Em Ruínas: pancadaria pós-apocalíptica
As produções sul-coreanas investem em mais um filme de ficção científica pós-apocalíptica. A participação de Ma Dong-seok garante uma pancadaria com ação intensa e insana, mesmo que não seja o melhor filme do gênero.
Paulo Bocca Nunes
A ficção pós-apocalíptica, em especial em seu formato de filmes ou séries, tem sido valorizada na cultura pop devido à sua versatilidade em ir além da estética distópica e da ação selvagem para revelar e retratar a depravação da sociedade face à adversidade, onde o interesse pela sobrevivência está acima de questões morais e éticas, até mesmo sobre a própria condição de humanidade.
Os filmes sul-coreanos que tem dominado as plataformas de streaming, especialmente a Netflix, têm deixado a sua marca nesse aspecto e colocado a indústria cinematográfica da Coreia do Sul no cenário mundial. Com produções bem executadas, elencos competentes, roteiros e direções ousadas em muitas obras, faz com que o público busque cada vez mais esse tipo de entretenimento.
O filme dirigido por Heo Myung Haeng, Em Ruínas, de 2024, segue a cartilha de uma trama envolvente em que um personagem busca resolver uma situação limite em que um antagonista está prestes a acabar com o pouco que resta de organização dentro de uma sociedade totalmente, ou quase, destruída. Tudo com muita ação, tiroteio, pancadaria, reviravoltas e finais que podem deixar um fio solto para uma continuação.
SOBRE A HISTÓRIA
Em Ruínas inicia com um grande terremoto devastando Seul. Um cientista, Yang Gi-su, tenta terminar a sua pesquisa que envolve uma droga aplicada em seres humanos. Logo em seguida, há uma panorâmica sobre uma cidade, ou o que restou dela, e o jovem caçador, Choi Ji-Wan, busca caçar um enorme jacaré. A empreitada dá certo quando outro caçador, Nam San, mais experiente, completa o serviço. A partir daí vamos conhecendo uma comunidade que se desdobra para se manter viva. A grande dificuldade é conseguir água minimamente potável e qualquer forma de alimento. Quem tem algum objeto de valor, consegue trocar por alimento e água.
Na sequência, um bando de desordeiros chega no local para saquear os suprimentos que houver. Porém, Nan-San, dá uma surra nos bandidos e salva a comunidade. A partir daí, temos ação que envolve facções de criminosos, um poderoso e louco cientista, Yang Gi-su, que faz pesquisa com um medicamento que promete resolver os maiores problemas do ser humano.
Enquanto Yang Gi-su faz seus experimentos macabros, Nan San se empenha em salvar a jovem adolescente Han Su-na, que foi levada ao último prédio em condições de abrigar pessoas, com acesso à água e alimentos, e é controlado pelo cientista.
É interessante ressaltar que Em Ruínas é uma sequela de Os Sobreviventes – Depois do Terremoto. O prédio em que se passa toda a ação principal do filme é o mesmo prédio desse filme, que segue um casal que vive em um prédio que se manteve em pé depois de um grande terremoto.
UMA VISÃO SOBRE O FILME
Em Ruínas apresenta uma ação desenfreada e intensa, com muitas lutas precisamente coreografadas, exatamente como são os filmes de ação coreanos. A sequência em que o jovem Ji-wan tenta caçar um crocodilo nas ruas devastadas de Seul, e a intervenção de Nan-San, já é um prenúncio do que virá nas cenas a seguir.
A cenografia buscou apresentar um cenário de uma cidade devastada por um cataclisma e tornando a sociedade totalmente desestruturada. As comunidades não possuem uma liderança específica, mas aqueles que são mais bem preparados para enfrentar os saqueadores são respeitados e vistos como uma espécie de líderes.
Há vários elementos de outros filmes como, por exemplo, apocalipse zombie, Mad Max e até um Frankenstein, quando vemos que os objetivos do doutor Yang Gi-su. Esse faz um experimento macabro com a própria filha, morta no terremoto que destruiu Seul.
As sequências de resgate da jovem Han Su-na são o ponto alto do filme. Os experimentos de Yang Gi-su causam um efeito em todas as pessoas que receberam a dose da droga criada por ele, infectando pessoas e as tornando uma espécie de zumbis. Mais lutas, tiroteios e cabeças explodindo.
Não há uma evolução interessante de personagens nesse filme. Há uma ação se desenvolvendo em torno de um resgate e o enfrentamento contra um inimigo perigoso e poderoso, o cientista Yang Gi-su. O problema é que se buscou um caminho muito fácil para esse personagem, um cientista com ares de louco e obsessivo pela sua causa. Uma mente quase doentia para ainda tentar salvar a sua filha, mas que dela pouco resta.
Há algumas alegorias: o protagonista heroico que faz de tudo para cumprir a sua missão, mesmo não sendo o príncipe encantado; a jovem garota frágil da qual o cientista louco tenta extrair o vital de sua vida para salvar a vida da filha já morta. paralelo a tudo isso, tanto Nan-san quanto o seu ajudante atrapalhado, cumprem o lado cômico. Até mesmo durante as lutas em que envolvem o exército do cientista louco.
Como diversão e entretenimento, Em Ruínas cumpre a sua missão. Não se pode esperar, no entanto, uma sequência desse filme. O filme está disponível na Netflix.
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Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.