Silo: Primeira Temporada Empolgante
Chegou ao fim a primeira temporada de “Silo”, na Apple TV. A plataforma está provando que pode competir com outras gigantes do streaming.
Paulo Bocca Nunes
A série Silo é uma produção norte-americana dramática de ficção científica distópica, criada por Graham Yost, baseada em uma trilogia de romances do autor Hugh Howey. O primeiro teaser despertou o interesse muito em vista de outras séries da plataforma, como Extrapolations, Invasion e Foundation. A expectativa pela série foi aumentando à medida que sites especializados foram divulgando as primeiras impressões, muito pelos releases divulgados pela plataforma e tambeḿ por conta dos livros.
O primeiro episódio já situa o espectador para toda a história. Uma construção gigantesca encravada no subsolo com 144 níveis e onde vivem cerca de dez mil pessoas. Ninguém sabe quem construiu o silo, nem por que ou quando. Todos os registros e informações sobre o passado do Silo foram destruídos depois de uma rebelião dentro do Silo 140 anos atrás.
Qualquer objeto que pudesse ser relacionado ao passado, era chamado de “relíquia” e deveria ser entregue ao xerife ou ao judicial para ser destruído. Quem for pego com uma dessas relíquias, sofre dura punição. A mais grave é ser enviado a sair do Silo para limpar as lentes das câmeras que mostram o exterior em telões posicionados em determinados lugares do Silo. O mundo externo, que todos vêem, é uma terra arrasada, desértica, sombria e perigosa, inacessível e inabitável para os humanos.
Todos vivem em um sistema político e social rígido. Ninguém pode questionar o sistema ou fazer qualquer tipo de indagação sobre o que tem fora do Silo. Porém, três pessoas passam a questionar a necessidade de desvendar esse mistério: Allison Becker e seu marido, o xerife Holston Becker, e a engenheira Juliette Nichols.
Allison e Holston têm um fim trágico. Porém, Juliete se empenha nas investigações e vai descobrindo coisas importantes sobre o Silo que podem comprometer pessoas importantes e todo o sistema dentro do Silo. Ela descobre que há uma perigosa rede de intrigas, conspirações e mistérios muito mais séria do que poderia imaginar. E isso tudo pode levá-la a sofrer represálias bastante duras.
Todo o ambiente de Silo é sombrio, quase sem cores, o que contribuiu para uma atmosfera sufocante, opressiva e de mistério. Cada pessoa tem a sua função dentro do Silo e deve cumprir suas tarefas de forma precisa para que tudo funcione perfeitamente, mantendo a segurança do Silo e de todas as pessoas que ali vivem.
O governo é exercido por uma prefeita, mesmo que o judicial se constitua em um poder paralelo, quase superior. Essa diferença fica bastante clara quando a prefeita sai eventualmente de sua sala para caminhar entre alguns níveis, enquanto a juíza nunca sai. Apenas o seu assessor, Sims, um agente de controle de todo o sistema dentro do Silo frequentemente circula entre os níveis.
Em relação aos personagens, a série foi envolvente. Mesmo os personagens secundários são muito importantes para amarrar toda a trama. Cada um traz uma história que está envolvida com algo relacionado ao grande mistério do Silo. O detalhe é que tudo não é contado na sua íntegra, no entanto vai sendo entregue em pequenas doses. Como o Silo é um mistério que envolve o apagamento de seu passado, as histórias de seus personagens não são claras, o que chega a ser coerente com o enredo.
Lukas, que passa horas à noite observando os telões que mostram as estrelas, mas não faz ideia do que são aquelas luzes. Martha, que conserta objetos, mas que sofre de agorafobia e não sai de sua residência há mais de vinte anos. George é um especialista em equipamentos eletrônicos e se torna o amante de Juliette. Esses e outros personagens têm participações precisas dentro da trama, mesmo não sendo amplamente desenvolvidos.
Personagens com personalidades dúbias, como o pai de Juliette, que é médico e traz consigo uma forte culpa pela morte da esposa. A escolha de Juliette em ser engenheira em vez de seguir a profissão do pai, e depois a sua trajetória como a xerife do Silo. O sistema que controla ou autoriza os casais a terem filhos também envolve uma série de mistérios. Alguns casais não podem ter filhos por motivos totalmente diferentes de fertilidade, mas está relacionado a questões familiares e até políticas.
Tudo é controlado e deve seguir um documento criado após a rebelião, 140 anos antes, e conhecido como o Pacto. O sistema social, político e judicial era rigidamente estabelecido para que todos sigam as regras de convívio. A taxa de natalidade é rigidamente controlada e somente um casal pode ter filhos depois de um estudo rigoroso por parte das autoridades. Não existem muitas explicações para a negação da maternidade. As pessoas devem apenas seguir as decisões sem qualquer questionamento.
Mortes misteriosas, descobertas surpreendentes, traições, jogo de intrigas e conspirações fazem o conjunto de toda a trama pegar fogo à medida que os episódios vão se desenvolvendo. O Silo se constitui em uma panela de pressão cada vez mais perigosa e pronta a explodir, guardando uma secreta disputa pelo poder que envolve a prefeita, o xerife, a juíza, seu assessor e o chefe do setor de tecnologia.
Cada evento parece ser apenas algo para ganhar tempo ou encher a tela de alguma ação para levar até o último episódio. No entanto, tudo vai se encaixando à medida que nos perguntamos por que tal coisa aconteceu, pois aparentemente era algo menor dentro da trama. Um exemplo, é o simples caso de uma fita térmica que ajudou a desvendar um dos mistérios do Silo. Exatamente esse mistério parcialmente solucionado é o grande gancho para a segunda temporada.
A série Silo passou a ser uma grande surpresa pela qualidade dos cenários, pelas ambientações dos níveis e das habitações individuais dos seus habitantes. Não há efeitos especiais mirabolantes, pois o que funciona é exatamente o espaço interno de Silo, opressor e controlador.
Toda a vida em Silo funciona movido por um imenso gerador. Depois de tantos anos de funcionamento, ele passa a apresentar defeitos. Isso gera uma forte tensão e traz outras perguntas sobre os Construtores.
Os dois últimos episódios são usados para responder a cada pergunta e fazer outros questionamentos: quem serão os verdadeiros vilões? Será que a decisão de manter o segredo sobre o passado não foi realmente a correta? Haveria alguém que sabe toda a história do Silo e deve preparar outra pessoa para seguir com o segredo? Por quê? No último episódio, Juliette acaba descobrindo outro segredo assustador que permanece escondido de todos. Mas, será que mais alguém sabe desse segredo?
A segunda temporada já está confirmada e deverá trazer as respostas a essas perguntas e, certamente, a outras que surgirão.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.