FILMES E SÉRIES DE TV

Intrusion

Filme de suspense que chegou na plataforma da Netflix em setembro de 2021. Mas, será que vale a pena?

Por Paulo Bocca Nunes

A Netflix tem se destacado em sempre trazer uma variedade muito grande de filmes e séries em sua plataforma. Algumas surpresas muito boas, outras ficam apenas na expectativa a partir de um trailer bem melhor produzido do que o próprio filme. Creio que em Intrusion podemos encontrar um exemplo disso.

O filme tem a direção de Adam Salky e a história é sobre um casal que se muda para uma casa nova, em um lugar bastante afastado do centro de uma pequena cidade. A mulher, Meera, é uma terapeuta que saiu há pouco tempo de um tratamento para o câncer de mama e o marido, Henry, um arquiteto renomado, faz de tudo para dar a ela uma vida confortável. Tudo parecia ir muito bem até que, certa noite, a casa é invadida. Na verdade, nenhum dos invasores está roubando nada, mas parece estar procurando por algo.

O marido reage usando uma arma que a mulher não sabia da sua existência dentro de casa. A partir daí a vida dos dois muda radicalmente. O xerife local inicia as investigações e descobre que um dos invasores é pai de uma garota que desapareceu recentemente. Muito desconfiada pelo marido ter escondido uma arma em casa sem que ela soubesse, Meera passa a observar Henry mais de perto.

À medida que o filme vai se desenvolvendo, Meera vai descobrindo segredos de Henry que ela nunca poderia imaginar e que a casa, mesmo sendo nova e recém construída, tem muitos segredos guardados.

A história pode ter algum suspense, mas ele se dissolve em muitas partes para se tornar algo já previsível ou, o que eu considero pior, entrega gratuita de boa parte do filme.

A trama fica meio confusa em determinado momento e um tanto chata. Os acontecimentos se movimentam em torno do casal, mas ao invés de afetar aos dois, parece que deixa apenas Meera um tanto neurótica com a história da invasão. O marido nem se importa, mesmo ele tendo usado uma arma na noite da invasão. Ele se mostra muito tranquilo. Uma atitude bastante estranha para Meera. Exatamente por isso que o filme vai perdendo a graça. Tudo vai apontando para o marido, mesmo que não se saiba o que exatamente. Só que o comportamento dele passa a ser de alguém que não quer esconder a suspeita sobre si mesmo. O comportamento bem típico de um psicopata: calmo e frio.

Meera vai investigando o Henry e à medida em que mexe em suas coisas do escritório dele, descobre uns vídeos e um endereço. Então, ela sai para fazer buscas em um bairro muito pobre distante da casa em busca de respostas. Essa é uma das partes mais incômodas para mim. Ela chega em um carrão, com todo um estilo de quem não pertence àquele tipo de lugar e ninguém surge para estranhar a sua presença. Ou melhor, apenas um sujeito que tem uma função, somente uma função: dar uma chegada em Meera pra saber o que ela quer ali. Mais nada e mais ninguém. Eu vejo isso como meio falso.

Meera acaba encontrando ligações com o desaparecimento da garota. Só que no momento das investigações, que estão no segundo ato, transcorrem de forma muito simplista. Outros personagens vão surgindo só para dizer algumas coisas que serão usadas para dar mais uma empurrada na trama. Um exemplo disso é o xerife encontrar Meera em um estacionamento, diz algumas coisas que a deixam intrigada e sai. Coisa bem típica de personagem “tele-entrega”: entrou, disse algo e saiu.

O final, eu não vejo como surpreendente, pois chega um momento que tudo já está claro bem antes. Só que ficou algo extremamente superficial sabermos o que levou ao desaparecimento da garota e os motivos de quem fez isso e o porquê. No meu entendimento, as reações de Meera, usando até de uma forte brutalidade, no final do terceiro ato, ser algo que não vejo justificativa e foi meio forçado, como do tipo “Tudo bem, um filme desse tipo sempre termina mais ou menos assim mesmo”.

A atuação de Freida Pinto, que interpreta Meera, parece ser do tipo que não está presente. É apenas uma pessoa que está ali na frente das câmeras, com um figurino e com um texto decorado. Para ela ter aquela reação lá no final, deveria se mostrar muito mais dela para que tudo se justificasse. Mas, não…! Vejo um grande desperdício de talento. Ela poderia dar muito mais como personagem.

Vamos fazer um raciocínio… Meera veio de um tratamento de câncer de mama e isso deve ter deixado o casal bastante abalado. Não se vê algo que mostre uma alteração das personalidades ou das motivações internas nos dois que pudesse nos dar as razões de um e outro ser assim ou assado. E sempre deixo bem claro: essas coisas são para serem MOSTRADAS e não contadas. Cinema e teatro é para MOSTRAR e não contar.

Logan Marshall-Green não me convence como marido atencioso e cuidadoso com a mulher. A calma dele não me parece ser de um homem que tenta dar uma vida sem preocupações para a mulher. Chega um determinado do filme que as suas atitudes são de alguém que esconde algo, que não sabemos o que é, age de forma a não deixar dúvidas que quer atropelar quem quer que se atravesse em sua frente.

Quando Meera passa a fazer perguntas a ele, seu tom de voz começa a mostrar e a indicar que ele tem feito coisas bastante erradas e às escondidas. Nem mesmo as ações dele ao final se justificam, pois nada é mostrado para que possamos acreditar em tudo o que ele faz.

Algumas intervenções de personagens secundários são muito forçadas. Como é o caso do xerife conforme eu já falei. Todas essas coisas, na verdade, são falhas de roteiro. Se nem os personagens principais tem um mínimo de profundidade, o que dizer dos secundários? Seria exigir demais.

No final do terceiro ato, como já falei, tem uma sequência que leva para um fechamento simplista, apressado, com muita conversa que ficaria muito melhor se tivesse mostrado antes, bem antes e ainda assim não me convenceu. Felizmente, não se percebe qualquer justificativa para uma continuação.

Creio que o filme, de um modo geral, foi um desperdício, pois a trama tinha tudo para ser mais desenvolvida, principalmente no caso das motivações internas dos personagens.

Assista ao vídeo sobre esse mesmo artigo, que está no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, acione as notificações, curta o vídeo e deixe o seu comentário.

Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.