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Profecia do Inferno: O Mundo é Um Caos

Três anos após causar um verdadeiro furor na Netflix, Hellbound retorna para uma segunda temporada ainda mais sombria, política e impactante. Criada por Yeon Sang-ho, diretor do aclamado Invasão Zumbi (Train to Busan), a série coreana aprofunda as consequências do colapso moral e social iniciado quando entidades sobrenaturais começaram a enviar humanos para o inferno em espetaculares manifestações públicas. Mas se a primeira temporada já havia feito uma crítica feroz à manipulação religiosa e ao pânico coletivo, a segunda vai ainda mais fundo: o verdadeiro inferno está na Terra — e dentro de nós.

A nova temporada se passa quatro anos após os eventos da anterior. A sociedade está mais fraturada do que nunca, com três forças principais disputando o controle da narrativa e, claro, do poder:

  • A Nova Verdade, antigo culto religioso, agora sobrevive à sombra de seu líder morto, Jung Jin-su, e tenta se manter relevante sob o comando de Kim Jeong-chil.
  • A Ponta de Flecha, braço extremista, transforma o fanatismo em violência explícita, purificando o mundo dos “pecadores”.
  • Sodo, organização fundada por Min Hye-jin, antes uma resistência heroica, começa a se corromper e agir com os mesmos vícios das instituições que combate.

A figura de Jae-hyeon, a primeira sobrevivente de uma manifestação, é símbolo de esperança e de desconforto. Isolada desde bebê por Sodo, ela é tratada como objeto sagrado, mas privada de afeto. Esse contraste já mostra um dos principais dilemas da temporada: quando até os “mocinhos” perdem a humanidade em nome de um ideal, há ainda salvação?

Dois eventos sobrenaturais mudam tudo: a ressurreição de Park Jung-ja e, mais impactante, a de Jung Jin-su. Enquanto Jung-ja tenta retomar uma vida comum, mesmo traumatizada, Jin-su volta obcecado por respostas. O homem que pregava a justiça divina é agora consumido por seus próprios demônios — literalmente.

A série é brilhante ao mostrar como a experiência do inferno muda cada um de maneira distinta. Para Jung-ja, o inferno parece ter purificado. Para Jin-su, ele apenas revelou a escuridão interior. “Os executores não estão atrás de você. Eles estão dentro de você”, diz Jung-ja — uma das falas mais simbólicas de toda a temporada.

Um dos destaques da nova temporada é a Secretária Sênior Lee, personagem inédita interpretada por Moon So-ri. Ela representa o poder político que vê no caos uma oportunidade de controle. Com frieza e cálculo, Lee manipula os dois lados da disputa (Nova Verdade e Sodo) para manter a ordem — ou o que restou dela.

Sua lógica é clara: se o mundo está condenado, alguém precisa manter as rédeas. Para isso, ela precisa de Park Jung-ja como prova viva da doutrina. Mas tudo se complica quando Jin-su volta à cena, forçando cada personagem a confrontar não apenas o que acredita, mas quem se tornou.

Sem entregar todos os detalhes, o desfecho é intenso e profundamente simbólico. Jin-su, agora uma figura monstruosa, é consumido pelos executores que trazia dentro de si. Já Hye-jin, a única que tenta salvar sua alma, representa o fio de humanidade que ainda resta em um mundo mergulhado no desespero. Ao transmitir tudo ao vivo, a série fecha um ciclo: a verdade não pode mais ser escondida. Mas o que fazer com ela?

Hellbound continua sendo uma das séries mais ousadas da nova onda coreana. Mais do que terror sobrenatural, ela é um estudo sobre fé, culpa, poder e humanidade. Em um mundo onde o inferno é real, a questão que resta é: o que você vai fazer com a sua segunda chance?

A segunda temporada foi boa, no entanto ficou um pouco abaixo da primeira temporada. Houve mais interesse em tratar de questões políticas do que explicar os mistérios que encerraram a primeira temporada.

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