FILMES E SÉRIES DE TV

Alerta Vermelho – sinal verde para o filme?

Um dos maiores investimentos da gigante do dtreaming em 2021, dividiu a opinião. A produção toruxe os astros Dwayne Johnson, Gal Gadot e Ryan Reinolds. O que se pode falar desse filme?

Por Paulo Bocca Nunes

A Netflix está mostrando cada vez mais que tem condições de disputar com os principais estúdios norte-americanos nas produções de filmes e séries. Alerta Vermelho era para ser lançado pela Universal Pictures em 2020, mas como não concordou com o orçamento (olha só… com o orçamento!), caiu fora e a Netflix assumiu tudo. O lançamento foi primeiro no cinema e pouco depois na plataforma.

O roteiro e a direção são de Rawson Marshall Thurber. No elenco estão os astros de filmes de super-heróis e de ação Dwayne Johnson, Gal Gadot e Ryan Reinolds.

Com um orçamento de mais de 200 milhões de dólares sendo que 20 milhões para cada um dos protagonistas, a produção recebeu o título de uma das mais caras da Netflix.

A trama é simples e sem muitas novidades. O super agente do FBI John Hartley (Dwayne Johnson) comanda uma caçada ao maior de ladrão de obras de arte do planeta, Nolan Booth (Ryan Reynolds). As informações que levaram ao criminoso vieram do seu maior concorrente, um ladrão conhecido apenas como Bispo.

Na verdade, tudo não passa de uma armação para incriminar o policial Hartley e tirar Booth de circulação, enquanto o Bispo (Gal Gadot) vai em busca do objeto que irá o fará ser o maior ladrão do mundo: três ovos de ouro que foram presenteados a Cleópatra pelo general romano, Marco Antônio, e são considerados perdidos.

A partir daí, o filme passa a ser uma verdadeira caça ao tesouro, com prisões, fugas espetaculares, mistérios que envolvem história e mapas, viagens por várias partes do planeta. Nessa correria, Hartley e Booth fazem uma parceria que leva tudo para a comédia, mas seguindo com ação e aventura.

Quando o Bispo se apresenta aos dois fugitivos que vão atrás dos ovos de ouro, ela se mostra ardilosa, mais esperta que os dois juntos e sempre está um ou dois passos à frente deles.

De uma forma geral, Alerta Vermelho tem umas pitadas de Missão Impossível e Indiana Jones, sem muito compromisso com verossimilhanças ou preocupação com improbabilidades. O final é muito surpreendente e até parece não estar muito de acordo com o que o filme mostrou o tempo todo. Porém, são mostradas algumas coisas que, se não estivéssemos tão atentos ao desempenho previsível de cada um dos astros, talvez teriam sido previsíveis.

Alguns aspectos poderiam ter recebido mais atenção para não se tornarem tão grotescos. Um deles diz respeito às coordenadas que indicavam a possível localização do terceiro ovo de ouro de Cleópatra. O público brasileiro percebeu que, ao invés de ser na Argentina, como foi dito no filme, na verdade as coordenadas são de uma cidade no interior do Rio Grande do Sul, portanto, no Brasil.

Quando Hartley e Booth estão em busca do lugar indicado pelas coordenadas, os dois estão atravessando uma floresta tropical ou algo parecido com a Mata Atlântica que fica no Brasil. O problema é que o bioma de Argentina, Uruguai e sul do Brasil é o Pampa, com características muito diferentes da Mata Atlântica ou das florestas tropicais.

A direção foi eficiente, mas nem um pouco luxuosa. O roteirista e diretor Thurber inspirou-se em tudo o que o gênero já produziu, convidou astros de Hollywood para os personagens principais e assim garantir um resultado que compensasse o roteiro muito básico.

Para provar que Thurber bebeu de fontes muito bem conhecidas, há uma referência aos nazistas na posse desse mesmo ovo de ouro, durante e ao final da Segunda Guerra Mundial. Algo bem Indiana Jones.

Os três protagonistas do filme foram a garantia de que tudo seria divertido.

Ryan Reynolds sendo Ryan Reynolds… é o sujeito da situação que vai terminar com alguma coisa engraçada, o sujeito da piadinha, do sujeito que faz a carinha preparada de quem é o sujeito inocente e ingênuo, mas que faz isso pra se dar bem. O tipo do cara que é o esperto com carinha de bobinho.

Dwayne Johnson sendo Dwayne Johnson, ou seja, aquele grandão musculoso que bate pra caramba nos bandidos e na polícia e faz uma cara marrenta pra mostrar que é um sujeito sério e de poucas brincadeiras, mas fala as coisas sérias que mais parecem uma piada.

Os dois atores fizeram o que o roteiro queria: uma dupla com habilidades diferentes, que interpretassem tipos opostos, mas que se completassem. Tudo com ares de comédia. 

Gal Gadot sendo Gal Gadot. Convenhamos… ela é uma mulher muito bonita. Tem um sorriso encantador. Olhos meigos e cativantes. Podemos dizer que é, sim, uma Mulher Maravilha! Mas… até agora não se viu uma interpretação para se dizer: “Oh, vejam, ela sabe construir um personagem com profundidade!”.

A sua personagem é a ladra que sempre aparece nos momentos mais inesperados e das formas mais estranhas, mas isso não chega a ser inverossímil ou inexplicável. Se olharmos com atenção, as suas entradas fazem sentido, mesmo que vejamos isso alguns minutos depois. As cenas de ação sempre tem aquele sorriso meigo, sereno, tranquilo, maroto, de gente boa. Nada de ironias ácidas ou olhares mortais. O roteiro permitiu que os três dessem ao espectador exatamente aquilo que se esperava deles. E, na minha opinião, conseguiram fazer bem.

O elenco secundário, basicamente, a investigadora Urvashi, interpretada por Ritu Arya, merecia mais destaque, pois sempre que ela aparece, o filme se justifica como sendo de ação e aventura. Os outros que fazem pequenas aparições, não comprometem e até dão bom suporte para que os protagonistas levem a história ao final.

As cenas de perseguições, fugas e correrias são exatamente como se espera de um filme desse gênero e ainda com comédia. O roteiro não é ruim. Não traz novidades ou aprofundamentos. Muita coisa requentada em outros filmes já produzidos. Filme para um balde grande de pipoca. As locações deram um brilho ao filme. A fotografia, portanto, é boa, mas aquele detalhe para a floresta tropical na Argentina foi de lascar! Os efeitos especiais são o suficiente para o filme funcionar.

Uma curiosidade foi a avaliação Rotten Tomatoes. Enquanto o Tomatômetro teve 35%, uma avaliação baixa, a audiência foi de 92%.

Por que a crítica não gostou? Porque os protagonistas não fizeram o que os críticos gostam: criar personagens marcantes, com o psicológico abalado e afetando todas as suas ações. Não tiveram aqueles conflitos internos que movem os personagens às mudanças mais profundas do ser!

Por que o público gostou? Porque todo mundo conhece e sabe o que cada um dos atores irão fazer e o tipo de personagens. E público quer… diversão! Simples assim!

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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.