Vida: Um Alien Solto Numa estação espacial

Um filme de 2017 e disponível na Netflix reúne um time da pesada no elenco representando uma diversidade cultural interessante, mas tudo se dissolve na trama.

Paulo Bocca Nunes

Quando Alien, O Oitavo Passageiro chegou às telas em 1979, o roteirista Dan O’Bannon pensou em um thriller de terror espacial e o filme, que foi dirigido por Ridley Scott acabou por se tornar um dos clássicos do cinema de ficção científica. O filme era menos baseado na hard science fiction e muito mais na trama de um alien solto em uma espaçonave, que se desenvolve, cresce e persegue os tripulantes um a um.

Em Vida, o roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick está cheio de detalhes científicos, um cientista paraplégico que faz experiências com uma amostra de vida que foi pega em Marte e, finalmente, um alien perigoso solto em uma estação espacial que caça os tripulantes um a um. Tudo traz consigo uma porção de detalhes e conceitos científicos.

Outro detalhe nesse filme de 2017 é a multidiversidade cultural e étnica. As histórias de cada um vão sendo entregues ao longo do filme. Mas tudo não se constitui em muita relevância para as tomadas de decisões de cada um quando o alien passa a ser uma forte ameaça para a estação e toda a tripulação. 

SOBRE O FILME

Em um futuro indefinido, uma estação espacial está em órbita distante da Terra e atua como um laboratório de pesquisas científicas. Sua tripulação é composta por seis astronautas de diferentes nacionalidades. Uma nave automatizada está prestes a chegar de Marte após um longo voo. A tripulação deve capturar essa nave e resgatar uma espécie de mala, inspecionar e analisar o seu conteúdo e assim evitar que qualquer tipo de bactéria chegue à Terra. Mas, para espanto e entusiasmo de todos, a tripulação descobre que dentro da poeira está o que parece ser um minúsculo organismo unicelular vivo. 

Com experimentos feitos pelo cientista Hugh Derry (Ariyon Bakare) por meio dos equipamentos da própria estação espacial, ele desperta o ser unicelular. A descoberta é muito comemorada pela tripulação por ser a primeira forma de vida encontrada fora da Terra. Um concurso mundial elege o nome da nova forma de vida: Calvin. 

De forma bastante rápida, Calvin vai se desenvolvendo, ganhando novas células e mostrando uma capacidade de adaptação incrível a todo tipo de situação. Consegue se esgueirar por espaços minúsculos, como um polvo, ou ficar sem respirar por longos períodos de tempo e até mesmo sobreviver no vácuo. Calvin vai caçando cada um dos tripulantes que fazem de tudo para eliminar a criatura e evitar que ela alcance a Terra. O final pode ser surpreendente, mas é muito previsível a partir do momento em que a decisão final é tomada. 

O QUE É O FILME

Seguindo a ideia de um thriller de terror espacial, um alienígena fica solto em uma nave ou estação espacial e toca o terror. A equipe em si é internacional e diversificada: os patrocinadores da missão são descritos como “americanos, russos e chineses”, embora isso possa ser apenas uma descrição dos territórios de mercado-alvo do filme. Jake Gyllenhaal é o quieto e introspectivo Dr. David Jordan, Ryan Reynolds interpreta o temperamental e ferozmente leal membro da tripulação Roy Adams, que é um bom amigo do cientista-chefe Dr. Hugh Derry, interpretado por Ariyon Bakare. Rebecca Ferguson interpreta a médica supervisora Dra.Miranda North e Olga Dihovnichnaya é outra cientista, Katarina Golovkin.

Ao contrário do filme Alien (1979), em que a perseguição ou fuga do alienígena solto na nave era em gravidade normal e as ações mais intensas, em Vida a gravidade zero da estação espacial contribui muito para a tensão e suspense nos momentos em que alguém precisa escapar de Calvin. Compartimentos apertados, portas de segurança batendo, escotilhas em que os integrantes se olham nos olhos antes de serem eliminados por Calvin ou alguém se prender dentro de um tubo criogênico e vendo a criatura se esgueirar pelo vidro buscando uma forma de entrar fazem o espectador prender a respiração.

A direção de Daniel Espinosa é eficiente para lidar com nomes de peso e entregar um resultado satisfatório. O roteiro de Reese e Wernick não aprofunda algumas abordagens trazidas pelos personagens. Ao colocar um astronauta sírio que se acostumou ao espaço e prefere viver nesse ambiente do que voltar à Terra, poderia ser dada um pouco mais de profundidade. Em contraponto, quase no final do final do filme, um livro de histórias infantis provoca uma reflexão filosófica em um dos personagens.

A ideia de um cientista paraplégico na estação espacial, pode não ser algo original, mas também poderia ir um pouco mais longe do que apenas colocar um personagem nessas condições para dar uma maior dramaticidade à trama.

Os atores Gyllenhaal e Reynolds fizeram uma boa parceria e quase deram um apagão nos outros atores, mais pelo nome do que pelo destaque em suas interpretações. Rebecca Ferguson mostra competência que a levou a ser a protagonista da série Silo, da Apple TV, em 2023.

Vida está disponível na Netflix até o momento em que este artigo foi escrito.

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.