988) – A história se passa antes do primeiro romance, Fundação. Seldon e sua companheira, Dors Venabili, se empenham em desenvolver a psico história. Os dois são perseguidos pelo Imperador, mas estão sob a proteção de Chetter Hummin.
7. Origens da Fundação (1993) – A história se passa oito anos após. Seldon já desenvolveu a psicohistória e a aplica em escala galáctica. Sendo se envolve em tramas políticas e sua saúde se deteriora. Ele instrui sua neta, Wanda, para a criação da Segunda Fundação.
CONCLUSÃO
Ao observarmos a distribuição dessas obras em séries somos levados a crer que o autor desprendeu uma energia muito grande para organizar tudo, de modo coeso e entrelaçado. O fato é que Asimov foi moldando toda a sua obra ao longo dos anos e a cada obra publicada. Isso sem contar que Asimov ficou um longo tempo sem publicar livros de ficção. Somente uma mente privilegiada e preparada cientificamente poderia conduzir com maestria cada livro que escreveu.
Também é importante destacar que cada série não foi escrita de uma só vez. Os livros foram sendo escritos e publicados de forma intercalada. Em outros casos, livros pertencentes a uma série foram publicados no mesmo ano de outro livro de série diferente. É o caso de as obras da série do Império quase coincidirem com o romance Fundação. Da mesma forma, temos o exemplo de Robôs e Império e Fundação e Terra. Esses dois romances trazem um personagem que é fundamental para a trajetória cósmica da humanidade pela galáxia. Tudo entrelaçado de forma coesa e com maestria.
Em suma, Asimov se constitui em um grande mestre da ficção científica também conhecida como hard, ou difícil. Suas obras trazem complexas reflexões sobre a natureza humana e as questões éticas e morais do uso da inteligência artificial. A visão de futuro de Asimov coloca o ser humano dentro dos mesmos conflitos que havia em seu tempo de escritor, como é o caso ainda hoje. Para o autor, o ser humano se constitui em algo único, mudando apenas o espaço físico, seja na Terra, um planeta ou entre Poeira de Estrelas.
Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.