Tolkien vs. Martin: Batalha de Dragões
Os dragões são figuras do imaginário desde a própria existência humana. Em dois universos ficcionais, de J.R.R. Tolkien e George Martin, essas criaturas receberam status de personalidades próprias de personagens protagonistas.
Paulo Boca Nunes
Os universos fantásticos de J.R.R. Tolkien e George R.R. Martin são vastos, ricos em mitologias e habitados por criaturas que desafiam a imaginação. Entre essas criaturas, os dragões ocupam um lugar de destaque, embora sejam representados de maneiras distintas em cada um desses mundos. Nos escritos de Tolkien, os dragões são figuras arquetípicas de poder e destruição, símbolos de corrupção moral. Já em As Crônicas de Gelo e Fogo de Martin, eles são armas de guerra, instrumentos de poder político e elementos centrais nas lutas pelo controle do Trono de Ferro. Este texto explora as diferenças e semelhanças na representação dos dragões nesses dois universos, analisando seu papel narrativo, simbologia e impacto nas respectivas histórias.
J.R.R. TOLKIEN E GEORGE R.R. MARTIN
John Ronald Reuel Tolkien, conhecido como o “pai da fantasia moderna”, foi um filólogo e escritor britânico cuja obra mais famosa, O Senhor dos Anéis, se tornou uma referência no gênero da alta fantasia. Tolkien construiu um universo complexo e detalhado, onde os dragões representam a corrupção e a decadência moral, sendo antagonistas poderosos nas histórias da Terra-média.
George Raymond Richard Martin, por sua vez, é um autor contemporâneo americano, cujas obras em As Crônicas de Gelo e Fogo trazem uma visão mais sombria e realista da fantasia. Os dragões de Martin são mais do que criaturas míticas; são símbolos de poder bruto e elementos chave na intriga política de Westeros. Martin, frequentemente comparado a Tolkien, constrói um mundo onde a magia e a brutalidade se entrelaçam, e onde os dragões são, literalmente, os motores da história.
DRAGÕES NOS MUNDOS DE TOLKIEN E MARTIN
Nos dois universos, os dragões são seres imponentes e poderosos, mas suas características e papéis nas histórias diferem significativamente.
Tolkien: Em O Hobbit e O Silmarillion, os dragões são antigos, maliciosos e diretamente associados ao mal primordial da Terra-média, personificado por Morgoth. Smaug, o dragão mais conhecido, é uma criatura de orgulho e avareza, cujo desejo insaciável por ouro causa a queda de reinos e a morte de heróis. Outros dragões, como Glaurung e Ancalagon, são igualmente terríveis, utilizando tanto a força bruta quanto a manipulação psicológica para alcançar seus objetivos. Esses dragões são raros e quase míticos, representando a corrupção que o poder absoluto pode infligir.
Martin: Em Westeros e Essos, os dragões são criaturas antigas ressuscitadas pela Casa Targaryen. Eles não são simplesmente monstros, mas sim armas de guerra capazes de mudar o curso de batalhas e reinos. Drogon, Rhaegal e Viserion, os três dragões de Daenerys Targaryen, são representações do poder dos Targaryen e são essenciais em sua luta pelo Trono de Ferro. Diferente dos dragões de Tolkien, que atuam como agentes do mal e da corrupção, os dragões de Martin são mais ambíguos moralmente, sendo tanto destruidores quanto salvadores, dependendo de quem os controla.
SIMBOLOGIA E PAPEL NARRATIVO DOS DRAGÕES
Nos mundos de Tolkien e Martin, os dragões desempenham papéis cruciais, mas com significados simbólicos diferentes.
Tolkien: Os dragões de Tolkien simbolizam a corrupção, a avareza e o poder destrutivo do mal. Smaug, em particular, personifica a ganância desmedida e o impacto devastador que ela pode ter sobre civilizações inteiras. O poder dos dragões está intrinsecamente ligado ao mal, e eles servem como advertências sobre os perigos do desejo por poder absoluto.
Martin: Em contraste, os dragões de Martin representam o poder bruto e o potencial de mudança. Eles são tanto ferramentas de destruição quanto de criação, dependendo de quem os controla. Na narrativa de Martin, os dragões são símbolos do legado e do poder dos Targaryen, refletindo o caos e a imprevisibilidade do mundo de Westeros. Eles são armas poderosas, mas sua moralidade é ambígua, dependendo do contexto em que são usados.
INFLUÊNCIAS MITOLÓGICAS E CULTURAIS
Ambos os autores se inspiraram em mitologias antigas ao criar seus dragões, mas o fizeram de maneiras que refletem seus mundos narrativos únicos.
Tolkien: Inspirado pela mitologia nórdica e anglo-saxã, Tolkien modelou seus dragões após figuras como Fafnir, o dragão que guarda um tesouro amaldiçoado. Seus dragões são símbolos de ruína e decadência, alinhados com o mal maior que ameaça a Terra-média.
Martin: Embora Martin também incorpore elementos da mitologia clássica, seus dragões são mais influenciados pela história real de armas de guerra e criaturas mitológicas que servem a propósitos práticos. Eles refletem uma visão mais pragmática e menos moralista da fantasia, onde o poder pode ser tanto uma força de criação quanto de destruição, dependendo de quem o empunha.
CONCLUSÃO
Os dragões nos universos de Tolkien e George R.R. Martin são criaturas extraordinárias que, embora compartilhem algumas semelhanças, desempenham papeis muito diferentes em suas respectivas narrativas. Enquanto os dragões de Tolkien são figuras de corrupção e poder maligno, os de Martin são ferramentas de guerra, instrumentos de poder e símbolos de legado. Ambos os autores usam essas criaturas para explorar temas profundos sobre a natureza do poder, a corrupção e as consequências do desejo por domínio, oferecendo aos leitores visões contrastantes, mas igualmente fascinantes, de como a fantasia pode refletir e amplificar os dilemas da realidade.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.