LITERATURA DISTÓPICA

Laranja Mecânica: A Violência Como Reflexo da Sociedade

Um grande sucesso nos anos de 1970. Um filme que entrou para a Cultura Pop e balançou as estruturas da sociedade e da crítica.

Paulo Bocca Nunes

Laranja Mecânica” é uma obra literária de grande importância e influência na literatura, no cinema e na cultura pop. Escrito pelo britânico Anthony Burgess em 1962, o livro retrata a história de Alex, um jovem delinquente que, após ser preso, é submetido a um tratamento experimental para reprimir seus impulsos violentos. A obra é conhecida por sua linguagem inventada, o “nadsat”, que mistura inglês, russo e gírias juvenis, além de seu retrato incisivo da violência juvenil e sua relação com a sociedade.

DESENVOLVIMENTO

    Para entender a importância de “Laranja Mecânica“, é importante analisar o contexto histórico e social em que foi escrito. A década de 60 foi marcada por uma série de transformações sociais e culturais, incluindo a luta pelos direitos civis, o movimento feminista e a contestação ao autoritarismo. Além disso, houve um aumento da violência urbana, especialmente entre os jovens, o que levou a um aumento da repressão policial e à adoção de medidas mais severas de punição.

      Uma das características mais marcantes de “Laranja Mecânica” é a sua linguagem inventada, o “nadsat”. Essa linguagem é composta por uma mistura de inglês, russo e gírias juvenis, e serve para criar uma distância entre o leitor e a narrativa, bem como para mostrar a alienação dos jovens em relação à sociedade. Além disso, a linguagem é uma forma de resistência à autoridade, pois impede que os adultos entendam o que os jovens estão dizendo.

        A violência é um tema central em “Laranja Mecânica“. O livro retrata a violência juvenil como um reflexo da sociedade em que vivemos, que é marcada pela desigualdade, pela opressão e pelo autoritarismo. Além disso, a obra mostra como a violência é muitas vezes incentivada pela mídia e pela cultura popular, o que leva os jovens a adotarem comportamentos violentos como forma de rebeldia.

          Laranja Mecânica” é considerado um clássico da literatura moderna e tem sido uma fonte de inspiração para muitos escritores. A linguagem inventada e a abordagem da violência juvenil influenciaram obras como “Trainspotting“, de Irvine Welsh, e “Jogos Vorazes“, de Suzanne Collins. Além disso, a obra foi responsável por popularizar o uso de gírias juvenis na literatura, o que se tornou uma característica marcante da literatura pós-moderna.

            Em 1971, “Laranja Mecânica” foi adaptado para o cinema pelo diretor Stanley Kubrick. O filme se tornou um clássico instantâneo e é considerado uma das obras-primas do cinema. A adaptação de Kubrick foi elogiada por sua fidelidade ao livro, bem como pela sua abordagem visual arrojada e sua trilha sonora icônica. O filme de Kubrick manteve a linguagem inventada do livro, o que ajudou a criar a atmosfera de alienação e distanciamento da narrativa. Além disso, o filme trouxe uma abordagem visualmente impactante para a violência, com cenas memoráveis como a famosa cena em que Alex e seus comparsas invadem a casa de uma vítima e a cena em que Alex é submetido ao tratamento experimental. A trilha sonora, composta por músicas clássicas como “Sinfonia nº 9 de Beethoven” e “William Tell Overture de Rossini“, ajudou a dar um tom irônico e satírico ao filme.

            Laranja Mecânica” também teve uma grande influência na cultura pop. A imagem de Alex usando um chapéu coco e maquiagem branca se tornou um ícone da cultura pop e inspirou inúmeras referências em filmes, programas de TV, videoclipes e moda. Além disso, a obra influenciou a criação de personagens icônicos como o Coringa, de Batman, e Alex DeLarge, de A Clockwork Orange, de Kubrick.

            O FILME E AS POLÊMICAS

            A obra é considerada uma das mais icônicas do cinema, tanto pela sua linguagem visual arrojada, quanto por sua trilha sonora memorável e suas cenas fortes, que são uma marca registrada da obra.

            Uma das cenas mais controversas do filme é a que retrata a violência sexual. A cena em questão ocorre quando Alex e seus companheiros invadem a casa de uma vítima, onde eles abusam sexualmente de uma mulher enquanto seu marido é forçado a assistir. A cena é uma representação gráfica da violência sexual e da brutalidade, e é um dos momentos mais desconfortáveis do filme.

            No entanto, uma das curiosidades do filme é o uso da chamada “bolinha preta” nas cenas de sexo. Kubrick teve que lidar com a censura em várias partes do mundo, o que o levou a tomar algumas decisões inusitadas. Para contornar a censura em alguns países, ele utilizou uma técnica conhecida como “bolinha preta”, que consistia em colocar uma marca escura sobre a imagem das partes genitais dos atores durante as cenas de sexo.

            Essa técnica, embora possa parecer estranha, permitiu que o filme fosse exibido em vários países sem ser censurado ou banido. Ainda assim, o uso da bolinha preta não diminui a força das cenas de sexo do filme, que continuam a ser intensas e impactantes.

            Além das cenas de violência sexual, “Laranja Mecânica” é conhecido por sua abordagem visualmente arrojada e sua trilha sonora icônica, que ajudaram a dar ao filme seu status de obra-prima. A combinação de música clássica com imagens violentas e surrealistas criou um contraste forte e chocante que se tornou uma marca registrada do filme.

            Outra cena que é frequentemente mencionada pelos críticos é a que retrata o tratamento experimental de Alex. Essa cena mostra o personagem principal sendo submetido a uma técnica de condicionamento que supostamente o tornará incapaz de cometer atos de violência. A cena é visualmente perturbadora, com Alex sendo imobilizado em uma cadeira e tendo seus olhos forçados a assistir a imagens violentas enquanto recebe choques elétricos.

            Essa cena foi uma das mais difíceis de filmar, com o ator Malcolm McDowell, que interpreta Alex, sendo obrigado a manter os olhos abertos enquanto recebe os choques elétricos. Essa cena é um exemplo da coragem e do comprometimento do diretor e do elenco com a obra, e ajudou a tornar “Laranja Mecânica” um filme que é lembrado até hoje.

            CONCLUSÃO

            Laranja Mecânica” é uma obra literária que transcende o tempo e o espaço. Escrito em 1962, o livro continua a ser uma fonte de inspiração para escritores, cineastas e artistas em todo o mundo. A obra aborda temas universais como a violência, a alienação e a resistência à autoridade, e mostra como esses temas são reflexos da sociedade em que vivemos. A linguagem inventada do livro, a adaptação cinematográfica de Kubrick e a influência na cultura pop são exemplos da importância duradoura dessa obra-prima da literatura moderna.

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            Paulo Bocca Nunes é professor de Língua Portuguesa e Literatura. Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade. Especialista em Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira. Especialista em Cultura Indígena e Afro-brasileira. Escritor. Contador de histórias.