Steampunk: O Gênero a Vapor da Ficção Científica
O Steampunk, também chamado de tecnovapor, é um dos subgêneros da ficção científica e atualmente é bastante popular com sua tecnologia e vestimentas ambientadas na Era Vitoriana.
Paulo Bocca Nunes
O Steampunk é um fascinante subgênero da ficção científica que combina elementos futuristas imaginados no século XIX com a estética e a tecnologia da era vitoriana. Esse estilo distinto tem suas raízes na literatura, mas expandiu-se para diversas formas de mídia, incluindo filmes, séries, jogos e até mesmo moda.
A palavra “steampunk” é uma junção de “steam” (vapor, em inglês) e “punk”, e a essência desse gênero reside na reinvenção de um mundo movido a vapor. Ambientado geralmente durante a Revolução Industrial do século XIX, o steampunk transporta elementos dessa época para um contexto futurista alternativo, onde a tecnologia a vapor é a força propulsora de máquinas extraordinárias.
No universo steampunk, as engrenagens, válvulas e tubulações de vapor coexistem com a elegância da era vitoriana. As cidades são retratadas como imponentes metrópoles cheias de engenhocas engenhosas, dirigíveis majestosos pairando nos céus e automóveis movidos a vapor percorrendo ruas pavimentadas com pedras.
Literariamente, o steampunk floresceu com obras notáveis como “A Máquina do Tempo”, de H.G. Wells, e “Vinte Mil Léguas Submarinas”, de Júlio Verne, que influenciaram o desenvolvimento do gênero. No entanto, o movimento steampunk moderno ganhou força nas últimas décadas com autores contemporâneos como Philip Pullman, China Miéville e Scott Westerfeld, que incorporaram elementos steampunk em suas narrativas.
Além da literatura, o steampunk conquistou seu espaço no cinema, com filmes como “Wild Wild West” e “Sherlock Holmes” explorando mundos alternativos ricos em engenhocas movidas a vapor e intrigas vitorianas. Em séries, destaca-se “The Wild Wild West”, que mescla elementos de espionagem e ficção científica em um ambiente steampunk.
No âmbito visual, a moda steampunk é uma expressão artística por si só. Vestimentas que remetem à elegância da era vitoriana são combinadas com acessórios futuristas, como óculos de proteção, luvas adornadas com engrenagens e ornamentos exuberantes. Os entusiastas do steampunk muitas vezes participam de eventos temáticos onde podem exibir suas criações e celebrar a estética única desse subgênero.
Em resumo, o steampunk é uma fusão intrigante de passado e futuro, onde a imaginação é livre para reinventar a história. Seja na literatura, no cinema, na moda ou em eventos dedicados, o steampunk continua a cativar a imaginação dos apaixonados por ficção científica, oferecendo uma visão alternativa e fascinante do que poderia ter sido o progresso tecnológico em uma era vitoriana movida a vapor.
ORIGENS DO STEAMPUNK
As raízes do Steampunk remontam ao final do século XIX, período em que a tecnologia a vapor estava em pleno desenvolvimento e a era vitoriana estava no auge. A literatura de ficção científica da época já explorava as possibilidades da tecnologia a vapor, como, por exemplo, A Máquina do Tempo, de H.G. Wells, publicada em 1895.
A ficção steampunk gira em torno de uma tecnologia real, teórica ou cinemática da era vitoriana (1837-1901), inclusive motores a vapor, aparelhos mecânicos, e a Máquina diferencial. Muitas obras são ambientadas também em cenários medievais, ou caminham por domínios do terror e da fantasia. Há elementos de sociedades secretas e teorias conspiratórias ou até mesmo de fantasia.
Apesar de haver muitas obras consideradas hoje como sendo de ficção científica, produzidas e publicadas no século XIX e serem consideradas ou rotuladas como sendo steampunk, elas eram obras contemporâneas da sua época. O gênero que está se falando é uma “criação” do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, e suas ambientações no século XIX.
Podemos entender que, as histórias de Mary Shelley, Júlio Verne, Albert Robida (1848-1916), H.G. Wells e Mark Twain, entre outros, influenciaram as obras steampunk dos anos finais do século XX. Outros autores, como Edward S. Ellis (1840-1916) e Luis Senarens (1863-1939) criaram personagens que usavam veículos tecnologicamente avançados movidos a vapor em aventuras através dos Estados Unidos e do mundo. Portanto, o que aconteceu foi que vários autores começaram a escrever ficção científica no século XIX dentro de um universo futurista para a sua época.
O termo “Steampunk” só foi apresentado em 1987, por K.W. Jeter, autor de ficção científica e amigo de Tim Powers e James Blaylock, outros dois autores importantes do gênero. Jeter usou o termo para descrever seu próprio trabalho, que era uma mistura de ficção científica, fantasia e romance histórico, situado em um mundo vitoriano alternativo. Em uma carta para a revista de ficção científica Locus, impressa na edição de abril de 1987, Jeter escreveu:
Caro Locus… Em anexo está uma cópia do meu romance de 1979, Morlock Night ; Eu apreciaria a gentileza de encaminhá-lo para Faren Miller, pois é uma evidência primordial no grande debate sobre quem no “triunvirato de fantasia Powers/Blaylock/Jeter” estava escrevendo da “maneira gonzo-histórica ” primeiro. Embora, é claro, eu tenha achado a resenha dela no March Locus bastante lisonjeira. Pessoalmente, acho que as fantasias vitorianas serão a próxima grande coisa, desde que possamos criar um termo coletivo adequado para Powers, Blaylock e eu. Algo baseado na tecnologia apropriada da época; como “steampunk”, talvez…
Foi somente em 1997 que surgiu o primeiro uso da palavra “steampunk” em um título: Steampunk Trilogy, de Paul Di Filippo. Consistem em três romances curtos: “Victoria“, “Hottentots” e “Walt and Emily“. Todos ambientados em 1838, 1850 e 1860.
OBRAS LITERÁRIAS IMPORTANTES DO STEAMPUNK
- Os Portais de Anubis (The Anubis Gates, 1983), de Tim Powers. Embora não seja estritamente um romance de Steampunk, “The Anubis Gates” apresenta elementos do gênero em sua descrição de um viajante do tempo que é levado para a Inglaterra do século XIX.
- Homúnculo (Homunculus, 1986), de James P. Blaylock. “Homúnculo” se passa em uma Londres alternativa no início do século XX, onde a tecnologia a vapor coexiste com a magia.
- A Máquina Diferencial (The Difference Engine 1990), de William Gibson e Bruce Sterling. Considerado um dos primeiros romances de Steampunk, “The Difference Engine” se passa em uma realidade alternativa em que Charles Babbage foi capaz de construir sua máquina analítica no século XIX, levando a um mundo dominado pela tecnologia a vapor.
- Estação Perdido (Perdido Street Station” (2000), de China Miéville. Situado em uma cidade fictícia que mistura elementos vitorianos e contemporâneos, Estação Perdido apresenta uma grande variedade de personagens, incluindo cientistas, artistas e criminosos.
- Leviathan (2009), de Scott Westerfeld. Ambientado em um cenário alternativo da Primeira Guerra Mundial, Leviathan apresenta uma batalha entre a Alemanha, que usa tecnologia a vapor, e a Grã-Bretanha, que usa criaturas mecânicas gigantes.
- Boneshaker (2009), de Cherie Priest. Situado em uma cidade sitiada por uma praga que transforma as pessoas em zumbis, “Boneshaker” segue uma mãe e seu filho enquanto tentam encontrar o pai da criança em um submundo de túneis subterrâneos.
- The Iron Duke (2010), de Meljean Brook. Situado em um mundo alternativo em que a Inglaterra foi invadida por zumbis, “The Iron Duke” segue o capitão da Marinha britânica, que é chamado para investigar uma conspiração perigosa. Ele acaba se unindo a uma rebelde conhecida como Mina Wentworth, que possui um segredo que pode mudar o curso da história. Com elementos de romance e aventura, “The Iron Duke” é uma leitura emocionante para os fãs de Steampunk.
FILMES E SÉRIES STEAMPUNK
O Steampunk também se tornou popular no cinema e na televisão, com muitos filmes e séries incorporando elementos do gênero em suas histórias e visual. Aqui estão alguns exemplos notáveis:
- Wild Wild West (1999). Filme de ação e aventura, estrelado por Will Smith e Kevin Kline, é ambientado na década de 1860 e apresenta tecnologia a vapor, robôs gigantes e muita ação.
- A Liga Extraordinária (2003). Filme é baseado na série de quadrinhos de Alan Moore e apresenta um grupo de personagens literários do final do século XIX, incluindo o Capitão Nemo, Allan Quatermain e o Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
- Sherlock Holmes (2009). Este filme estrelado por Robert Downey Jr. e Jude Law apresenta uma versão Steampunk do famoso detetive, com armas a vapor e gadgets tecnológicos.
- Hugo (2011). Este filme de Martin Scorsese é baseado no livro “A Invenção de Hugo Cabret“, de Brian Selznick, e apresenta um mundo Steampunk. A história segue um menino que vive sozinho na estação ferroviária Gare Montparnasse em Paris na década de 1930. Ele se envolve em um mistério de um autômato de seu falecido pai e o cineasta pioneiro Georges Méliès.
- Steampunk’d (2015). Esta série de televisão é um reality show de competição que apresenta artesãos que criam objetos Steampunk, como roupas, móveis e acessórios.
Entre os filmes que retratam este gênero apresentados logo acima, a Liga Extraordinária parece ser a mais conhecida e considerada bastante representativa, apesar das críticsa quando do seu lançamento nos cinemas. Muitos analistas consideram um filme bobo e inexpressivo, mas o grande destaque fica para o grupo formado por personagens icônicos da literatura do século XIX que foi convocada para enfrentar uma perigosa conspiraçao mundial.
Outro destaque fica para o filme “Wild Wild West”, que foi baseado em uma série de TV com quatro temporadas entre 1965 e 1969. No Brasil, a série foi chamada de James West e reunia os gêneros de faroeste, espionagem e ficção científica. O elenco tinha os atores Robert Conrad (James West) e Ross Martin (Artemus Gordon). A missão dos dois agentes era proteger o presidente dos Estados Unidos de todo tipo de ameaça. Eles viajavam em um trem todo equipado, o Wanderer, inclusive com um laboratório. Em 1999 foi lançado o filme baseado na série e se chamou no Brasil de “As Loucas Aventuras de James West”. O elenco conta com Will Smith como James West e Kelvin Klaine como Artemus Gordon. O filme seguiu o mesmo formato da série, contudo foi bastante criticado.
CONCLUSÃO
O Steampunk é um gênero literário fascinante e visualmente impressionante que se tornou popular nas últimas décadas. Com suas raízes na era vitoriana e na tecnologia a vapor, o Steampunk oferece uma visão alternativa do mundo que cativou muitos fãs ao longo dos anos. Desde romances até filmes e séries de TV, o Steampunk continua a inspirar e entreter, provando que há muito mais a ser descoberto em um mundo movido a vapor.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.