Terra à deriva: ou uma nave interestelar?
Os países asiáticos buscam confrontar os blockbusters norte-americanos no cinema, especificamente a ficção científica. Mas, o que dizer de um filme que mostra a Terra ser uma nave espacial?
Paulo Bocca Nunes
Liu Qui é um rapaz com índole rebelde e impetuoso, que não aceita a distância do pai, mesmo que o motivo seja de ordem superior e extremamente importante para toda a humanidade. Nem mesmo os cuidados de seu avô são suficientes para aplacar essa inconformidade do rapaz. Liu Qui não se conforma em se manter em uma das cidades subterrâneas e sem poder ir à superfície. Então, quebrando todas as regras, ele e a garota Han Doudou fazem incursões pela superfície e os personagens se envolvem de forma dramática em situações que colocam o planeta peregrino em perigo, principalmente quando, devido a problemas nos propulsores, há uma perigosa aproximação com o planeta Júpiter.
O enredo e a história são bastante interessantes, no entanto há alguns aspectos que se constituem em algo um pouco previsível: o conflito entre pai e filho, sendo esse o rebelde que quebra todas as regras e se transforma em um membro importante para salvar o mundo. O final é um tanto arrastado para enfatizar o aspecto dramático de uma situação desesperadora e é necessário haver um sacrifício para salvar a humanidade de seu trágico destino.
Um aspecto interessante é que, diferente das produções hollywoodianas, são os chineses que se apresentam como os salvadores da humanidade. Não poderia ser diferente, pois a produção chinesa levaria, certamente, para esse lado.
O filme traz uma mistura de subgênero do cinema: catástrofe, ficção científica, suspense, ação e drama. Tudo fica misturado sem dar ênfase mais a um do que a outro. De qualquer forma, se esperava um final dramático, afinal a história trata de uma operação bastante complexa que envolve toda a humanidade na busca pela sobrevivência. Cabia sabermos a quem caberia o sacrifício final e como isso ocorreria.
Podem ser apresentadas críticas sobre esse filme, no entanto, é preciso destacar que podemos encontrar qualidade na produção. Cenografia, figurinos, fotografia e os efeitos especiais não deixam a desejar a qualquer blockbuster de ficção científica de Hollywood. O desempenho dos atores pode ser destacado, mesmo que não estejamos acostumados ao tipo de perfil de atores orientais. Até mesmo deve-se dar bom crédito à Netflix por trazer ao seu catálogo produções de vários países, algo que responde a uma tentativa bastante boa de diversidade cultural.
Mesmo para um filme de ficção científica, a base de toda a trama é bastante pretensiosa, ou seja, mover a Terra para além de sua órbita e levá-la para outro sistema solar. Podem ser questionados como será feito para garantir os recursos para fazer funcionar os propulsores e tornar essa ficção um pouco plausível. No entanto, o filme já se constitui em um marco no cinema oriental, especificamente o chinês e marca presença mundial no cinema.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.